Foi recolhido nas praias de Esposende, em 2018, boa parte do plástico que entra na composição das solas do calçado que há de chegar às lojas já em agosto, resultante de uma parceria entre a empresa portuguesa Zouri e a norte-americana O"Neill.
Há dois anos que a Zouri produz calçado com solas de plástico, tendo já recolhido 4,5 toneladas de resíduos ao longo do litoral, mas, depois de contactada pela O"Niell, - assinala Adriana Mano, fundadora da marca - "a parceria vem multiplicar o impacto, quer em volume retirado do mar quer na quantidade de produto novo que chegará ao mercado".
Com as duas marcas afixadas lado a lado, a nova linha de calçado terá 12 modelos únicos e vai ser comercializada em 10 mercados europeus, em lojas físicas mas também online. Do compromisso mútuo, resultou a intenção de um "percurso de sólida continuidade, esperando as duas marcas retirar dos oceanos, em conjunto, 50 toneladas em dois anos".
À empresa norte-americana coube a tarefa de desenvolver os modelos e à Zouri a responsabilidade de identificar os materiais e assegurar a produção, através de várias parcerias com empresas portuguesas processadoras de plásticos, produtoras de solas e de calçado. A própria Universidade do Minho participou no projeto para desenvolver a sola, numa fase inicial do processo.
"O primeiro parceiro foi a Câmara Municipal de Esposende. Todos os anos, a câmara promove em março/abril uma recolha de lixo em toda a costa do concelho, com a participação de várias escolas, de organizações e de voluntários. Nessa primeira ação recolheram-se 1,5 toneladas", recorda Adriana Mano.
Ela própria uma ativista pelo ambiente, a empresária reconhece que "há muitas ações de limpeza das praias, mas depois, a grande questão é saber o que fazer com os detritos. Com a agravante de nem todos os plásticos serem recicláveis, aliás, a maior parte que é retirada do mar, não o é". Por esse motivo - prossegue - "a intenção foi encontrar uma via mais adequada: a reutilização!"
As ações de recolha no terreno envolvem também alunos, sobretudo da pré-escola e do primeiro ciclo, uma circunstância que, pelo impacto na comunidade e por se tratar de uma inovação na área da economia circular, já valeu à empresa vários prémios, entre os quais, o prémio Inovação Social, do Banco Europeu de Investimentos.
"Precisamos de significado na nossa vida", justifica Adriana Mano. "Quando compro um produto faço o meu voto. Posso escolher votar num modelo mais consciente e melhor para o futuro do mundo. Posso querer tornar possível o respeito pelo outro. Se calhar, não precisamos de comprar tantas coisas".
Parcerias com a Docapesca
Mais recentemente, a empresa estabeleceu parcerias com a Bandeira Azul e com a Docapesca, neste último caso, "sãos os pescadores que vão recolher os plásticos em alto mar" e a ação iniciou-se com a Docapesca de Viana do Castelo. Em perspetiva estão parcerias com a de Cascais e a de Ericeira. Em todos os casos, a Zouri encarrega-se do transporte e tratamento prévio (triagem e corte) dos resíduos para posterior trituração.
Adriana Mano criou a empresa em novembro de 2018, mas as primeiras vendas só ocorreram em janeiro de 2019. A parceria com a O"Neill triunfou depois de ter conseguido que a marca norte-americana, também ligada à proteção dos oceanos, aceitasse certas exigências que até aí nenhuma outra empresa aceitara.
Uma das premissas era que a produção fosse local, neste caso, em Portugal, em segundo lugar, que todos os materiais usados no calçado fossem sustentáveis - "Com estas premissas, é muito difícil ser competitivo nos mercados, mas a O"Neill aceitou", congratula-se a empresária.