Eram caixas e caixas espalhadas pelo recinto da Altice Arena, com equipas de trabalhadores afogueados a ultimar a montagem do Moche XL Games World, que no dia seguinte abria portas aos milhares de gamers que se juntaram no recinto do Parque das Nações para assistir ao evento de jogos eletrónicos. Foi apenas uma das 150 iniciativas que decorreram na Altice Arena num ano em que as receitas diretas do turismo de negócios, 4,7 milhões de euros, superaram pela primeira vez as dos eventos ao vivo (a rondar quatro milhões). Neste ano, a Altice Arena estima fechar com cerca de 18 milhões de euros de receitas totais e um milhão de visitantes.
Um resultado em linha com o do ano anterior, que era difícil igualar. “Tivemos um 2018 com eventos extraordinários: em 53 anos, Portugal só recebeu uma vez o Festival da Eurovisão, houve o Diamond Jubilee (para a comunidade de Aga Khan), nove dias consecutivos de grandes eventos para 53 mil pessoas. Achámos que seria difícil manter esse registo”, admite Jorge Vinha da Silva, CEO da Altice Arena.
Só o Festival da Eurovisão ocupou o recinto durante 42 dias consecutivos, envolvendo 500 pessoas sob a sua responsabilidade direta - num total de três mil colaboradores ligados ao festival. Os números são expressivos: 43 delegações, 40 dias de preparação no local, 255 camiões. “É um acontecimento com visibilidade planetária, tem o triplo da audiência do Super Bowl [final da competição de futebol americano da NFL]”, destaca. “E foi considerado um dos melhores festivais pela European Broadcasting Union, apesar de ter o menor orçamento dos últimos 15 anos porque foi aproveitada uma estrutura que já existia. Tivemos muito orgulho em ser o parceiro primordial da RTP para a produção.”
Sem Eurovisão, o desafio era gigante. “Felizmente, 2019 acabou por ser muito parecido e até com probabilidade de superar um pouquinho o ano passado. Em termos globais, vamos estar ao mesmo nível das receitas, em torno dos 18 milhões, mas conseguimos tornar a operação mais eficiente.”
Um fenómeno de violino deu uma grande ajuda. André Rieu “tinha estado há mais de 20 anos (em Portugal) e nem sequer encheu a sala. Na última década e meia tornou-se um fenómeno mundial. Em 2019 realizámos 13 concertos só de Rieu e esgotámos todos”. Feitas as contas, 164 mil pessoas foram ao recinto para ver o violinista.
“Entre concertos e eventos corporativos deveremos ultrapassar um milhão de visitantes. E na área dos espetáculos deveremos estar muito próximos de superar as 700 mil pessoas no final do ano.”
Aposta no corporate
Foi do lado do turismo de negócios que surgiu a maior novidade. “Apostamos muito na área do meeting industry, que passa pela criação de uma rede de contactos internacionais, pela utilização de parceiros que funcionam como embaixadores, e estamos presentes com a nossa equipa comercial em dezenas de eventos e nos mercados de origem para fazer captação”, descreve. Resultado? Pela primeira vez, as receitas diretas do turismo de negócios superaram a dos espetáculos: 4,7 milhões de euros vs. 4 milhões.
Um crescimento que beneficia da imagem que o destino Portugal tem vindo a ganhar. “Cada vez que organizamos um grande evento em Portugal com sucesso ou revelamos a nossa capacidade organizativa, quem vem tem vontade de voltar e isso acabará por se traduzir em investimento das empresas”, defende. “A imagem que o país projeta no exterior é altamente relevante na vontade que todas as entidades têm de trazer eventos para Portugal e na forma como olham para o país. Temos um storytelling riquíssimo e muita coisa boa para mostrar.”
Em 2018, de acordo com a Associação Internacional de Congressos e Incentivos (ICCA), Portugal ocupa a sétima posição no ranking europeu dos países que mais recebem e organizam congressos e convenções, e a 11.ª no ranking mundial (ver caixa). Lisboa está no top 10 mundial e europeu e, neste segmento, a Altice Arena acaba por ser um parceiro relevante: cerca de 60 eventos e 300 mil visitantes só em turismo de negócios.
Todos os anos, a empresa investe em média 300 mil euros na manutenção das condições operacionais do espaço. Uma aposta reforçada nos últimos três, quando foram investidos 650 mil euros adicionais para melhorar as condições acústicas dos espetáculos ao vivo (250 mil euros), na grelha técnica no teto do pavilhão (150 mil euros), bem como na implementação de uma solução que permite montar miniauditórios insonorizados para a área corporate (250 mil euros). Neste ano foi mais meio milhão só para a melhoria das casas de banho e a criação de quatro novos camarotes (passam a 38).
E adicionar novas salas? A Viseu Arena - com quem a empresa estabeleceu um protocolo há três anos - lançou em agosto o concurso internacional para requalificação. Serão “10 a 11 meses de intervenção no espaço” e concluído esse processo assumem a gestão - o que poderá acontecer em 2021.