Cavaco Silva diz que o país está amordaçado e de facto assim parece. Tivemos recentemente direito a uma carta dos vigilantes do respeitinho a exigir (imagine-se, exigir!) contenção à comunicação social, explicando-nos o que eles "admitem" e "não admitem" ser o trabalho dos jornalistas.
Ora, a pandemia já nos tirou muitas liberdades (demasiadas), mas não suspendeu a democracia nem a liberdade de expressão (como prova a tal carta). Do que sofremos, sim, é de um Estado omnipresente que nos torna dependentes do poder político. O que talvez explique a carta... Por isso precisamos, como de pão para a boca, de uma sociedade civil verdadeiramente autónoma, exigente e inconformista.
Não bastam media livres, não basta termos direitos, é preciso mais. Precisamos de não ser pobres para exercermos a nossa liberdade na sua plenitude. De criar riqueza, de mais economia, iniciativa privada e liberdade económica. Infelizmente temos uma cultura estatizante, vivemos sob um Estado centralizador que nos põe dependentes das mercês régias e do beija-mão. Sempre de mão estendida, à espera da benesse do subsídio, do emprego medíocre mas certo e para a vida, da decisão favorável do poder discricionário e do favor político. O preço a pagar: silêncio e conivência. E assim o bicho engorda.
Prova disso é o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que devia servir para apoiar as empresas, a sua capitalização, crescimento, internacionalização e subida na cadeia de valor, de modo a criar-se marcas inovadoras e de alcance global. Na lógica estatizante, o PRR será canalizado em 2/3 do valor total para gastos nos serviços públicos e investimento público na despesa que não foi feita nos últimos anos por restrições orçamentais. Sempre o Estado, sempre para si, a sua nomenclatura e aumento da sua esfera de influência e de poder. Ganhámos a República, mas não saímos da Monarquia. Ganhámos a Democracia, mas não perdemos o respeitinho.
É urgente liberdade económica.
Advogado