Quando a equipa de gestão da Yahoo se reuniu num hotel em San Jose para um retiro, na primavera de 2006, não havia qualquer sinal de uma empresa em crise.
O gigante tecnológico, pioneiro na internet, tinha fechado 2005 com lucros de 1,9 mil milhões de dólares e 5,3 mil milhões em receitas. Os dias mais difíceis após rebentar a bolha das tecnológicas já lá iam e a Yahoo estava num rota lucrativa, aproveitando o negócio da publicidade com as principais marcas mundiais e era uma das principais empresas numa indústria florescente.
No retiro, foi pedido que escrevessem a primeira palavra que lhes viesse à cabeça sobre determinada empresa. eBay? Leilões. Google? Pesquisa. Microsoft? Windows. Yahoo?
"As respostas foram tão diversas que iam desde notícias a correio eletrónico ou pesquisa", recorda Brad Garlinghouse, na altura COO da Yahoo, em declarações à Reuters. E mesmo com alguns executivos a reconhecer a utilidade do exercício foram precisos muitos anos para se perceber os problemas que o negócio ia ter.
A venda da Yahoo foi esta segunda-feira concretizada à Verizon por 4,4 mil milhões de dólares e o negócio é prova de uma constante desvalorização da tecnológica. Um caminho que demorou uma década a ser percorrido.
A maior parte dos antigos gestores da Yahoo contactados pela Reuters nas últimas duas semanas concordam que a queda da empresa foi traçada por uma combinação entre a liderança executiva e o 'board' em meados dos 2000.
E algumas oportunidades perdidas são óbvias. A empresa falou a compra do Facebook por mil milhões de dólares em 2006. Em 2002 surgiu a oportunidade de comprar o Youtube e não foi aproveitada. I Skype foi roubado pelo eBay e a proposta de 45 mil milhões de dólares da Microsoft para ficar com a Yahoo foi recusada pela equipa de gestão, em 2008.
A pesar na empresa esteve também uma cultura cada vez mais burocrática e focada no negócio publicitário tradicional, que não soube acompanhar a rápida transformação das empresas ligadas à internet, segundo alguns dos anteriores gestores do grupo.
"Tornou-se muito difícil conseguir investimento e alinhamento sobre novos produtos e iniciativas", afirma Greg Cohn, antigo gestor de produto. "Se construímos um novo produto e a home page não quer tê-lo lá estamos perdidos."
A cereja no topo do bolo foi a preferência dos consumidores para usar o Google sempre que é preciso pesquisar alguma coisa. A Yahoo não se soube reposicionar e nunca soube muito bem o que é que queria ser.
A empresa tem mais de mil milhões de utilizadores e está focada no segmento móvel, sob a liderança de Marissa Mayer, que ainda vê "um caminho de crescimento" para a empresa, que pode ser acelerado pela fusão com a Verizon.
A Yahoo vai continuar a ser uma 'holding' para as suas participações na Alibaba e na Yahoo Japão, que valem atualmente mais do que o negócio core da empresa.
Em 2001, a contratação do antigo chairman da Warner Bros levantou outra dúvida sobre a empresa: é uma tecnológica ou uma empresa de media? O foco no negócio de media provou ser lucrativo no curto prazo devido à publicidade, aumentando as receitas de 717 milhões de milhões em 2001 para 7 mil milhões de dólares em 2007. Mas também isto não durou.
A empresa perdeu fôlego no negócio baseado em publicidade tradicional, sobretudo com o surgimento de novas empresas como o Facebook e até as formas de operar da Google e da Microsoft, que tratavam a programação como algo em constante mudança, enquanto o Yahoo a tratava como uma 'commodity'. Mesmo tendo comprado, em 2003, a Overture, empresa que criou o AdWords da Google, a Yahoo nunca conseguiu competir com o gigante tecnológico.
Ao mesmo tempo, debatia-se com um dispendioso esforço para reconstruir a sua tecnologia de pesquisa e publicidade, o Panama, enquanto produtos como o Yahoo Mail e projetos de redes sociais como o Yahoo Groups foram negligenciados numa altura em que a equipa de topo lutava internamente para definir o rumo da empresa - com gastos em muitas iniciativas marginais que acabavam por não gerar os resultados esperados.
Em 2007, ficou claro que a Yahoo estava a perder terreno. Novos players como o Facebook e o Netflix continuavam a chegar e a roubar mercado. O co-fundador Jerry Yang estava na altura a liderar a empresa, mas os seus planos foram postos em suspenso com a oferta de compra da Microsoft, em 2008.
A proposta dividiu a equipa de gestão e as divisões continuaram mesmo depois da proposta ser recusada. Entre 2008 e 2014 passaram pela empresa três CEO, até que chegou Marissa Mayer, tornando praticamente impossível a empresa ter um rumo.
Quando Mayer chegou a Yahoo já era vista como uma empresa antiquada. Tinha muito dinheiro mas poucas vantagens estratégicas para fazer frente a concorrentes de peso. E muitos analistas e investidores apontaram à Reuters que a CEO aumentou os problemas com aquisições e contratações chave que se mostraram desvantajosas.