Anceve alerta para "grande revolta" dos produtores e pede clarificação da política do governo para o vinho

O tempo de graça do ministro da Agricultura "está a terminar ", considera Paulo Amorim, presidente da Associação dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos, que reclama uma revisão de "leis medievais" e a uma aposta clara na valorização dos vinhos portugueses além fronteiras
Anceve alerta para "grande revolta" dos produtores e pede clarificação da política do governo para o vinho
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A Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas acredita que o tempo de graça do ministro da Agricultura "está a terminar" e que é tempo de José Manuel Fernandes dizer o que pensa o governo fazer quanto à fileira vitivinícola nacional. Paulo Amorim, presidente da Anceve, fala numa “grande revolta” dos viticultores e diz que a fileira enfrenta "desafios significativos", face "à quebra e às alterações dos padrões de consumo, à instabilidade do contexto internacional, à dificuldade em conseguir aumentar o valor acrescentado e à deficiente remuneração dos viticultores", fatores que potenciam uma "tempestade perfeita" que pode resultar numa "crise vitivinícola sem precedentes".

"Desafios e oportunidades para o setor do vinho - vem aí uma crise vitivinícola sem precedentes?" é precisamente o tema da conferência que a Anceve hoje organiza no Porto, na Aula Magna da Universidade Portucalense, no que pretende que seja um debate "sereno e construtivo", envolvendo os principais protagonistas da fileira, designadamente os presidentes da ViniPortugal, do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto e das várias comissões de viticultura regional, além de produtores, professores universitários e representantes da ASAE, entre outros. O ministro da Agricultura, que ontem de manhã havia reconfirmado a sua presença, a meio da tarde cancelou a agenda de 19 a 21de setembro. 

"Os apelos constantes às destilações de crise e aos negócios por elas proporcionados, o controle relativo ao trânsito de vinhos, as reclamações sobre as deficiências da fiscalização, a problemática em redor do arranque de vinhas, o futuro do Programa VITIS e as importações de vinho a granel de baixo preço, que desvirtuam o mercado," são outras das temáticas em discussão.

Paulo Amorim admite que espera que deste debate possam "sair algumas soluções", embora reconheça que a fileira se debate com "questões estruturais" que se arrastam "há muito anos". "Portugal tem que deuxar de seguir sempre as mesmas estratégias, tem que inovar, tem que aumentar o valor acrescentado e tem que remunerar melhor o viticultor", defende, fazendo o paralelo entre o Douro, onde um hectare de vinha plantada "vale 50 ou 75 mil euros e um kg de uvas é pago a 30, 40 ou 50 cêntimos" e a região de Champagne onde um hectare de vinha "custa dois milhões de eurose as uvas são pagas quase a cinco euros". E como é que isso se faz? Replicando estratégias já implementadas por outros, como a Nova Zelândia ou a Aústria que, diz, "bateu no fundo, mas renasceu com potencialidades acrescidas".

O presidente da Anceve reconhece que o desconhecimento da lei leva muitos produtores a reclamar a proibição da importação de vinho a granel, mas destaca que "a revolta é muito grande", com os negócios ilícitos à volta de algumas dessas importações. "Há operadores que importam vinho a granel, a 20 ou 30 cêntimos o litro, e depois vão à destilação de crise e ainda ganham dinheiro com isso", diz, admitindo que este ano isso não foi possível, porque as regras estabelecidas deixaram de foram quem importou ou vendeu vinhos importados nos últimos três anos, mas insiste: "Aconteceu durante muitos anos". 

Para este líder associativo, o governo deveria "rever os negócios de papel que acontecem em várias regiões", mas também "leis medievais", como a Lei do Terço [as empresas só podem vender um terço do vinho do Porto que têm em stock] ou a classificação das parcelas por letras no Douro. "Há muita coisa que deveria ser revista para podermos passara correr com sapatilhas da Nike, passe a publicidade, em vez de corrermos com sapatos de chumbo e de darmos tiros nos próprios pés", sublinha.

O arranque de vinha também não convece Paulo Amorim. "Já houve problemas no passado, em que se plantou branco e se arrancou tinto, e vice-versa, e depois se chegou à conclusão que o mercado tinha ido numa direção contrária. A acontecer, terá de ser feito com muita cautela e sem precipitações", argumenta.

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