André Luís. "Indústrias criativas são totalmente exportadoras"

Empreendedor aponta debilidades e oportunidades neste tipo de atividade
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André Luís acredita que a aposta no entretenimento digital pode promover a recuperação do interior do país e trazer mais pessoas para a Cultura. Os curricula das escolas continuam a ser o principal obstáculo ao recrutamento. Quem quiser trabalhar na área poderá passar por um curso intensivo de um ano, antecipa o líder do THU.

Considera que Portugal já começou a pensar numa estratégia para as indústrias criativas?
Ainda não há estratégia mas, pelo menos, há vontade de falar sobre o assunto. As conversas têm acelerado nos últimos tempos. Não falta muito para termos uma estratégia base. O THU pode ser a principal âncora - como acontece com a Web Summit - para captar investimentos tecnológicos para Portugal.

O THU também pode ajudar a captar investimentos para o país?
Já começámos a fazer isso: recentemente, dirigi a visita de duas empresas internacionais a Portugal. Desde que voltei ao país tenho tentado mapear com quem poderemos trabalhar para acrescentar valor nesta indústria, tendo em conta as nossas limitações. A educação é uma dessas áreas, mas tem sido muito complicado encontrar parceiros: todos os programas estão desajustados das necessidades do mercado. Mesmo as nomenclaturas dos cursos não correspondem à realidade. Não conseguimos recrutar ninguém nas escolas.

O que poderá Portugal ganhar com a aposta no entretenimento digital?
Se Portugal implementar a sua estratégia, poderemos apostar em educação especializada, com cursos intensivos de um ano. Vamos trabalhar com parceiros para identificar talento. O país pode ficar a ganhar porque trata-se de uma indústria totalmente exportadora, onde trabalham pessoas que vão ao teatro, aos restaurantes, ao cinema e que se preocupam com o que comem, como se vivessem num bairro que vai florescer com baixo impacto ambiental, ao contrário das indústrias mais tradicionais. As indústrias criativas também podem rejuvenescer ecossistemas destruídos a nível socioeconómico.

E que tal encaminhar essas empresas para o interior do país?
Isso faz parte da minha visão. Lisboa não deixa de ser a capital e pode ser um farol para o resto do país. Mas quando tivermos de produzir uma série, um filme ou uma animação poderemos fazê-lo fora da capital.

Podem ajudar a resolver a falta de orçamento para a Cultura em Portugal?
Nós não somos cultura. Somos economia. Mas se as indústrias criativas tiverem sucesso, mais pessoas vão consumir arte. Com mais procura, haverá mais dinheiro para toda a gente. Em Portugal existe muita pouca procura para o tamanho do meio artístico. O Estado deve apoiar o risco e apoiar uma primeira ideia. Mas depois de concluir esse projeto deve ser dado o lugar a outros. É muito errado o Estado estar sempre a subsidiar a mesma pessoa. O Estado não nasceu para dar emprego. Se formos bons, o público vai comprar.

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