Os crentes das duas maiores religiões monoteístas do mundo celebram quinta e sexta-feira os aniversários do nascimento dos fundadores do islamismo e do cristianismo, uma proximidade de datas que não acontecia desde o século XVI..Os cristãos seguem o calendário gregoriano que tem 25 de dezembro como o dia do nascimento de Jesus Cristo enquanto os muçulmanos seguem o calendário islâmico, com 12 meses lunares e um ano de 354 ou 355 dias..[caption id="attachment_466502" align="alignnone" width="772"]. Fotografia: Fernando Fontes / Global Imagens[/caption].A festa islâmica, o Id Mawlid, aniversário do profeta, é celebrada no 12.º dia do terceiro mês do calendário muçulmano, cujo ano islâmico começa no Dia da Hégira, em que Maomé deu início à jornada de Meca a Medina, corria o ano de 622..Os meses muçulmanos seguem o calendário lunar, pelo que todos os anos se adiantam cerca de 10 dias ao solar, razão pela qual as principais datas do Islão, incluindo o Ramadão, são móveis e não coincidem com o calendário gregoriano..Por seu lado, o mundo cristão celebra o nascimento de Jesus Cristo num dia fixo e a universalização das celebrações já permitiu que todas as festividades saltassem o Mar Mediterrâneo para os países do norte de África, de maioria muçulmana, e encontraram eco sobretudo em Marrocos. Alguns consideram tratar-se de uma colonização cultural, enquanto outros falam da globalização do mercado e do consumo..Em Marrocos, segundo relata a agência e notícias espanhola EFE, há escolas que chegam a convidar um "Pai Natal" para os apresentar às crianças, há supermercados adornados com todo o tipo de produtos alusivos à época natalícia.."Não que os muçulmanos celebrem uma data cristã, mas, de alguma maneira, o espírito natalício, pelo menos o mais comercial, também está nas ruas", escreve o autor do artigo, Javier Otazu. São várias as lojas em várias cidades do país que vendem árvores de Natal, produto que, curiosamente, é maioritariamente comprado por clientes muçulmanos, que também compram disfarces de "Pai Natal"..Paradoxalmente, o aniversário do nascimento de Maomé passa quase despercebido nas ruas e cidades muçulmanas, uma festa invisível que se passa dentro de casa, contrastando com as grandes datas do calendário islâmico, como o Ramadão e Id Al Fitr, o Festa do Carneiro, que assinala o fim de jejum..Na Medina de Rabat, um comerciante de produtos associados aos rituais islâmicos adiantou que, nestes dias, vende sobretudo pequenos incensários, destinados a queimar incenso ou sândalo para perfumar casas e mesquitas, mas o movimento na loja é igual a qualquer outro..Nos últimos anos, tem ganhado peso a leitura salafista do Islão, com um rigor "importado" da Arábia Saudita, em que a celebração de festas é vista com "maus olhos" pelos que pretendem "limpar" a religião islâmica de "impurezas"..[caption id="attachment_466494" align="alignnone" width="772"]. Fotografia: Igor Martins / Global Imagens[/caption].A veneração de Maomé, por exemplo, é considerada uma "bida" - una inovação que se afasta da norma - e, embora não caia na categoria de "heresia" basta uma visita pelas páginas de sítios de cariz islâmico na Internet para se perceber os muitos que as condenam..O salafismo, obcecado com o monoteísmo, opõe-se a qualquer culto ou veneração a Maomé, que é apenas um "mensageiro de Deus".."Assim, as cidades islâmicas contam com um Natal certamente laico e comercial, enquanto as festividades do profeta Maomé ficam relegadas a uma velha tradição com cada vez menos partidários", conclui o autor do artigo.