Antes dos 70

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Vimos na semana passada que se não constituirmos um complemento de reforma, podemos estar sujeitos a vir passar frio e fome quando acabar a nossa vida activa. Mas a verdade é que para além disso, durante a nossa vida activa, precisamos também de liberdade e segurança financeiras.

Como obtê-las? Que regras devemos adoptar? O primeiro passo consiste em tomar a decisão de planear a nossa poupança e o nosso investimento. O segundo passo consiste em colocar o plano em prática. Pois enquanto não o colocarmos em prática, não vai funcionar.

Vamos supor que o seu rendimento mensal é maioritariamente fixo. Para realizar uma poupança, tem de decidir que uma parte é intocável. Quanto? Depende do nível de liberdade e segurança financeira que pretende obter. Se ficar desempregado, já tem direito a subsídio de desemprego? Qual o valor e por quanto tempo? Se ficar desempregado, a probabilidade de encontrar novo emprego é alta ou baixa? Quanto maior o risco de ficar sem rendimentos, maior deverá ser a poupança a constituir.

Então, o ponto de partida é o valor do seu rendimento. Este valor vai ser gasto em consumo essencial e consumo supérfluo, podendo o restante ser poupado (para investir).

No consumo essencial temos a renda ou prestação da casa, do carro, electricidade, gás, comunicação e outras despesas que muitas vezes até saem da conta bancária sob a forma de débitos directos. Do que sobra, ainda vai ser preciso gastar em alimentação e vestuário. (Não sobra? Tem de voltar ao sétimo episódio desta série.) Claro que ainda há que considerar os gastos em consumo supérfluo. As férias, um automóvel, o ginásio, assinaturas de televisão, jantares e festas com amigos e família... Depois disto, ainda sobra algum?

Aqui chegados, tem de colocar a questão: se não sobra, como vou constituir a minha poupança? De qual consumo supérfluo vou ter de abdicar? E relativamente ao consumo essencial, é todo essencial, ou será que prefiro trocar algum deste consumo por uma maior liberdade e independência financeiras? Ou um maior conforto na aposentação...

Após decidir que valor do rendimento vai ser dedicado à poupança, assim que o rendimento mensal aparece, deve ser transferida uma parte directamente para esse fim. Nem sequer lhe deve conseguir pôr a vista em cima. E nesse momento, deve saber que destino vai dar-lhe: depósito a prazo, certificados de aforro, títulos da dívida pública, acções, obrigações, fundos de investimento... porque se ficar paradinho numa conta à ordem vai estar a perder dinheiro - uma inflação de 2% reduz a metade o valor do seu dinheiro no espaço de 35 anos!

Mas veja agora em quanto se transforma um depósito de 100 euros mensais a 35 anos em diferentes aplicações.

Claramente, preferimos as últimas três, certo? Acontece que são alternativas com risco, e para prazos inferiores a 10 anos podem não ser as mais aconselháveis, pois podemos querer resgatar as poupanças num momento em que o mercado está em baixa.

Mas o que são estas últimas três hipóteses? São índices bolsistas, dos Estados Unidos, da Alemanha e do Mundo, respectivamente. Calculam a variação da cotação de acções de empresas e é possível investir em fundos (chamados ETF [1]) que os replicam. Como são muito diversificados, apesar de haver risco, este é relativamente pequeno porque há uma grande diversificação.

Esta foi a evolução destes índices nos últimos 35 anos.

Imaginemos que tínhamos investido no ano 2000 e em 2003 precisávamos do dinheiro - podíamos estar a perder 60%. Mas se pudéssemos esperar até aos dias de hoje, o valor investido no ano 2000 podia ter triplicado! Então qual deverá ser a estratégia a seguir?

Quem ainda se encontra distante de idade da reforma, pode optar por investimentos mais arriscados, mas que a longo prazo já se mostraram muito rentáveis. Aplicar em fundos que repliquem um índice bolsista pode ser uma boa opção. Estes três índices, nos últimos 30 anos (anos com baixas inflações) apresentaram uma rendibilidade média entre 7,8% e 8,5%. Imaginemos que quer constituir um plano de poupança com depósitos mensais. Os pressupostos são os seguintes:

Para fazer face a uma inflação de 2%, esses depósitos devem crescer 2% ao ano;

A aplicação vai render a uma média de 8% até 15 anos antes da reforma;

Quando faltarem 15 anos para a reforma, o plano passa a ser aplicado a 3%, para tentar eliminar o risco (por exemplo, em Certificados de Aforro ou Obrigações do tesouro da Alemanha).

Começando este plano de depositar 100 euros por mês com 23 anos, aos 68 terá um valor acumulado de 230 mil euros, que lhe proporcionará uma pensão mensal de 1600 euros até aos 88 anos. Mas se começar apenas aos 43, essa pensão fica reduzida a 370 euros.

A escolha é sua.

[1] Exchange Traded Fund.

Docente do Ensino Superior nas áreas de Economia e Finanças

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