
O novo livro de Filipe Pinhal, Estes portugueses são do piorio, está a reabrir as velhas feridas da guerra interna que em 2007 abalou o maior banco privado português. Após a entrevista de Pinhal ao DN, na passada terça-feira, o seu antigo colega de administração, António Castro Henriques, divulgou uma carta aberta onde procura desmentir que tenha existido um “assalto” ao poder no BCP patrocinado pelo então primeiro-ministro José Sócrates, com o apoio de Teixeira dos Santos, Vítor Constâncio, António Mexia, Joe Berardo e outras figuras.
Ao contrário de Filipe Pinhal, que alinhou com o fundador e chairman do banco, Jardim Gonçalves, na guerra pelo controlo do banco, Castro Henriques esteve do lado do CEO Paulo Teixeira Pinto e dos acionistas que o apoiavam. Entre estes últimos encontravam-se José Berardo, a EDP, a Ongoing (de Nuno Vasconcelos e Rafael Mora) e outros. Na carta aberta, Castro Henriques defende que a teoria do “assalto” surgiu para desviar as atenções face às acusações que pendiam sobre Jardim Gonçalves e outros responsáveis.
“A tese do assalto teve por objetivo lançar uma cortina de fumo que desviasse a atenção pública da matéria dos processos
contraordenacionais e criminais que se seguiriam, de modo a que os mesmos fossem interpretados como instrumentos da alegada ofensiva”, defende Castro Henriques na referida carta aberta. “Terá sido uma tentativa de desinformação e de vitimização com que obteve um razoável êxito”, pois “muito boa gente ainda hoje acredita que as mudanças operadas no BCP em 2008 foram originalmente arquitetadas, patrocinadas ou mesmo causadas por José Sócrates, Fernando Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio e seus «mandantes, cúmplices e operacionais». Ora, nada é menos verdadeiro”, defende Castro Henriques, acrescentando que “tudo isto beneficia da atração inerente às teorias da conspiração”.
O gestor argumenta que quando Paulo Teixeira Pinto sucedeu a Jardim Gonçalves na presidência do conselho de administração executivo do BCP, em 2006, ao contrário do que muitos esperavam não se viu “vinculado a atuar como mero «sucessor», agindo sob o comando do presidente do conselho geral e de supervisão (CGS)”, cargo que continuava a ser desempenhado pelo fundador do banco.
Para mais, diz, parte da administração executiva não foi escolhida por Teixeira Pinto, pelo que o “traía sistematicamente”, acusa Castro Henriques, argumentando ainda que, por essa razão, surgiram “duas cortes”, uma na Rua Augusta, em torno do presidente executivo; e outra no Taguspark, onde reinava Jardim. Quando este último propôs uma alteração de estatutos que colocava a administração executiva na dependência do CGS, em vez da assembleia-geral de acionistas, estalou a guerra que levaria à saída de Teixeira Pinto e de Jardim Gonçalves do banco, refere Castro Henriques.
Para o gestor, a proposta de Jardim, para voltar a colocar a gestão do banco sob o seu controlo, tirando poder ao sucessor, representaria um retrocesso no processo de sucessão do fundador e na adoção de um modelo de governação “alinhado com as melhores práticas do setor financeiro”.
“O que se seguiu, entre março de 2007 e janeiro de 2008, foi penoso. Os detalhes estão adequadamente refletidos nas atas dos órgãos sociais do banco”, diz Castro Henriques, para de seguida rematar: “Ambos sabemos, Filipe [Pinhal] que a crise não foi a fase culminante de um plano de assalto, preparado e executado por terceiros, mas sim o resultado da abertura de profundas brechas num edifício que parecia sólido, embora estivesse minado por diversas debilidades, e que poderia ter sido evitada não fosse o despropósito da tentativa, aliás abortada, de alteração inusitada dos pressupostos de repartição do poder executivo do banco”.
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