Anúncio classificado: vende-se belo país

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Jane Juska não é o novo avançado polaco do Sporting. Jane Juskaera uma ex-professora de Inglês que fazia as coisas normais para umaex-professora de Inglês; coisas que, portanto, se repetiam hádemasiados anos. Cansada da rotina que levava sozinha em casa - agoraque também se divorciara e que o filho já era adulto -, Janepublicou um anúncio na New York Review of Books, o jornal quinzenalpara a elite cultural de todo o mundo. Não era, evidentemente, umanúncio qualquer: era um isco.O texto, curto, directo e inserido na página de classificados dachiquíssima Review, dizia assim: "Antes de eu fazer 67 anos, nopróximo mês de Março, gostaria de ter montes de sexo com um homemde quem goste. Se quiser falar primeiro, Trollope serve para mim."Anthony Trollope é um escritor inglês da época vitoriana e Janesabia que, ao referi-lo, iria chamar a atenção de um tipo de homemmuito especial e desviar o olhar de todos os outros machos alfa paraquem Trollope não fosse mais do que um apelido estranho e, portanto,um obstáculo inultrapassável. Sim, Jane sabia o que queria, queriater montes de sexo, mas queria mais do que isso: ela procurava umparceiro culto que gostasse tanto de literatura como ela gostava. Semesse grande detalhe, não haveria A+B. Deitar-se e ler são verbosque conjugam como pão e manteiga - sabem melhor juntos e,portanto, a sorte de Jane tinha mais hipóteses de acontecer nestapublicação especializada. Ao contrário dos classificados dosdiários, cheios de ofertas generalistas, a New York Review of Booksia directo ao target, como dizem os publicitários.Ao leitor que quer conhecer o desenlace da aventura, digo apenasque leia Round-Heeled Woman: My late-life Adventures in Sex andRomance, disponível na Amazon; ou que visite o site (basta googlar)sobre a peça de teatro que encenou a história. Mas em jeito deremate, adianto que depois de publicar o anúncio e de editar olivro, Jane deu mais do que a desejada cambalhota: aos 67 anos, deuuma volta de 180º. Para muito melhor.No fundo, é a mesma volta que o ministro das Finanças quer darao País. O anúncio nos jornais, Vítor Gaspar também já o pôs:empresas inteiras (TAP) ou fatias delas (EDP, REN) estão à venda.Gaspar foi, no entanto, genérico. Disse apenas desejar montes dedinheiro estrangeiro. Poderia ter pedido um parceiro que lesse Pessoa(ridículo) ou que falasse português (oportuno), ou então umparceiro que se comprometesse a manter os centros de competência emPortugal (fundamental). Não o fez, mas era importante que o fizesse;mesmo que, em troca, o monte de dinheiro acabe por ser um poucomenor.

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