Aos 120 anos o Lagosta quer um lugar no 'top 5' dos Vinhos Verdes mais vendidos

Dos 16 milhões de garrafas que a Enoport produz ao ano, o Lagosta vende 1,250 milhões. O objetivo é o dobro, em 2025, com um crescimento alicerçado no mercado nacional e nas exportações. Na calha estão monovarietais, de Alvarinho e Loureiro, e espumantes.
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O Vinho Verde Lagosta está a comemorar 120 anos. Na verdade, a marca existe há mais tempo, e há provas disso, mas o seu registo oficial só foi pedido em 1901 e efetivado em 1902. Uma abrangência que levou a que as comemorações dos 120 anos se tenham estendido no tempo com o lançamento, agora, de uma edição especial de 120 mil garrafas com uma trilogia de rótulos assente nos símbolos nacionais, da Ponte D. Luís às casas típicas de Santana, passando pelo Mosteiro da Batalha ou a Ponte 25 de Abril, entre outros. Até 2025, ano em que espera integrar o top 5 das marcas de Vinho Verde mais vendidas, o Lagosta espera duplicar vendas para 2,5 milhões de garrafas ao ano.

Esta é uma das mais antigas marcas em Portugal, ainda anterior à demarcação da Região dos Vinhos Verdes, em setembro de 1908. O levantamento histórico realizado pelos atuais proprietários, a Enorport Wines, permitiu perceber que o Lagosta foi um vinho criado pela Menéres & Cª, algures em finais do século XIX. Em 1900, a Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal - não confundir com a Real Companhia dos Vinhos do Porto, a ex-majestática Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que passou a ser conhecida como Real Companhia Velha precisamente ao ser criada esta segunda, em 1889, mais de cem anos depois da primeira - comprou a Menéres e avançou com o registo da marca. E foram encontrados mesmo anúncios num jornal, do início do século XX, onde se publicita o Lagosta, classificado como "Vinho Verde Especial".

"Foi graças ao Lagosta e a algumas das marcas mais antigas que já por aí andavam na altura que se criou a pressão administrativa para se fazer a denominação de origem", diz Nuno Santos, CEO da Enoport Wines. O Lagosta, bem como a aguardente Fim de Século, foram comprados, no início do século XXI, pelas Caves Dom Teodósio, mais tarde integradas no portefólio que daria origem à atual Enoport Wines.

Mas houve outras curiosidades descobertas pela investigação histórica realizada, como a dificuldade que teve em entrar no mercado brasileiro, onde o registo da marca Lagosta estava protegido pela empresa da cachaça Pitú, um tipo de camarão conhecido localmente como "lagosta de água doce". A alternativa foi registar uma nova marca no Brasil, a Calamares, para abordar o mercado. E só desde 2012, quando concluídas as negociações da Enoport com a Cachaça Pitú, a marca pôde, finalmente, ser vendida. "Tem tido uma aceitação interessante", garante o responsável.

CitaçãocitacaoA marca tem potencial para crescer e devemos fornecer novas opções ao consumidor

Hoje, a marca vende 1,250 milhões de garrafas em todo o mundo, com especial destaque, além do Brasil, para os mercados europeus, Angola, Rússia, África do Sul e Estados Unidos. O mercado nacional vale 60%. O objetivo é que, até 2025, a marca duplique vendas e ascenda ao top 5 dos Vinhos Verdes mais vendidos. Esta é uma marca de volume, direcionada ao mercado da grande distribuição e, como tal, com um grande foco na competitividade do preço. "Se não temos o maior orçamento de marketing, temos que ir lá por algum grau de atratividade face aos nossos concorrentes mais diretos. É preciso gerar a apetência no consumidor. Claro que isso prejudica as margens, mas é o chamado esforço de crescimento", defende.

O facto de o Vinho Verde estar a crescer significativamente, quer no mercado nacional, quer nos mercados externos, sendo o vinho português mais exportado a seguir ao Vinho do Porto, ajuda às pretensões da empresa. "O mercado está a crescer, todos podemos crescer com ele, sem guerra e sem confusão", defende.

Apesar dos seus 120 anos, a marca não está parada no tempo. Em 2018, lançou o Lagosta ICE, um produto inspirado nos mercados nórdicos, onde estes vinhos, muito doces, são habitualmente bebidos com gelo, numa lógica de long drink. Mais recentemente avançou com a substituição da rolha de cortiça por tampas de rosca para todos os mercados. Tudo formas de diversificação e conquista de novos consumidores e momentos de consumo. Mas a inovação não fica por aqui. A intenção é alargar a gama de Lagosta com a oferta de varietais, designadamente das castas Loureiro, Espadeiro, Alvarinho, Avesso e Azal, com o lançamento de uma ou duas novidades por ano. Em preparação está também um Lagosta Espumante. "Queremos trazer complexidade de abordagem ao mercado e gerar o interesse de mais pessoas pelo Vinho Verde", sublinha Nuno Santos, que elogia "a vivacidade" da marca, apesar da sua "respeitável idade".

Outras marcas históricas

Esta não é a única, nem sequer a mais antiga, marca do grupo, que tem sede em Torres Novas. É que, embora a holding Enoport Wines só tenha sido formalmente constituída em 2005, ela resulta da junção de algumas das mais antigas e emblemáticas empresas de vinho nacionais, como as Caves Velhas, Caves Dom Teodósio, Adegas Camillo Alves, Caves Acácio, Caves Monteiros e Caves Moura Basto. As Caves Dom Teodósio comemoram, este ano, 100 anos, e as origens das Adegas Camillo Alves datam de 1881.

A junção das seis empresas obrigou a Enoport a uma "profunda reestruturação", já que detinha um portefólio de mais de 300 marcas, seis linhas de engarrafamento e 450 pessoas. Hoje são 190 e as marcas que restam foram divididas em estratégicas, que são 10 (Lagosta, Cabeça de Toiro, Faisão, Caves Velhas, Quinta do Boição, Fim de Século, Quinta de São João Batista, Casaleiro, Quinta d'Amarante e Quintas Beirãs), e negócios táticos. O grupo transforma quatro milhões de quilos de uva ao ano e produz cerca de 16 milhões de garrafas. Além dos Verdes, onde conta com 18 hectares de vinha em Amarante, a Enoport opera nas regiões vitivinícolas do Dão (40 hectares), Tejo (200 hectares) e Lisboa, na sub-região de Bucelas, com 30 hectares.

O seu ano fiscal vai de maio a abril e, em 2022, obteve vendas de 23,5 milhões de euros, em linha com o ano anterior. As exportações valeram já 10 milhões, com especial destaque para os mercados do Brasil, Rússia, Alemanha, Canadá, EUA e Angola. Quanto às perspetivas para 2023, ano fiscal que está a arrancar, Nuno Santos assume grande preocupação com o efeito da inflação: "Sentimos que o consumidor está sem dinheiro e procura soluções mais económicas, isso algum impacto vai ter. Tipicamente, os produtos com preços mais baixos têm margens menores. A alternativa é tentar crescer nos mercados externos". Mesmo assim, a Enoport espera crescer 10 a 15%.

O grupo está ainda a preparar investimentos no enoturismo. A sede e as instalações industriais principais em Rio Maior vão ser reconvertidas, sem restauração ou alojamento, mas com academia de vinhos e enoteca. Há também projetos para o Dão, mas os mais avançados são os de Amarante onde a empresa pretende converter parte das antigas instalações das Caves Moura Basto num hotel vínico com 30 quartos, restaurante, academia de vinhos e sala multiusos. O investimento preliminar está calculado em 3,5 milhões, mas carece ainda de licenciamentos vários.

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