A APDL-Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo já fez as contas ao impacto do encerramento das fábricas da refinaria da Galp, em Matosinhos, e não tem dúvidas que o resultado será "significativo quer nos resultados financeiros quer na quantidade de mercadorias movimentadas", diz Nuno Araújo, presidente da empresa. "Estamos a falar em perder mais de dois milhões de toneladas no total de mercadorias que a APDL movimenta todos os anos", frisa. Até à eclosão da pandemia, o grupo petrolífero português era o maior operador do porto de Leixões.
Em 2020, a travagem da economia e do consumo de combustíveis no país conduziu a uma forte redução do movimento de granéis líquidos em Leixões. Nesse ano, a APDL perdeu 2,2 milhões de toneladas - mais de 90% resultou da operação da Galp. Se não tivesse havido esta quebra, "a APDL teria mantido um nível de movimento semelhante ao registado em 2019", ou seja, 7,7 milhões de toneladas em produtos como crude, refinados e aromáticos. Em termos de volume de negócios, Nuno Araújo estima um impacto negativo próximo dos três milhões de euros. "Ainda não temos o ano de 2020 fechado, mas estimamos um volume de 52 milhões de euros, contra os 55 milhões" registados em 2019, com 95% a respeitarem à diminuição da atividade no terminal de granéis líquidos. A "expectativa é que, em 2021, esse volume caia mais", adianta o gestor.
Após a desativação das fábricas de Matosinhos, a APDL estima que a Galp deverá movimentar em Leixões 3 a 3,5 milhões de toneladas/ano de granéis líquidos provenientes do pipeline que será criado entre Sines e Leixões. Nuno Araújo, que tem agendada uma nova reunião com a administração da Galp, admite que poderá ter que conceber uma nova estratégia para o terminal petroleiro. Como adianta: "Vamos saber o que vai acontecer no futuro àquela unidade industrial e perceber se temos de adaptar a nossa estratégia no terminal em função do que a Galp quer fazer, ou se temos de dar um uso diferente daquele que tem sido dado." Há várias soluções em cima da mesa, que podem passar pelo gás natural, o hidrogénio, diz. "Queremos saber o que a Galp irá fazer e em função disso tomaremos as nossas decisões", realça.
A APDL adjudicou, no final do ano passado, a construção do prolongamento do quebra-mar exterior e das acessibilidades marítimas do porto de Leixões, um investimento da ordem dos 141 milhões de euros. O consórcio liderado pela Teixeira Duarte deverá iniciar em abril a obra, que tem um prazo de execução de 30 meses. Segundo Nuno Araújo, o projeto, com mais de uma década, já recebeu visto favorável do Tribunal de Contas e, a breve prazo, será feita a consignação. Com esta obra, será possível "aumentar a segurança dos navios que já hoje entram no porto, reduzir para cerca de metade a taxa de indisponibilidade derivada das condições atmosféricas e marítimas, e receber navios de maiores dimensões". Como frisa o gestor, há embarcações "que querem escalar o porto e que nós recusamos porque não oferecemos condições de segurança para entrarem, mas também porque não há cais de acostagem e equipamentos para operar esses navios".
Este é outro problema já antigo, cuja solução passa pela construção do novo terminal de contentores sul. Segundo Nuno Araújo, "todos os anos entram menos navios em Leixões, porque a indústria naval, por ganhos de escala e eficiência, começou a construir navios de maior dimensão que não conseguem entrar no porto". Com este investimento, que ascende a 190 milhões de euros, "passaremos a poder receber novamente 70% da frota mundial", ou seja, navios com 300 metros de comprimento e 14 de calado. "Hoje, recebemos embarcações com 220 metros e em situações muito excecionais 240 metros, os outros têm de procurar outros portos, nomeadamente os espanhóis", diz. Nuno Araújo tem a "expectativa que em 2026 o terminal esteja operacional". A declaração de impacto ambiental já teve parecer favorável e agora segue-se a fase de elaboração do projeto de execução e construção.
A APDL tem centrado a sua ação na descarbonização e transição energética da atividade e, em simultâneo, numa maior digitalização do negócio com vista à redução da pegada ambiental. Uma das estratégias passa por uma maior aposta na ferrovia. Como realça Nuno Araújo, o movimento de mercadorias por linha férrea representava no passado 5% e hoje são já 10%, fruto do protocolo com a Infraestruturas de Portugal (IP). Mas o objetivo é mais ambicioso. "Queremos num prazo de três, quatro anos, mais do que duplicar o movimento de mercadorias utilizando a ferrovia, e isso trará ganhos ambientais para a APDL", sublinha.
Para apoiar esse objetivo, está prevista ainda para este ano a criação da plataforma intermodal ferroviária do porto de Leixões, que implicará a interligação com a infraestrutura gerida pela IP, que Nuno Araújo quer ver fundida com o sistema férreo de Leixões. A estratégia é que "a APDL possa no futuro vir a gerir o terminal da IP, interligando-o com terminais rodoferroviários e o marítimo". Nesse sentido, o gestor está também a trabalhar na criação de portos secos no país, como já está em preparação na Guarda. Estes projetos "são cruciais na estratégia de descarbonização da APDL" que, só no porto de Leixões, contabiliza uma média de entrada de 450 mil camiões/ano.