Apetite pela Apple dispara com entrada na IA “vários passos à frente da concorrência”

Revelação da Apple Intelligence e parceria com OpenAI entusiasmou o mercado e faz antecipar “superciclo” de venda de iPhones.
Tim Cook, CEO da Apple. Foto: AFP
Tim Cook, CEO da Apple. Foto: AFPTim Cook, CEO da Apple. Foto: AFP
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A sigla inglesa de Inteligência Artificial é “AI”, para Artificial Intelligence, mas é possível que daqui a uns tempos muitos utilizadores acreditem que a designação veio da Apple, por causa do seu novo sistema Apple Intelligence. Apresentada esta semana no arranque do evento anual de programadores WWDC, a AI é a resposta da gigante aos avanços dos últimos 18 meses e à pressão do mercado para abraçar a nova era da IA. 

“É o próximo grande passo para a Apple”, anunciou o CEO Tim Cook durante o evento, descrevendo a AI como “o novo sistema inteligente que torna os vossos produtos ainda mais úteis e agradáveis”. 

A apresentação não foi feita com pompa e circunstância, transmitida num vídeo pré-gravado perante uma pequena audiência na sede que depois teve direito a demonstrações. As primeiras reações foram tépidas, com comentadores a dizerem que o evento foi um bocejo e outros a reclamarem da falta de “pizzaz”, ou entusiasmo.

Mas após uma certa desconfiança, Wall Street teve uma receção diferente: as ações da Apple dispararam 7%, bateram um novo recorde e levaram a Apple a ultrapassar a Microsoft para ser (brevemente) a empresa mais valiosa do mundo: 3244 biliões de dólares. 

No rescaldo, vários analistas divulgaram previsões otimistas quanto ao efeito da Apple Intelligence na venda de iPhones, falando num “super ciclo” de renovação e num impacto abrangente em todo o universo Apple. A publicação dedicada Android Police elogiou o lançamento, dizendo que é “aquilo que o Google Gemini devia ter sido desde o início”. O sistema parece reforçar a tradição da Apple de não chegar primeiro, mas acabar por fazer melhor. 

“A Apple demonstrou claramente que não está a ficar para trás”, disse ao Dinheiro Vivo o vice-presidente associado da divisão de dispositivos na IDC EMEA, Francisco Jerónimo, que esteve no evento em Cupertino. “Porque toda esta experiência que a IA nos vai trazer só é benéfica se estiver integrada nos vários terminais ao mesmo tempo, e é esse o grande benefício que a Apple traz”. O sistema estará incluído nos iPhones, iPads e Macs e permitirá a convergência num ecossistema onde a Apple desenha tanto o hardware como o software - ao contrário de muitos concorrentes diretos.

As funcionalidades vão chegar no outono aos iPhones a partir do 15 Pro e iPads e computadores Mac que tenham pelo menos o chip M1 (o mais recente é o M4). O que distingue a AI é não ser focada em aplicações específicas, mas funcionar como uma camada embebida em todo o sistema operativo, com a privacidade no centro. O assistente digital Siri vai ganhar capacidades a todos os níveis, desde conseguir encontrar fotografias com base em perguntas por voz em linguagem natural (“Siri, encontra a minha filha vestida de rosa”) ou vasculhar as mensagens para encontrar um endereço que um dia foi partilhado. 

Outras novas capacidades serão a reescrita automática de emails, verificação de gramática, geração de “Genmojis” nas mensagens, reorganização das caixas no mail, transcrição de áudio nas notas, eliminação de elementos em fotografias e outras. A AI vai usar o contexto pessoal de cada utilizador para oferecer experiências únicas, ou seja, não é uma aplicação específica onde terá de entrar (como é, por exemplo, o ChatGPT). 

“Mais nenhum fabricante consegue utilizar tanto os dados dos utilizadores no telefone e no computador e iPad como a Apple”, salientou Francisco Jerónimo, lembrando que a maior parte das fabricantes fornece apenas o hardware ou o software. 

O analista acrescentou que “mais ninguém” consegue trazer o mesmo nível de contexto para IA e a personalização dos terminais, o que explica porque é que as outras fabricantes têm apostado sobretudo em IA generativa para criar imagens, fazer o resumo de textos e traduções. “Isso é interessante e útil, mas o que a Apple anunciou é algo muito mais avançado e mostrou que consegue estar vários passos à frente da concorrência”. O analista salientou que é preciso testar para perceber se vai mesmo funcionar bem e que o aspeto mais interessante é o assistente Siri funcionar como “cola” de todas as funcionalidades. 

É também através deste assistente por voz que a Apple vai dar acesso ao ChatGPT, sem que o utilizador tenha de criar uma conta, através de uma parceria com a OpenAI. O CEO da empresa, Sam Altman, esteve nos bastidores da apresentação, embora não tenha feito declarações nem se tenha percebido qual a extensão da colaboração. 

Para Francisco Jerónimo, estas novidades - que irão chegar às mãos dos utilizadores a partir do lançamento do iPhone 16, em setembro, e dos próximos sistemas operativos iOS 18, iPadOS 18 e MacOS Sequoia - vão dar um “empurrão” nas vendas da Apple. O analista prevê que isso será mais visível nos próximos anos, quando as mudanças na forma como os utilizadores interagem com os dispositivos se tornarem evidentes. 

“Vamos começar a ter esta transição de smartphones para Intelligent Phones e é uma questão de tempo até a maior parte dos utilizadores se aperceber de que precisa de um telefone mais inteligente”, referiu. 

A expectativa de salto qualitativo no assistente Siri também poderá marcar a direção dos restantes, acabando com a lógica de que é preciso aceder a uma aplicação para cada coisa que queremos fazer. “A partir de agora, não quero mais saber que aplicações tenho no meu telefone”, frisou Jerónimo. “O que eu quero saber é como é que posso fazer uma pergunta ao telefone, ele responder e acionar o que quero que execute de uma forma conversacional”, continuou. “De uma forma em que não estou aqui a dar comandos de voz que, se não forem ditos de forma simples, o telefone não vai executar esse comando.” 

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