Apoios aos jovens pressionam ainda mais subida do preço das casas em 2025

Mercado não tem resposta para a procura, nem se perspetiva um significativo aumento da oferta a breve prazo. Imobiliárias antecipam que o setor se mantenha robusto no próximo ano.
Medidas de apoio aos jovens na compra da primeira casa incluem a isenção do IMT e do Imposto do Selo e a garantia pública. Foto: Pedro Correia/Global Imagens
Medidas de apoio aos jovens na compra da primeira casa incluem a isenção do IMT e do Imposto do Selo e a garantia pública. Foto: Pedro Correia/Global Imagens
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As políticas de apoio aos jovens para aquisição da primeira habitação provocaram um aumento da procura e, por conseguinte, dos preços. É “uma reação natural do mercado”, que “só será reduzida com maior investimento na oferta, não só para aquisição, mas também para arrendamento”, defende Marco Tairum, CEO da Keller Williams Portugal. Como não é de esperar um aumento substancial na oferta, “a evolução dos preços em 2025 será inevitavelmente crescente”. Para o gestor, “não há racional sequer para uma estabilização”.  

“Este ano temos assistido a um aumento dos preços, praticamente todos os meses, na maioria das regiões, e assim fecharemos o ano de 2024”, vaticina Beatriz Rubio, CEO da RE/MAX Portugal. Um quadro que se irá manter no próximo ano, pelo menos até “se notar o aumento relativo da oferta via construção nova, assim como de eventuais alterações nos fluxos de investimentos internacionais”, diz a gestora. Marco Tairum concorda: “Os preços têm mantido uma trajetória de crescimento ao longo de todo o ano de 2024”.

Os aumentos são constantes, mesmo quando o mercado dá sinais de contração, como sucedeu no primeiro trimestre deste ano. Nesse período, as casas valorizaram 7%, apesar de se ter verificado uma quebra homóloga de 4,1% no número de habitações vendidas. No trimestre seguinte, os negócios retomaram alguma normalidade, com o setor a registar uma subida homóloga de mais de 10% no número de transações, impulsionada pela descida da inflação e das taxas de juro. Já os preços cresceram 7,8%, entre maio e junho, um aumento muito superior à inflação e à evolução salarial.

No fim do primeiro semestre a confiança voltou a instalar-se, reforçando os negócios de compra e venda de casas. Entre julho e setembro, “ter-se-ão vendido cerca de 38 000 fogos habitacionais em Portugal Continental, o equivalente a um crescimento de cerca de 7% face ao segundo trimestre e homólogo de 16%”, estima Marco Tairum. Para esta dinâmica também contribuíram as medidas de apoio aos jovens na compra da primeira casa - a isenção do IMT e do Imposto do Selo e a garantia pública que, embora conhecidas no início do ano, só entraram em vigor em agosto. Para o terceiro trimestre espera-se “uma recuperação considerável, na ordem dos dois dígitos”, sublinha (os dados oficiais ainda não saíram).

Verão trouxe retoma

A retoma do mercado é acompanhada por mais uma subida de preços. Rui Torgal, CEO da ERA Portugal, revela que o ticket médio dos imóveis mediados pela marca cresceu cerca de 11% neste período face ao valor final de 2023. E não há sinais de travagem na valorização dos imóveis, assim como na dinâmica da procura. “Atendendo ao reduzido stock em venda, e não se verificando um incremento da construção nova capaz de suprir o gap entre a oferta e a procura, dificilmente poderemos esperar uma alteração de tendência em 2025”, admite. Mesmo com o preço das casas em valores históricos, os portugueses continuam a assinar escrituras e os agentes aguardam um bom fim de ano. O quarto trimestre “deverá ser o melhor de 2024”, até porque “historicamente é o mais forte para os setores do imobiliário e da mediação”, diz Marco Tairum.

Segundo Beatriz Rubio, “em anos de crescimento, o último trimestre tende a ser o mais movimentado, o que leva a que muitos especialistas antecipem um crescimento anual do segmento em redor dos 10%, em linha com as nossas estimativas”. A CEO da RE/MAX assenta esta projeção na performance do mercado no segundo semestre. “O terceiro trimestre revelou ser particularmente dinâmico, o que se espelhou em crescimentos de vendas na RE/MAX acima dos 20%, ou seja, podemos perspetivar que neste período se tenham atingido vendas a nível nacional em redor das 40 mil habitações, um crescimento de 7-8% face ao segundo trimestre, eventualmente uma subida de 16-17% face a idêntico período de 2023”, prevê. Recorde-se que no ano passado registou-se uma quebra de 20% no número de casas vendidas face a 2022 e os preços subiram 8,2%.

Em 2025, o mercado imobiliário deve manter-se robusto, mas há algumas incertezas. Como diz Rui Torgal, é expectável que continue pujante “se o contexto macroeconómico se mantiver estável, mais concretamente uma não-escalada dos conflitos bélicos atualmente a decorrer, bem como a consequente redução ou estabilização das taxas de juro e da inflação; se o ritmo da construção nova se mantiver ou aumentar; se os incentivos públicos para a habitação forem uma constante”. Nestas condições, os preços “irão continuar a crescer”.

Segundo a Confidencial Imobiliário, consultora especializada em dados estatísticos do setor, entraram nas autarquias de Portugal Continental pedidos para o licenciamento de 18 130 novos projetos de habitação nos primeiros 10 meses deste ano, que englobam 53 790 fogos. São mais 1900 casas submetidas face ao total de 2023, quando foi solicitado o licenciamento de 51 900 habitações. Desde 2022, que a atividade de promoção imobiliária apresenta-se mais robusta. A Confidencial Imobiliária recorda que, em 2022, foram submetidos a aprovação 43 800 fogos, mais 17% face a 2021, voltando a aumentar em 2023, ano em que se registou um crescimento de 18% quando comparado com o ano transato.

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