Aprender a acolher imigrantes com o drama ucraniano

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Portugal já recebeu mais de dez mil cidadãos ucranianos fugidos do pesadelo da guerra. A existência de uma importante comunidade ucraniana no nosso país pesou, certamente, na decisão de muitos destes refugiados. Mas é justo referir a forma expedita como o Governo reagiu ao fluxo migratório, criando uma plataforma online para pedidos de proteção temporária por residentes ucranianos. Desta forma, foi simplificado um processo que, em circunstâncias normais, seria mais complexo e moroso.

A forma exemplar como Portugal tem acolhido os refugiados ucranianos, com manifestações de solidariedade de Norte a Sul do país, é motivada seguramente pelo mais puro altruísmo. Mas também é verdade que, como já foi assumido por associações empresariais de vários setores, há vontade, interesse e capacidade de integrar profissionalmente os ucranianos que agora chegam ao nosso país.

Portugal apresenta um défice de mão-de-obra qualificada e não qualificada. Setores como o têxtil, calçado, construção, metalurgia, agricultura ou turismo queixam-se abundantemente da falta de pessoas para trabalhar, sobretudo após a crise sanitária. A somar ao declínio e envelhecimento populacional e à emigração de jovens para países com melhores salários, muitas pessoas, à semelhança do que aconteceu noutros países desenvolvidos, não regressaram aos seus empregos depois da pandemia, por razões que ainda não estão sociologicamente explicadas.

Tudo isto para dizer que, tal como está hoje a ser feito para os ucranianos, Portugal deve desburocratizar o processo de acolhimento de imigrantes e desenvolver políticas ativas de captação de imigração, de acordo com as necessidades de mão-de-obra do país. Em concertação com os parceiros sociais, importa criar incentivos ao emprego, já não pelo lado da oferta, mas sim pelo da procura.

Isto passa pela identificação de países exportadores de mão-de-obra e pela definição de uma estratégia de atração de imigrantes que dê garantias de simplificação quer das autorizações de residência, quer do acesso e exercício de profissões, em especial no que toca ao reconhecimento de competências. Além, claro, de serem asseguradas a quem chega ao nosso país condições dignas de trabalho, habitação e proteção social.
Tudo isto sem esquecer que da parte das empresas terá de haver um esforço para tornar os salários mais atrativos, caso contrário a falta de mão-de-obra vai condicionar o crescimento de muitas delas.

Presidente da ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários

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