Este tipo de generalizações, não são verdadeiras e pouco ou nada ajudam. Os incêndios levantam questões técnicas para as quais não tenho competências. Há, contudo, um padrão, uma regularidade que impressiona: em terrenos em que há uma gestão florestal ativa, a área ardida é reduzida. Perguntar-se-á: se é assim, por que não há mais proprietários a adotar tais práticas? Antes de tentar responder, convém clarificar uma coisa: todos sabem que, entre nós, predomina o minifúndio, mas ao contrário do que muitos pensam, em Portugal a floresta é quase toda privada. Se não se levar isto em conta, o Estado pouco pode fazer. Pode clamar que se deve fazer isto e aquilo e pode, até, multar se isso não for feito. Sem eficácia.
Os economistas dirão: faltam incentivos. Num contexto em que as alterações climáticas são evidentes, as externalidades associadas ao sequestro de carbono são boa justificação. É uma base, cara e insuficiente. Ao contrário do discurso urbano sobre a floresta, que tende a vê-la como paisagem, ignorando o contexto socioeconómico, se não introduzimos na equação a floresta de produção, a geração de rendimentos, pouco ou nada mudará.
É preciso provar que essa transição é possível e viável. Uma abordagem promissora passa pela promoção de ações de demonstração. Ver para crer. Convido o leitor a ver um vídeo sobre o Re/Nascer de Pedrógão (nota: estou ligado a um associado da CELPA). Ou a informar-se sobre o projeto-piloto em Mortágua em que já foram replantados, de forma ordenada, mais de 200ha (objetivo: 800ha; 1200 proprietários envolvidos). Na região, são exceções e, ainda assim, quase só o resultado de iniciativas privadas. Privadas, repito. O resto está pior do que em 2017.
A floresta é assunto demasiado sério para que a respetiva política possa continuar a ser desenhada e instituída com base em ideologia e mitos urbanos. Os resultados são terríveis: ao contrário dos outros países mediterrânicos, a nossa área florestada tem diminuído, ano após ano. Com esta evidência, estamos à espera de quê? Que arda tudo?