As empresas que paguem a conta

Estamos, pois, em risco de não conseguir manter o que considero ser a grande alteração estrutural da economia portuguesa no período mais recente.
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Estamos em abrandamento económico, em linha com a Europa e outras zonas do globo. Já não era novidade, mas a divulgação do PIB por componentes, em 2018, permite compreender melhor o que se está a passar.

No ano passado, o consumo foi a única rubrica a reforçar o crescimento face a 2017. O investimento, as exportações e as importações cresceram, mas a taxas bem mais moderadas.

Vale a pena fazer um exercício de comparação entre as taxas de crescimento real registadas nos últimos dois anos: no investimento (FBCF) foi menos 52% e nas exportações menos 53%, enquanto que nas importações o abrandamento foi bastante inferior (menos 40%).

É verdade que, apesar do menor crescimento das exportações, a sua proporção no PIB tem vindo a aumentar, sobretudo nos últimos anos, e nunca foi tão alta como no ano passado, em que atingiu 43,6%.

Mas o país estará agora perante um perigo iminente, traduzido na incapacidade da manutenção do saldo externo positivo, observado ininterruptamente nos últimos seis anos. Em 2018, o excedente comercial foi de apenas 285,1 milhões de euros (0,1% do PIB), com uma taxa de cobertura de 100,3%, já muito próxima da linha de equilíbrio.

Estamos, pois, em risco de não conseguir manter o que considero ser a grande alteração estrutural da economia portuguesa no período mais recente.

São sinais de alerta que devemos rapidamente contrariar, ainda que tenhamos consciência que a atuação ocorrerá num contexto externo menos favorável, colocando dificuldades e exigências acrescidas para todos os agentes económicos, públicos e privados.

Mais uma vez, as empresas vão ser chamadas, como já aconteceu em ciclos anteriores, a desempenhar o seu papel: invistam, criem emprego, exportem mais e substituam importações, desafios a que irão corresponder com a resiliência que as caracteriza. As mesmas empresas que viram sucessivos Orçamentos de Estado, da última década, sobrecarregá-las com um acréscimo da carga fiscal e proporcionar-lhes um ambiente nem sempre amigo do investimento. Pelo mesmo Estado que, sem se reestruturar, continua a digerir os custos decorrentes das precipitadas 35 horas, da mal conduzida venda do Novo Banco (que afinal não era assim tão bom), etc. etc..

Paulo Nunes de Almeida, presidente da Associação Empresarial de Portugal

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