As férias são mesmo o tempo para não fazer nada?

Os dias das férias de verão constituem um desafio para as famílias, no que toca à ocupação dos mais novos. Sendo um tempo de descanso, a ciência diz que é também uma boa altura para trabalhar competências e não descurar a aprendizagem.
Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação, e Sofia Garcia da Silva, professora de ensino especial, Foto: Carlos Pimentel/GI
Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação, e Sofia Garcia da Silva, professora de ensino especial, Foto: Carlos Pimentel/GI
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No último episódio antes das férias, o Educar tem Ciência, projeto da Iniciativa Educação, em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo, traz à discussão o desafio que é a ocupação do tempo dos mais novos durante este período. Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação, e Sofia Garcia da Silva, professora de ensino especial com experiência no primeiro ciclo, indicam algumas das vantagens de usar as férias de verão para, em família, desenvolver competências que vão da leitura à autonomia, passando pela gestão da frustração.

“Não fazer nada nas férias não é boa ideia”, defende Nuno Crato. Sendo verdade que esta é uma altura que deve ser aproveitada para relaxar, não deve ser desperdiçada como oportunidade de desenvolvimento da criança, sendo o conhecimento e a autorregulação duas áreas que podem ser desenvolvidas durante as férias.

Uma opinião partilhada por Sofia Garcia da Silva. “O interregno durante o período de férias tem algum comprometimento no que diz respeito às aprendizagens. Por isso, é importante que haja alguma organização de como os pais vão ajudar os filhos a estabelecer rotinas que façam com que este prejuízo seja mitigado”, explica a professora, que sugere a criação de momentos para revisitar as matérias trabalhadas durante o ano letivo.

Competências como a leitura ou a matemática podem ser promovidas num registo lúdico e integradas no dia-a-dia das férias: ler as placas das terras onde se chega, somar os números das matrículas dos veículos com que se cruzam, escrever um postal para os amigos ou, para os mais velhos, um post sobre o livro que estão a ler na plataforma da editora, são algumas das atividades sugeridas.
O que não significa que os meses sem aulas sejam um prolongar do ano letivo. O facto de serem as férias “grandes” faz com que haja “espaço para tudo”, acredita Rita Garcia da Silva.
Ficar “mais crescido” nas férias

A ciência do desenvolvimento aponta como fundamentais para um pleno desenvolvimento infantil a boa qualidade das interações entre a criança e os adultos e o desenvolvimento das competências ligadas à autorregulação, lembra Garcia da Silva. “As férias são um ótimo momento para trabalhar isto, porque os pais têm mais tempo e menos stresse. Podemos estimular estas competências, dando mais autonomia à criança para se vestir ou fazer tarefas em casa, que vão fazer com que a criança tenha atenção, seja capaz de controlar os impulsos, memorize uma dada instrução e depois a execute”, acrescenta a professora. E neste trabalho sobre a autonomia podem ser incluídos os hábitos de estudo, diz Nuno Crato.

O tempo livre e os jogos em família são também uma boa altura para os mais novos aprenderem a lidar com a frustração. “O que a ciência nos mostra é que é importante promover um certo grau de frustração para ensinar a criança a autorregular-se”, diz Sofia Garcia da Silva, que lembra que nas férias também os pais estão mais aptos para regular o seu comportamento. “Isso passa por dar à criança tempo para fazer, espaço para errar, oportunidade para frustrar - permitir que lide com alguma frustração, porque isso vai enriquecer o que são as competências necessárias para ser mais resiliente e produtiva na sua vida”, defende.
Palavra-chave: antecipação

O planeamento e antecipação são essenciais para evitar conflitos. Sofia Garcia da Silva dá como exemplo a organização dos momentos de leitura, com a escolha conjunta dos livros a ler nas férias. “Eventualmente pode haver um estabelecimento de objetivos que, para os mais velhos poderá ser o número de livros a ler no verão”, refere a professora.

Outra questão que beneficia da discussão prévia é a gestão do tempo de ecrã. “É preciso pensar que tem que haver limites, e combinar o tempo em que vai ser usado o ecrã. Se esse tempo foi gasto durante o dia não vai ser gasto à noite”, diz Sofia Garcia da Silva, para quem “a antecipação é sempre uma boa amiga”.

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