Uma entrevista de emprego não deve causar constrangimentos, deve fluir como uma conversa em que ambas as partes estão confortáveis na partilha de informação. Os recrutadores não podem invadir o limite da esfera privada, devendo concentrar-se nas soft skills e hard skills que a função exige..Para Tânia Coelho, talent acquisition manager da Kelly em Portugal, há sempre perguntas difíceis que têm por objetivo "desafiar os candidatos e levá-los a improvisar", mas reforça que há perguntas que são simplesmente desadequadas que levam a que os candidatos se sintam constrangidos..Um momento de entrevista é "sempre um desafio, tanto para o recrutador como para o candidato", mas a linha vermelha é traçada quando se abordam temas da esfera privada, tais como estado civil, orientação sexual, idade ou religião, isto é, perguntas que "podem implicar discriminação e exclusão", explica..Nestas situações, os candidatos têm o direito de recusar responder a questões "constrangedoras ou ditas "ilegais" e em nenhum momento podem ser excluídos do processo de recrutamento [por esse motivo]", afirma. É importante que os candidatos tenham isto em mente e procurem manter o foco na função para a qual se candidatam, procurando transmitir confiança e assertividade..O mercado de trabalho está em constante mutação e as dinâmicas têm vindo a alterar-se nos últimos anos, já não é só o candidato que deve mostrar o seu valor para a organização, "também a empresa deve mostrar o seu valor ao candidato", explica Tânia Coelho, acrescentando que este tipo de situações não põem em causa só a diversidade, mas também a forma como as pessoas percecionam a empresa. "Este tipo de práticas têm de ser abolidas, uma vez que pode acabar por prejudicar ambas as partes", reforça..Para a talent acquisition manager da Kelly em Portugal, "enquanto consultora de recursos humanos, temos a responsabilidade de sensibilizar os nossos clientes para esta temática", precisamente para que as empresas e recrutadores não ultrapassem as tais linhas vermelhas. Na opinião de Tânia Coelho, não havendo malícia ou "segundas intenções" as conversas fluem com o objetivo de conhecer melhor o candidato, mas quando se invade a esfera privada está posta em causa "a integridade de ambas as partes", sublinha..Contudo, Tânia Coelho não deixa de referir que todos os profissionais de recursos humanos tenham formação específica sobre que tipo de entrevistas devem fazer e que perguntas colocar, incluindo os que já têm experiência consolidada que não devem deixar de "reciclar os seus conhecimentos", acompanhando as tendências, especialmente num momento de "mudança de paradigma, tal como aquele que vivemos"..Reforçando o compromisso que a Kelly tem para com a diversidade, equidade e inclusão, a talent acquisition manager explica que procuram "orientar" os processos de recrutamento com base na "quebra de barreiras ao emprego". No que diz respeito ao mercado português, tem havido uma "grande evolução" nas temáticas da diversidade, equidade e inclusão, "há cada vez mais respeito por estes temas", afirma..As mudanças podem ainda não ter acontecido na totalidade, mas o processo "faz-se caminhando" e Tânia Coelho aproveita para sublinhar o investimento do Ministério da Educação na educação inclusiva, dizendo que este é o início do caminho e um "ótimo sinal de evolução".