Quando Chris Anderson entrou na organização, em 2001, as TED Talks eram um evento anual numa era em que não havia vídeo online. Anderson comprou a conferência ao fundador, Richard Saul Wurman, através da sua organização sem fins lucrativos Sapling Foundation..“Enviávamos uma tábua com 10 mandamentos aos oradores”, brinca Chris Anderson, que esteve em Los Angeles para uma conversa intimista conduzida por Pico Iyer numa sessão da Live Talks LA..[caption id="attachment_557063" align="alignleft" width="300"]. Chris Anderson[/caption].“Umas 50 palavras. Tipo ‘não leia a sua apresentação’, ‘não ultrapasse o tempo’, ‘deixe o seu ego de fora.’” Ele acabou com os mandamentos. Então qual é o formato a seguir?.“Não pode haver uma fórmula”, declarou o executivo. “Não queremos que as pessoas pensem em nós como uma coisa específica.” Anderson diz que muita gente tem tentado fazer “engenharia reversiva”, descobrir qual é a fórmula, mas o conselho da TED é nunca tentar imitar outro orador..Pode não haver mandamentos, mas há regras implícitas e erros a evitar. Foi disto que Chris Anderson falou – confessando, ironicamente, que não se considera lá grande orador..O que uma TED Talk não é.“Algumas pessoas pensam que a TED é a resposta, que quando publicamos uma apresentação queremos dizer que aquilo é tudo o que é preciso saber sobre um tópico.” Mas não se pode dar a palavra final sobre um tópico numa TED Talk, diz Anderson..“Queremos que as pessoas pensem ao contrário, como uma batalha nesta guerra pela atenção em que todos vivemos. É uma cultura louca, em que existe imensa pressão para assistirmos a vídeos estúpidos.”.Erros a evitar .A interação entre o público e o orador é complexa, cheia de julgamentos por parte da audiência. “Se o orador chega ali todo convencido, cheio de ego, as pessoas vão ficar desconfiadas.” Anderson conta que a única vez que a audiência assobiou alguém foi quando uma mulher começou uma frase com estas palavras “Desde que me tornei uma lenda viva…”..Também não devem começar agradecendo a trinta pessoas nos primeiros 5 minutos. Ir direto ao ponto, começar em grande para prender logo a atenção. Se não, os pequenos monstros chamados smartphones vão sair da toca (do bolso) e está tudo perdido..Duração da apresentação.18 minutos. Antes de Anderson entrar, eram 15 minutos, mas ele alterou a política. “Não existe uma duração perfeita, mas isso é mais ou menos a capacidade de atenção humana”, explicou. “Se dizemos 15 minutos o orador vai aos 20, se dizemos 18 vai aos 19.” Também são poucas as apresentações com mais de 25/30 minutos que se tornam virais online. “É possível mudar a visão de uma pessoa em 18 minutos”, garantiu. Bónus: o discurso “I have a dream”, de Martin Luther King, dura 17 minutos e 40 segundos..Decorar ou ir freestyle?.Ambos podem dar excelentes apresentações, mas é preciso identificar as desvantagens de cada um. Se decorar, tenha cuidado para não parecer um robô, preocupado em dizer as palavras memorizadas; se usar apenas uma lista de pontos, cuidado para não vaguear e repetir ideias. “O meu conselho mais forte para uma apresentação muito importante é que, se achar que não consegue o seu melhor com uma lista de pontos, decore aquilo tudo como se não houvesse amanhã.” E avisa: “os oradores não ensaiam o suficiente.”.Bónus: se não tiver tempo ou vagar para se preparar como deve ser, prepare uma excelente entrada e uma saída em grande, com atenção às três últimas frases. “O que as pessoas lembram é afetado de forma desproporcional pela última memória de qualquer experiência.”.O que fazer com os nervos.A adrenalina vai secar a garganta e contrair os músculos, pôr as pessoas a tremer. O maior conselho de Anderson é respirar fundo e fazer algum tipo de exercício físico – ele foi fazer flexões antes de uma entrevista com a NSA. Não há problema em mostrar vulnerabilidade. “As pessoas veem que é humano e não se importam.”.Usar slides ou não?.Sim, se não for ler o que lá está nem os usar para substituir o que devia dizer de forma mais rica e orgânica. A talk mais viral deste ano é a de Tim Urban sobre procrastinação – e tem slides..As consequências do vídeo.Foi em 2006, antes do surgimento do YouTube, que Anderson decidiu pôr as talks online, gratuitamente, visto que nenhum canal de televisão lhes pegou. “Para nossa surpresa, isto pegou, começámos a receber milhares de emails.”.Agora, é “um motor para espalhar ideias.” Como o vídeo fica disponível para milhões de pessoas, a fasquia é mais elevada; os oradores têm de lhe dispensar mais tempo. “O mundo está a reinventar uma arte antiga”, sublinhou Anderson, dizendo que chegou a hora da literacia das apresentações. “Como é que se vai conseguir um emprego dentro de 15 anos? Com um vídeo de apresentação, não com um currículo. O medo impede as pessoas de o fazerem, mas há mais razões que nunca para aprender esta capacidade.” O vídeo, defendeu, é uma avalanche que vai cobrir o mundo todo – e muita gente ainda não se apercebeu disso.