Ascensão da extrema-direita é uma ameaça ao projeto europeu

Antigos alunos do The Lisbon MBA respondem a perguntas sobre a situação política na Europa. O barómetro resulta de uma parceria entre o Dinheiro Vivo e o The Lisbon MBA
Foto: AFP
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A comunidade de alumni do The Lisbon MBA partilhou, neste barómetro, as suas perspetivas sobre o atual panorama político na Europa, revelando uma diversidade de opiniões influenciadas pelos desafios multifacetados que a Europa enfrenta e pela forma como navega nestes tempos turbulentos. Desde a ascensão dos movimentos de extrema-direita à instabilidade económica e aos ambiciosos objetivos das transições ecológica e digital da UE, as opiniões dos antigos alunos refletem uma perspetiva complexa e dividida sobre o futuro.

A ascensão dos movimentos de extrema-direita: uma ameaça ao projeto europeu?

A maioria dos antigos alunos (55%) considera a ascensão da extrema-direita em países europeus como a França e a Alemanha como uma ameaça ao projeto europeu. Esta apreensão está relacionada com as ideologias promovidas por estes partidos, que enfatizam o nacionalismo, as políticas anti-imigração, o euroceticismo e o protecionismo económico. Tais posições, segundo a opinião dos antigos alunos, podem potencialmente deteriorar os valores democráticos, os direitos humanos e a coesão social que apoiam o projeto da UE.

A ascensão da retórica de extrema-direita foi parcialmente alimentada pela instabilidade geopolítica provocada pelas zonas de conflito (particularmente no Médio Oriente e no Norte de África), o que gerou sentimentos anti-imigração em toda a Europa.

Existem também opiniões de que a ascensão destes movimentos poderá estimular as reformas necessárias, abordando temas que há muito não foram totalmente abordados ou resolvidos pelos partidos tradicionais (por exemplo: migração, inflação, etc.).

No entanto, 22% dos alumni não considera a ascensão da extrema-direita como uma ameaça, quer devido à sua confiança nos robustos quadros institucionais da Europa e na capacidade das principais forças políticas para contrabalançar as narrativas extremistas, quer porque podem ser influenciados pela crescente aceitação da retórica de extrema-direita, como se observou nas eleições de 2024 em Portugal.

Incerteza do mercado financeiro: uma perspetiva dividida

Os antigos alunos estão visivelmente divididos no que diz respeito aos mercados financeiros: 32% antecipam maior turbulência, 35% não preveem instabilidade; e 32% permanecem incertos. Esta divisão pode resultar da imprevisibilidade ainda significativa das atuais condições económicas, equilibrada com sinais emergentes de melhoria em comparação com os desafios vividos nos últimos anos: (1) a economia da área do euro cresceu 0,3%1 no primeiro trimestre, assinalando o fim a um período de estagnação, com um crescimento anual esperado de 0,8%2, (2) a inflação melhorou para 2,6%3 em meados de 2024, apresentando uma melhoria desde o seu pico de 10,6%3 em 2022 (após forte aceleração no mesmo ano – o ambiente inflacionário desafiante aumentou principalmente devido a uma combinação de interrupções na cadeia de abastecimento, aumento dos preços da energia (impulsionados pela Guerra na Ucrânia) e políticas fiscais expansivas) e (3) a taxa do Banco Central Europeu foi ajustada para 3,75%4, abaixo do recorde de 4%4 (onde se encontra desde setembro de 2023). Este ajustamento foi feito como medida de combate à inflação.

As ambiciosas transições energética e digital da UE também provocaram respostas contraditórias. Embora 40% estejam otimistas em relação a estas iniciativas, 27% acreditam que estas iniciativas estão em risco e 33% estão incertos.

A UE definiu objetivos a longo prazo através de estratégias como o Pacto Ecológico5 e o Mercado Único Digital6 e, em junho de 2024, os líderes da UE chegaram a acordo sobre uma nova Agenda Estratégica que dá prioridade ao investimento nas transições ecológica e digital. Apesar destes compromissos, alguns desafios podem ser vistos como potenciais dificuldades na implementação dos ambiciosos planos da EU já existentes, contribuindo para dividir opiniões: as tensões geopolíticas em curso e a necessidade de alinhamento regulamentar e tecnológico; atualizar a infraestrutura e enfrentar as ameaças à cibersegurança.

Esperam-se políticas de imigração mais rigorosas na UE

Uma maioria significativa dos antigos alunos (76%) acredita que a política de imigração da UE tornar-se-á mais rigorosa. Este sentimento é provavelmente influenciado pelo atual fenómeno migratório e pelas pressões políticas daí decorrentes. O aumento das taxas de migração na Europa, impulsionado por zonas de conflito e dificuldades económicas nas regiões vizinhas, ampliou a preocupação pública sobre a segurança, a concorrência económica e a integração social, levando a expectativas de políticas de imigração mais rigorosas num futuro próximo.

Liderança portuguesa no Conselho Europeu: visões contrastantes

Quando questionados sobre a potencial liderança de António Costa no Conselho Europeu, as opiniões dos antigos alunos dividiram-se quase igualmente: 38% apoiando a ideia, 37% opondo-se e 25% indecisos. Estes dados refletem as várias perspetivas sobre o seu legado e incertezas mais amplas.

Um fórum de perspetivas

Em síntese, as conclusões deste inquérito sublinham a complexidade dos desafios que a UE enfrenta. A comunidade de antigos alunos do The Lisbon MBA apresenta opiniões diversas sobre o futuro da UE, equilibrando o otimismo e a preocupação, com uma visão partilhada sobre a provável tendência para políticas de imigração mais rigorosas.

Cristina Marques, alumna do The Lisbon MBA, turma de 2021/2023
Non-Executive Board Member NOS SGPS

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