Segundo o Censos de 2021, somos cada vez menos, há cada vez menos nascimentos e regista-se uma crescente emigração de jovens (parece que afinal, ao fim de dez anos, não são a troika, o Passos e o neoliberalismo que os põe a correr daqui para fora). O número de estrangeiros que escolhem Portugal para viver e trabalhar não é o suficiente para equilibrar a balança e a variação é negativa (apesar de Campo de Ourique ser um bairro luso-francês). A verdade dos números é que Portugal é apenas um ponto de passagem para melhores destinos. Os portugueses e o asno selvagem africano (a espécie animal que sofre a maior ameaça de vir a desaparecer em breve), estão em vias de extinção, como bem explica João Miguel Tavares nesta crónica. Se nada for feito e se nada acontecer de extraordinário, nós, tal como o asno, deixaremos de existir em algumas décadas.
Olha, foram 900 anos dos quais não nos podemos queixar: vivemos intensamente, à grande e na miséria, quase sempre como adolescentes inconsequentes, mas com laivos de genialidade e de coragem incomparáveis; não abdicámos da nossa língua, da boa comida, da boa vida e do sacrifício quando teve de ser. Deixámos pegadas em todos os cantos do mundo, fomos reguilas, resilientes, corajosos, cultos e preguiçosos. Fizemos História como poucos. Foi bom, extraordinário, comovente, até. Divertimo-nos à grande e pelo meio ainda conseguimos ensinar meio mundo a rezar. Mas pronto, já chega: não queremos multiplicar-nos, ninguém quer habitar aqui e quem tem a sorte de nascer, foge.
Perguntava um primo meu, em jeito de meditação num dos grupos de família: e isto importa? Porquê? Pois, a questão é mesmo essa. Se um país - o povo e a classe política que o governa - não se preocupa em sobreviver, é porque não importa. Não são prioridades nacionais elevar a natalidade, reter os jovens ou atrair imigrantes. Nem dos portugueses nem dos portugueses que nos governam. Nenhum político consegue chegar ao Parlamento através de um discurso estruturado nestes três pilares. Não dá votos. Ah, mas Portugal pode desaparecer... Pois, mas eu já cá não estou para assistir e espero que os meus filhos e netos estejam bem longe a vencerem na vida em países desenvolvidos.
Eu tenho seis filhos e acreditem que não os tive por motivos patrióticos, pelo contrário: confio mais nos filhos do que na segurança social, como garantia de subsistência na velhice. Tenho seis filhos porque posso, é simples. Mas a verdade é que não faz sentido ter muitos filhos em Portugal, é quase estúpido: é tudo mais difícil, mais caro, reduz as oportunidades profissionais, o futuro torna-se mais incerto e em 90% dos casos é matematicamente impossível sustentar todos em condições minimamente razoáveis. Não há dinheiro, não há tempo, não há casas e não há oportunidades.
Ou seja, à questão do meu primo respondo que não, não importa. Os países nascem e desaparecem assim como as civilizações e as línguas - ou o asno. É a vida. Mas aquilo que importa não é a consequência destes indicadores e sim o que eles representam: pobreza. Vivemos num país pobre e insistimos em eleger políticos que boicotam a criação de riqueza. Não há políticas de imigração, de natalidade ou de primeiro emprego que resultem em pobreza. Os números do Censos revelam a miséria dos nossos políticos e a falta de escrutínio, participação e exigência de um povo. É isto que nos levará à extinção. E bem merecida.
Jurista