Aveleda com vendas históricas de 44 milhões de euros em 2021

A boa performance em Portugal, onde a recuperação da restauração foi mais rápida do que o esperado, e nos mercados internacionais, designadamente com a multiplicação por seis das vendas para a Polónia, ajudam a explicar o sucesso. A tendência inflacionista é a preocupação para 2022.
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A Aveleda, o maior produtor de Vinho Verde, mas que conta já com presença no Douro, Bairrada e Algarve, encerrou 2021 com o melhor resultado de sempre, 44 milhões de vendas, mais três milhões do que no ano anterior. "Foi um ano simpático, em que crescemos mais em Portugal do que na exportação", explica Martim Guedes, co-CEO da empresa. O objetivo da Aveleda é chegar aos 50 milhões em 2025, uma meta que, a manter-se o ritmo de crescimento dos últimos dois anos, poderá vir a ser atingida mais cedo. O enoturismo é uma das áreas de investimento este ano, no Douro e no Algarve.

"Ainda não revimos a meta porque estes foram dois anos muito atípicos e, por isso, achamos que é cedo para tirar conclusões. Se calhar, daqui por um ano estaremos a pensar nisso", diz o gestor. 2021 fica também marcado por um recorde absoluto em volume, com a venda de 21,5 milhões de garrafas, um milhão a mais do que no ano anterior. O mercado nacional reforçou o seu peso, fruto de uma boa performance das marcas da Aveleda na grande distribuição, mas, sobretudo, da recuperação da restauração, que aconteceu "um bocadinho mais rápida do que estávamos à espera", admite Martim Guedes.

Em consequência, as exportações valem hoje 70% do volume de negócios da Aveleda, menos três pontos percentuais do que em 2020. "Foi um ano interessante, em que todas as marcas cresceram. Em termos absolutos, o crescimento mais relevante foi o de Casal Garcia, mas, em termos relativos, Vale Dona Maria [Douro] cresceu 44% e Vila Alvor, os nossos vinhos do Algarve, tiveram um crescimento superior a 72%", refere o responsável. Para esta performance contribuiu em muito a recuperação do turismo. "O primeiro semestre foi ainda muito fraco, mas tivemos um segundo semestre muito forte. O Algarve, quando arrancou, arrancou mesmo", sublinha.

Presentes em mais de 70 mercados, a Aveleda havia definido uma aposta reforçada em cinco mercados emergentes, que designa por Next 5: Polónia, Japão, México, China e Países Bálticos. Excluindo o Japão, onde o crescimento está a ser mais lento do que o esperado - "as coisas no Japão acontecem um ritmo que não é o que nós queremos, mas é cultural. Todos nos dizem para termos alguma paciência", refere Martim Guedes -, a empresa obteve resultados "interessantes" em todos eles. Mas houve "surpresa simpática" na Polónia, para onde multiplicou por seis as vendas do ano anterior, atingindo 1,2 milhões de garrafas em 2021. Parte das vendas são feitas na Biedronka, a marca de supermercados da Jerónimo Martins na Polónia, mas não só. "É um mercado onde nunca tínhamos tido muito sucesso, mas que explodiu em 2021", admite.

O sucesso internacional da Aveleda espelha aquilo que tem sido a evolução crescente do desempenho dos vinhos portugueses além-fronteiras. "Felizmente, temos vindo a ganhar quota de forma consistente nos principais mercados internacionais, à medida que ganhamos credibilidade e somos mais conhecidos lá fora. E isso está a ser muito transversal em todos os grandes mercados, sendo que o turismo também é muito importante para alavancar tudo isto", defende Martim Guedes, que elogia o trabalhado das diversas entidades ligadas ao vinho, do Instituto da Vinha e do Vinho à ViniPortugal, passando pelas comissões vitivinícolas e associações setoriais. "Tem havido cada vez mais um trabalho coordenado das entidades do setor, ao mesmo tempo que o nosso país deixa marcas em cada turista que nos visita e isso ajuda muito. Cada um deles representa mais um embaixador lá fora que ganhamos para os vinhos portugueses", frisa.

Quanto às perspetivas para 2022, o co-CEO da Aveleda assume-se "otimista", em termos comerciais, mas "apreensivo" com a questão da inflação. Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Canadá e França são os principais mercados externos da empresa, e todos eles "deram um grande salto" em 2020, e que "consolidaram" em 2021. "Temos todas as condições para que corra bem, o desafio agora é do lado das margens. Tivemos uma vindima relativamente magra nos Vinhos Verdes, e todos os fatores de produção vão no sentido do crescimento. Vai ser um ano para fazer muitas contas", alerta.

As previsões da Aveleda apontam para uma inflação de 14% nos seus custos de produção em 2022, sendo que metade disso tem a ver com o ano agrícola, leia-se a baixa produção nos Verdes que, apesar de contrariar as previsões iniciais, que apontavam para uma quebra de 15%, acaba por crescer apenas 5% face à vindima anterior. "Com a energia, os salários e a matéria-prima a subir, vai ser um desafio voltar a saber gerir a inflação, que é algo de que já nos tínhamos esquecido", destaca o gestor.

A Aveleda admite, por isso, fazer "alguns aumentos de preço", num exercício de equilíbrio difícil "entre o que é razoável subir e aquilo que o consumidor está disposto a pagar". Uma coisa é certa, 2022 vai ser um ano para trabalhar com margens mais curtas.
Em termos de novos mercados, a Aveleda havia conseguido um "resultado interessante" na Rússia, em 2021, com vendas de 240 mil euros. "É um mercado volátil, nunca foi muito estável, mas estávamos animados com os resultados conseguidos. Mas já não estamos a contar com isso", admite Martim Guedes, que falou com o Dinheiro Vivo ainda antes de se confirmar a invasão da Ucrânia.

Em termos de investimento, 2021 marcou o alargamento da adega da empresa em Penafiel para dar resposta ao crescimento. Um projeto de 1,2 milhões de euros que permitiu aumentar em mais 3,5 milhões de litros a capacidade de armazenamento da Aveleda, para um total de 15 milhões de litros. Além disso, a empresa passou a contar com uma adega mais pequena, exclusivamente para os seus vinhos premium, na região dos Vinhos Verdes.

Para este ano, a grande aposta é no enoturismo, com a abertura de dois novos pólos no Douro e no Algarve, num investimento global de quatro milhões de euros. Algo que já estava previsto aquando da compra da Quinta Morgado da Torre, em Alvor, em 2019, mas que, com a pandemia, acabou por atrasar. "Acreditamos que há uma oportunidade muito grande para o enoturismo no Algarve, dado que há um défice de oferta na região. Além disso, a Villa Alvor já é, segundo a Nielsen, a marca líder na região, o que nos dá mais conforto para avançar com este projeto", explica. O objetivo é construir um centro de visitas, com sala de provas, loja e restaurante. No Douro, a intenção é a mesma, mas em "ponto mais pequeno, algo mais exclusivo".

Ambos os projetos estão em fase de aprovação, sendo que o objetivo é lançar a primeira pedra ainda este ano. O enoturismo gerou 1,1 milhões de euros em 2021, quase tanto como antes da pandemia. A meta é chegar a 2025 com esta área de negócios a contribuir com três milhões de euros.

Em termos vitícolas, a Aveleda pretende em breve retomar o projeto de plantação de vinha na sua propriedade em Cabração, Ponte de Lima, agora que a Serra D'Arga foi excluída da prospeção e exploração de lítio pela Direção-Geral de Energia e Geologia. "Temos 140 hectares projetados, que não chegaram a avançar. Esta questão estava a prejudicar muito a nossa expansão, vamos agora retomá-la em força", diz Martim Guedes. O objetivo é chegar aos 600 hectares de vinha plantada nos Verdes.

Em termos de novos lançamentos, 2021 marcou a chegada ao mercado dos vinhos Arco d'Aguieira tinto 2016 e do Arco d'Aguieira branco 2017, a gama de vinhos da propriedade da Aveleda na Bairrada, a Quinta da Aguieira, um "projeto de nicho, de pequenos volumes e muito diferenciador". Foi também o ano passado que a Aveleda lançou o seu novo topo de gama do Douro, o Quinta Vale D. Maria Vinha do Moinho, um vinho que só será produzido em anos de excecional qualidade. Na sua primeira edição, foram lançadas 500 garrafas da vindima de 2012, postas à venda em julho, com um preço de venda ao público de 280 euros euros e que já estão totalmente vendidas.

Para 2022, a aposta da empresa está no alargamento da sua gama de brancos no Douro, com o lançamento de um Vale D. Maria Superior. Já em Casal Garcia, o vinho branco português mais vendido no mundo, e que hoje já conta com 12 rótulos distintos, entre vinho, sangria e espumante, o objetivo é alargar a gama aos vinhos com frutas. "É um segmento que tem tido muita recetividade por parte dos consumidores e que tem crescido muito em todo o mundo, nomeadamente em França, o mercado em que tem crescido mais", explica Martim Guedes.

Morango, Pêra e Melão são os sabores escolhidos e que deverão chegar ás prateleiras dos supermercados no início de maio. "Lançamos este produto em 2021, mas apenas no mercado da Finlândia, numa perspetiva de teste. Tendo tido resultados positivos, vamos agora lançar em todos os mercados, sobretudo em Portugal, onde temos fortes expectativas", refere este responsável, destacando que a procura por vinhos "mais fáceis e com grau alcoólico mais baixo" é uma clara macrotendência a que os produtores têm de se adaptar. O segmento de vinhos doces e sangrias pesa já 15% dentro da marca Casal Garcia.

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