
Os resultados líquidos (lucros) do setor bancário português atingiram um valor anualizado superior a 6,6 mil milhões de euros no terceiro trimestre, indicou o Banco de Portugal (BdP), esta quinta-feira.
Isto é, se o ano 2024 terminasse no terceiro trimestre (e assumindo ser este o perfil de lucros que se estende ao quarto trimestre, como presume o Banco de Portugal), significa que a banca estará prestes a obter um lucro global anual de cerca de 6,6 mil milhões de euros, valor que baterá um novo recorde e será assim o mais elevado de sempre, indicam as séries históricas oficiais fornecidas pelo banco central governado por Mário Centeno.
Tal como o emprego que continua a bater recordes, também os resultados da banca seguem este caminho imparável, estando a crescer 22% em termos homólogos (face ao período de janeiro a setembro de 2023).
Em 2023, a banca conseguiu lucrar 5,6 mil milhões de euros em termos anuais, o que representou uma explosão impressionante nos resultados na ordem dos 78% (face a 2022). É por isso que a subida de 22% é ainda tão significativa: ela surge em cima de uma rota de crescimento explosivo e imparável nos lucros da banca que dura desde o início de 2021.
A exuberância nos resultados dos bancos que operam em Portugal vem acompanhada de fatores positivos que permitem ao BdP dizer que a banca nacional está hoje muito mais forte e preparada para enfrentar uma nova crise, por exemplo, isto numa altura em que se fala cada vez mais disso e de incertezas várias, como a escalada de guerras e de conflitos comerciais, em larga escala.
Segundo a avaliação trimestral do Banco de Portugal ao sistema bancário português, ontem divulgada, a banca continuou a crescer em tamanho.
"No 3.º trimestre de 2024, o ativo total aumentou 0,6%", sobretudo devido à expansão dos empréstimos a clientes.
Neste contexto expansivo e apesar dos sinais crescentes de crise externa, o peso dos empréstimos não produtivos (os chamados NPL ou Non Performing Loans), onde se encontram os créditos malparados e em incumprimento, manteve-se estável em 2,6% do valor total de empréstimos. É o registo mais baixo desde final de 2015, pelo menos, segundo o BdP.
No entanto, com a subida das taxas de juro desde o início de 2022 (por causa do combate à inflação muito elevada espoletada pelas guerras), houve um agravamento ligeiro deste rácio no segmento do crédito à habitação.
Depois de o peso dos NPL ter atingido um mínimo de 1,1% no final desse ano 2022, ele começou a subir, tendo estabilizado agora em 1,4% do total no final do terceiro trimestre de 2024, indica o BdP. É, em todo o caso, um valor historicamente baixo, segundo mostram as séries longas do banco central.
Os resultados setoriais são, naturalmente, ditados pelos maiores bancos do setor.
Até setembro, só os cinco maiores bancos registaram um lucro de 3,9 mil milhões de euros, mais 20% do que um ano antes.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) é o maior banco em Portugal e lidera com 1,4 mil milhões de euros milhões de euros em lucros no período de nove meses que termina em setembro. O aumento do resultado do banco público foi de quase 40%. Este desempenho deverá gerar algum retorno direto para os contribuintes já que a CGD paga no ano seguinte dividendos ao seu acionista, o Estado, contribuindo para a receita do Orçamento do Estado.
Na verdade, os lucros dos outros bancos (privados) também ajudam a receita, mas por via dos impostos pagos e da contribuição extraordinária.
Nesse aspeto, o do lucro, o ano também está correr muito bem ao Santander Totta, que está no segundo lugar, com 778,1 milhões de euros (aumento homólogo de 25%) nos resultados líquidos.
O BCP segue de perto, com lucros de 714 milhões de euros (subida de 10%).
O BPI surge a seguir, com um resultado líquido de superior a 440 milhões (mais 14%).
Até setembro, o Novo Banco, que deve estar prestes a ser vendido depois de milhares de milhões em apoios públicos dos contribuintes, registou lucros importantes, superiores a 600 milhões de euros, valor que traduz uma ligeira retração face há um ano, indicou o NB.
Seja como for, seja qual for a medida de rendibilidade usada, parece que a banca portuguesa voltou a ser um bom negócio.
O BdP refere que "nos três primeiros trimestres de 2024, continuou a observar-se uma trajetória ascendente da rendibilidade".
"Face ao período homólogo, a rendibilidade do ativo (ROA) e do capital próprio (ROE) aumentou 0,21 pontos percentuais ou p.p. (para 1,46%) e 1,47 p.p. (para 16,1%), respetivamente", diz o estudo ontem divulgado.
Como as perdas decorrentes de créditos malparados e imparidades (portanto, empréstimos que não são de todo pagos e que têm de ser simplesmente abatidos ao balanço dos bancos) até estão a aliviar, também o risco assumido pelos bancos está mais baixo.
"No mesmo período, o custo do risco de crédito situou-se em 0,09%, uma redução de 0,37 p.p, em termos homólogos, justificado pela diminuição das perdas de imparidade de crédito", explica o Banco liderado por Mário Centeno.