Bancos dos países periféricos cada vez mais dependentes de financiamento

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Os reguladores bancários europeus, onde se destaca o Banco Central Europeu (BCE), vão realizar testes de stress aos bancos da União Europeia (UE), de modo a determinar o nível de liquidez dos mesmos.

Isto torna-se um problema no atual contexto financeiro. Após o início da crise de 2008 (que começou precisamente com a falência de um banco, o Lehman Brothers), o sistema financeiro mundial teve perto de colapsar. As instituições bancárias europeias acabaram por refletir os problemas originados nos Estados Unidos da América (EUA), que derivaram da falta de capital, compensada, neste caso, pelas injeções de liquidez realizadas pela Reserva Federal dos EUA.

Deste lado do Atlântico, embora um pouco mais tarde, o BCE acabou por fazer o mesmo, ao desenvolver mecanismos de financiamento para os bancos da UE. A questão neste momento é a elevada dependência que os bancos ainda têm em relação a estes esquemas de financiamento de baixo custo.

O Financial Times (FT) aborda este mesmo tópico num artigo publicado no seu site esta quinta-feira. O jornal começa por citar o caso de três bancos italianos - UBI Banca, Banca Popolare dell" Emilia Romagna e Mediobanca - que, na semana passada, voltaram a emitir obrigações cobertas (instrumentos de dívida de baixo risco apoiados por outros créditos, tendo normalmente grandes maturidades e ratings de crédito elevados, dependendo da qualidade dos créditos subjacentes que cobrem estas obrigações), num total de 2,75 mil milhões de euros, um recorde semanal para bancos italianos não estatais.

Este regresso surge após o teste de sobrevivência superado pelo Governo do primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, depois da ameaça do ex-primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, de romper o Governo formado em abril, o que levaria, muito provavelmente, à realização de eleições antecipadas.

O FT defende que, a pensar nos testes de stress que se irão realizar no próximo ano, outros bancos da periferia da Europa devem fazer o mesmo.

"Tem haver com aumentar a credibilidade dos mercados", disse Ralf Grossmann, chefe de obrigações cobertas no Société Générale, citado pelo FT. "Há um grande potencial [para a emissão de dívida] na periferia, porque há algum tempo que [os bancos] têm estado ausentes do mercado e querem mostrar que 'conseguimos fazer isto'", disse. Só este ano, os bancos da periferia europeia contabilizam mais de um terço, ou 31,7 mil milhões de dólares (cerca de 23,2 mil milhões de euros), do total de obrigações cobertas dos bancos da Zona Euro emitidas este ano. A maior proporção desde 2006, avança o FT.

"Os bancos estão a acelerar os seus planos de financiamento, para demonstrar reabilitação e enviar um sinal aos investidores", disse Vinod Vasan, diretor-geral de mercados de capital de dívida das instituições financeiras no Deutsche Bank , também citado pelo Financial Times. "Há um grupo de bancos que não se têm financiado nos mercados, mas mais e mais estão a surgir", acrescentou.

Desde a intervenção do BCE no sistema bancário espanhol, os bancos nacionais voltaram a ser capazes de emitir dívida. O primeiro a recomeçar este processo foi o BBVA, o segundo maior banco espanhol em ativos, que emitiu obrigações cobertas com uma maturidade de cinco anos, em novembro do ano passado.

O FT salienta que não é espanto nenhum que os bancos estejam famintos por aumentos de capital, tendo em conta que os reguladores da UE preparam-se para penalizar quem ainda depender demasiado do mecanismo de financiamento de baixo custo do BCE.

Por outro lado, o jornal destaca o caso do espanhol Banco Popular, que teve dificuldades em atrair procura para os 750 milhões de dólares (cerca de 549 milhões de euros) de dívida que emitiu no início de setembro. É de salientar que esta emissão foi, de certa forma, prejudicada pela incerteza que se fazia sentir nessa altura em torno da política monetária dos EUA.

Adicionalmente, a proporção de incumprimentos de crédito face ao total de empréstimos bancários continua a aumentar em Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, de acordo com o Royal Bank of Scotland.

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