Os bancos portugueses estão a sentir na pele os efeitos nefastos da crise de dívida soberana e os consequentes cortes de rating. No mercado de capitais, a pressão vendedora tem retirado milhões de euros a cada dia e a cada hora que passa.Tudo somado, os quatros bancos cotados já perderam 3,28 mil milhões de euros desde o início do ano. Na prática, isto significa que a capitalização bolsista emagreceu em 23,4 milhões de euros por dia ou em 2,75 milhões por cada hora de negociação."Os principais motivos destas fortes perdas são a degradação do ambiente económico português e as dificuldades e custos acrescidos no financiamento do sector", afirma o presidente da corretora Dif Broker. Pedro Lino justifica que "este conjunto de factores leva à saída dos investidores dos bancos, numa altura em que a situação política europeia está muito confusa e cheia de indefinições".Na análise individual (ver caixas em baixo), o BCP arrecada a fatia de leão ao ser o banco que mais valor de mercado perdeu até hoje. Contas feitas, do banco liderado por Carlos Santos Ferreira já se evaporaram 1,91 mil milhões de euros, ou seja, mais de metade do montante total de perdas dos quatro bancos cotados. Logo atrás estão os 701 milhões e os 501 milhões de euros que se dissiparam do BES e do BPI. No extremo oposto está o Banif, que viu desaparecem 216 milhões de euros da sua capitalização bolsista.Submetidos aos testes de stress, BES, BPI e BCP passaram no exame com nota positiva ao apresentarem níveis de resistência superiores ao mínimo exigido. Apesar de contribuir para acalmar a incerteza dos investidores, as provas podem não ser suficientes para inverter a contínua queda das cotações e reconquistar as perdas acumuladas."Não creio que terem passado nos testes de stress seja um catalisador. Enquanto a situação grega não estiver definida e não for encontrada uma solução europeia para o problema da dívida, os bancos vão continuar pressionados, porque os investidores não vão querer arriscar investir em países que não têm um apoio unânime da UE", alerta Pedro Lino.Como se não bastasse, a banca voltou a estar na mira da Moody"s que, na sexta-feira, cortou a classificação de dívida de sete instituições, colocando cinco no nível já considerado de "lixo", entre os quais BES e BCP.Escapou o BPI, mas apenas por um nível.@page { size: 8.5in 11in; margin: 0.79in }P { margin-bottom: 0.08in }Preços de saldo nãoatraem estrangeirosAs perdas de capitalizaçãobolsista acumuladas em 2011 são sinónimo de fortes desvalorizaçõesdas cotações dos quatro bancos. Aos actuais preços de saldo, osector arrisca-se a tornar mais apetecível aos olhos de um giganteinternacional. No entanto, para Pedro Lino esta parece ser uma ideiaremota:_"Não me parece que se esse cenário se coloque porque orisco de Portugal é demasiado elevado para um qualquer banco epoderia colocar em causa o seu próprio rating". O analistaconsidera que "apenas quando a situação europeia estabilizar éque pode pensar num qualquer tipo de operação, seja fusão,aquisição ou vendas de partes do negócio".A radiografia das perdasBCP: -1,91mil milhões2011 vai ser, quase de certeza, um ano que o BCP vai tentar esquecer. Os títulos do banco liderado por Carlos Santos Ferreira acumulam uma desvalorização de 45% desde o arranque do ano, o equivalente a uma perda de 1,91 mil milhões de euros em capitalização bolsista. Na prática, este valor representa mais de metade das perdas registadas pelos quatro bancos cotados em 2011. Além de ter sido, entre as quatro instituições nacionais testadas, a que apresentou o rácio de capital core tier 1 mais baixo nas provas de resistência (de 5,4%), a Moody"s colocou o seu rating em "Ba1", um nível considerado de "lixo".BES: -701milhõesRicardo Salgado não tem igualmente motivos para estar satisfeito com a performance dos títulos do banco desde o arranque do ano. O BES já viu a sua capitalização bolsista emagrecer em 701 milhões de euros, fruto da desvalorização de 21% que as acções acumulam em 2011. A instituição também não escapou à razia da agência de notação financeira internacional Moody"s e viu o seu rating recuar em dois níveis, para "Ba1", igualmente sinónimo de "lixo". Ainda assim não tudo são más notícias, uma vez que o BES foi o banco nacional com o melhor resultado dos testes de stress, ao apresentar um rácio de capital de 7%.BPI: -451milhõesO Banco BPI também não é excepção à hecatombe que o sector financeiro português está a viver por causa da tragédia grega. Contas feitas, já se evaporaram 451 milhões de euros do valor de mercado da instituição liderada por Fernando Ulrich, equivalente a uma perda de 33% acumulada pelos títulos desde o arranque do ano. Nos provas de resistência feitos à banca europeia, o BPI_arrecadou o segundo lugar em Portugal ao apresentar um rácio de 6,9%. Além disso, o banco conseguiu escapar por um triz ao "lixo", depois de a Moody"s ter cortado o seu rating para "Baa3", um nível acima dessa classificação.Banif: -216 milhõesPor ser uma instituição de menor dimensão, o Banif é entre os quatro bancos cotados aquele que apresenta as menores perdas em Bolsa. Na prática, a instituição financeira presidida por Joaquim Marques dos Santos perdeu 216 milhões de euros da sua capitalização desde o início do ano. Ainda assim, em termos percentuais, os títulos do banco acumulam uma regressão de 42% em 2011, uma das mais altas entre as 20 cotadas do índice de referência nacional. O Banif não foi alvo dos testes de stress e a Moody"s já lhe tinha sido atribuído o rating com a categoria de "lixo" no final do mês de Junho.