BCE ameaça que pode cortar taxas uma vez e ficar por aí

Já a Reserva Federal anunciou ontem que, por enquanto, manterá taxas em máximos, mas reafirmou cenário que aponta para três cortes em 2024.
BCE ameaça que pode cortar taxas uma vez e ficar por aí
Publicado a

As taxas de juro da Zona Euro podem muito bem descer uma vez (a maioria dos observadores do mercado diz que sim, é muito provável em junho) e depois o ciclo de descidas morrer aí até que o recuo da inflação convença o Banco Central Europeu (BCE) de que é seguro prosseguir com o cada vez mais desejado alívio monetário, avisou ontem, quarta-feira, a presidente do BCE, Christine Lagarde, numa conferência em Frankfurt.

Ontem também, nos Estados Unidos, a Reserva Federal (Fed) manteve as taxas de juro diretoras em máximos, mas não tocou no seu cenário mediano para 2024, que continua a apontar para um corte cumulativo de 0,75 pontos percentuais (p.p.) até ao final deste ano.

No referido debate, na Universidade Goethe, Lagarde como que deitou como que um balde de água fria sobre o número crescente de famílias e empresas que pedem ao BCE um alívio no juros.

A presidente da autoridade monetária disse "compreender" esse anseio, mas endureceu logo o discurso.

"As nossas decisões têm de continuar a depender dos dados e de reunião a reunião, respondendo a novas informações à medida que estas forem surgindo. Isto implica que, mesmo após o primeiro corte de taxas, não nos podemos comprometer previamente com uma determinada trajetória de taxas", alertou Lagarde.

A maioria dos agentes de mercado tem vindo a apostar num primeiro corte de 0,25 pontos percentuais em junho nas taxas do BCE, que estão em máximos de quase duas décadas.

"Se esses dados revelarem um grau suficiente de alinhamento entre a trajetória da inflação subjacente [sem contar com alimentação e energia] e as nossas projeções, e partindo do princípio de que a transmissão monetária continua a ser forte, poderemos passar à fase de desaceleração do nosso ciclo e tornar a nossa política menos restritiva", referiu a ex-chefe do FMI.

"Mas, depois disso, as pressões internas sobre os preços continuarão a ser visíveis. Esperamos que a inflação dos serviços, por exemplo, se mantenha elevada durante a maior parte deste ano. Assim, haverá um período em que teremos de confirmar, numa base contínua, que os dados que nos chegam apoiam as nossas perspetivas de inflação", acrescentou.

A taxa central do BCE está em 4,5%. A próxima reunião da instituição acontece no próximo dia 11 de abril.

Nos Estados Unidos, o intervalo da taxa de juro do banco central (Fed) ficou inalterado em 5,25%-5,5%. Ontem, ao final do dia (hora de Portugal), o presidente do conselho de governadores dos EUA, Jerome Powell, referiu não estar ainda "confiante" num alívio persistente e duradouro do curso da inflação até aos almejados 2%.

Em todo o caso, Powell evitou alterar o quadro narrativo dos últimos meses (de que poderá descer taxas de juro várias vezes até ao final deste ano). Por exemplo, nesta reunião, a Fed manteve a sua projeção mediana para as taxas de juro no final de 2024 num ponto intermédio entre os 4,5% e os 4,75%.

Ou seja, segundo a esmagadora maioria dos analistas de mercados, tal significa que a Fed continua a esperar poder cortar juros num equivalente a 0,75 pontos percentuais (p.p.) até dezembro de 2024, eventualmente em três descidas de 0,25 p.p. cada. Quando? Isso ainda não é claro.

Sobre os últimos tempos, a Fed toma nota de que "os indicadores recentes sugerem que a atividade económica tem vindo a expandir-se a um ritmo sólido", com "a criação de emprego a manter-se forte e a taxa de desemprego a manter-se baixa".

No entanto, embora a Fed sinalize que a "inflação abrandou no último ano", esta "mantém-se elevada", o que no fundo, é o principal argumento para ter mantido, por agora, o aperto máximo nas taxas de juro oficiais norte-americanas, que estão no nível mais alto dos últimos 20 anos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt