
As três taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu (BCE) ficaram inalteradas, na sequência da reunião de política monetária de março, que decorreu esta quinta-feira, em Frankfurt. A autoridade revelou ainda que o crescimento económico europeu vai fraquejar ainda mais do que se pensava, mas, pelos vistos, os preços podem cair mais depressa e, assim, BCE pode cantar vitória mais cedo pois deve chegar ao seu objetivo de inflação de 2% já em 2025, segundo as novas previsões que hoje divulgou.
A taxa de juro central de refinanciamento aos bancos comerciais da Zona Euro fica, assim, num dos valores mais altos de sempre, em 4,5% (está neste nível desde setembro do ano passado), o que sinaliza já meio ano de aperto máximo nas condições de crédito às famílias e empresas. A taxa de depósito do BCE mantém-se em 4%. A taxa marginal de empréstimos em 4,75%.
Inflação quase domada, economia bloqueada
A autoridade presidida por Christine Lagarde anunciou também que a previsão para a taxa de inflação deste ano foi revista em baixa significativa, de 2,7% (previsão média feita em dezembro) para 2,3%, agora.
"Desde a última reunião do Conselho do BCE em janeiro, a inflação registou nova descida", refere o BCE numa nota oficial publicada no site da instituição.
"Nas projeções mais recentes elaboradas por especialistas do BCE, a inflação foi revista em baixa, em particular para 2024, o que reflete sobretudo um contributo menor dos preços dos produtos energéticos. Os especialistas do BCE projetam agora que a inflação seja, em média, de 2,3% em 2024, 2% em 2025 e 1,9% em 2026".
O alívio no ritmo dos preços dos bens mais básicos e essenciais, como alimentos e energia, parece estar a ajudar a puxar a inflação um pouco mais para baixo.
Assim é porque "as projeções para a inflação excluindo preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares também foram objeto de uma revisão em baixa, sendo, em média, de 2,6% em 2024, 2,1% em 2025 e 2% em 2026."
Mas, como a inflação ainda não está no ponto desejado, os juros altos vão continuar e a economia (sobretudo o consumo das famílias e o investimento das empresas) a perder gás, a olhos vistos.
Segundo o BCE, a evolução esperada do crescimento em 2024, enfraqueceu de novo e só deve chegar a 0,6%, quase uma estagnação. Há três meses, a projeção do BCE apontava para 0,8% em 2024. Há um ano, em março de 2023, a previsão de Frankfurt apontava para uma expansão de 1,6% este ano (mais do dobro do que prevê agora).
Salários complicam descida da inflação
Segundo o BCE, "embora a maioria das medidas da inflação subjacente tenham registado novo abrandamento, as pressões internas sobre os preços permanecem elevadas, devido, em parte, ao forte crescimento dos salários".
"As condições de financiamento são restritivas e os anteriores aumentos das taxas de juro continuam a pesar sobre a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação".
Este peso sobre a procura, sobre o Produto Interno Bruto, continua a fazer estragos, claro.
"Os especialistas do BCE reviram em baixa, para 0,6%, a projeção relativa ao crescimento [económico] em 2024, devendo a atividade económica permanecer fraca no curto prazo."
"Posteriormente, esperam que a economia recupere e registe um crescimento de 1,5% em 2025 e 1,6% em 2026, apoiada, no início, pelo consumo e, mais tarde, pelo investimento", explica o BCE.
Manter juros altos através do fim das bazucas
Como já foi amplamente noticiado, o nível muito elevado de taxas de juro da Zona Euro não é produto apenas da manipulação das taxas de juro diretoras (a taxa central refi começou a subir em julho de 2022 de 0% e hoje está num dos valores mais altos de sempre na história da zona euro, 4,5%).
É que o BCE também tem vindo a devolver aos mercados secundários (a deixar de reinvestir no seu balanço) quantidades monumentais que detinha em obrigações do tesouro (OT) e outros títulos, com obrigações de grandes empresas. Este movimento é outra forma de pressionar em alta as taxas de juro de mercado, pois traduz-se numa abundância enorme na oferta desse tipo de títulos.
Assim, o banco central reiterou esta quinta-feira que " carteira do programa de compra de ativos (asset purchase programme ‒ APP) está a diminuir a um ritmo comedido e previsível, dado que o Eurossistema deixou de reinvestir os pagamentos de capital de títulos vincendos [que chegam à maturidade]".
E a outra grande bazuca de dinheiro muito barato, a da pandemia, que ainda está a funcionar, também irá ser desligada no final do ano.
"Durante o primeiro semestre de 2024, o conselho do BCE tenciona continuar a reinvestir, na totalidade, os pagamentos de capital dos títulos vincendos adquiridos ao abrigo do PEPP [programa de compra de ativos devido a emergência pandémica]".
No entanto, no segundo semestre do ano, o BCE diz que "pretende reduzir a carteira do PEPP, em média, em 7,5 mil milhões de euros por mês" e promete "descontinuar os reinvestimentos no contexto do PEPP no final de 2024".