O Banco Europeu de Investimento (BEI) emprestou 2,3 mil milhões de euros a Portugal em 2020, naquele que será um dos maiores valores de sempre e que vale um salto de 44% face a 2019, revelou Ricardo Mourinho Félix, um dos oito vice-presidentes da instituição, esta terça-feira.
Mais de metade do valor concedido em forma de crédito barato foi absorvido por empresas em dificuldades por causa da crise pandémica e das medidas de confinamento associadas.
"Em 2020, o Grupo BEI apoiou 27 operações em Portugal num volume total superior a 2300 milhões de euros", mais 44 % em relação a 2019, refere o banco da União Europeia. E o equivalente a 1,2% do produto interno bruto (PIB).
Deste pacote de empréstimos, que é um dos maiores de que há registo, mais de 1300 milhões de euros foram para "respostas à covid-19", isto é, verbas para apoiar "empresas portuguesas afetadas pela pandemia". Para terem liquidez, ajudar a pagar salários, por exemplo.
"A pandemia da covid-19 evidenciou ainda mais a necessidade de apoiar as pequenas e médias empresas (PME), as mais atingidas pela crise", diz o banco.
Assim, "o Grupo BEI, enquanto banco da União Europeia, respondeu à crise, assinando dez operações num montante superior a 1300 milhões de euros para apoiar a rápida mobilização de financiamento para as PME".
Deste modo, o BEI calcula que 72% dos empréstimos mobilizados em Portugal "destinaram-se a apoiar as necessidades de liquidez das PME e a assegurar os fundos necessários para a manutenção da sua atividade e a preservação do emprego".
Ricardo Mourinho Félix, o ex-secretário de Estado do então ministro das Finanças, Mário Centeno, é o responsável pela atividade do banco em Portugal.
Aos jornalistas disse que "em 2020, o Grupo BEI esteve com os cidadãos portugueses", "demos uma resposta notável à crise económica causada pela covid-19".
Mourinho Félix referiu que "mais de metade financiamento destinou-se a mitigar os efeitos económicos causados pela pandemia e quase três quartos do financiamento foi afeto às pequenas e médias empresas, proporcionando-lhes o apoio financeiro necessário para pagarem salários e despesas e para preservar emprego".
"Tenho muito orgulho do trabalho que estamos a fazer por Portugal e pela Europa. Em 2020, o BEI fez muito; em 2021, faremos ainda mais para reconstruir um futuro melhor. Bem-vindo seja 2021", acrescentou.
Portugal é o quarto mais apoiado em proporção do PIB
"Mais uma vez, em 2020, Portugal esteve entre os cinco países da UE que mais apoio financeiro receberam do Grupo Banco Europeu de Investimento (BEI), em percentagem do PIB." É o quarto em 2020, usando essa medida.
Em 2019, o grupo dos mais apoiados (tendo em conta a dimensão da economia) eram, por esta ordem, Grécia, Estónia, Portugal, Bulgária e Polónia.
O BEI é um banco grossista, isto é, não empresta diretamente às empresas ou a entidades públicas (como autarquias, por exemplo). Os seus fundos são escoados através dos bancos comerciais, que depois, sim, emprestam às empresas. Os projetos financiados têm no entanto de ser aprovados pelo BEI.
Neste balanço de 2020, o BEI destaca "o empréstimo de 340 milhões de euros à Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD, atual Banco Português de Fomento), dois acordos com o Grupo Santander no montante de 489 milhões de euros, bem como duas operações com o Banco Montepio no montante de 229 milhões de euros".
"Estes acordos com instituições financeiras portuguesas permitem-lhes disponibilizar às empresas recursos essenciais para financiarem o fundo de maneio e assegurarem as suas necessidades de liquidez, promovendo simultaneamente o crescimento económico inclusivo e a preservação de postos de trabalho no país", declara a instituição financeira sediada no Luxemburgo.
O dinheiro do BEI serve para quê
O BEI começou a sua atividade em Portugal (através de empréstimos) em 1976. Segundo a instituição, ao todo, neste 44 anos, foram financiados 469 projetos, com um total de 52 mil milhões de euros injetados na economia.
"O BEI trabalha com Portugal desde 1976, tendo modernizado infraestruturas em todo o país e melhorado a acesso de muitas pequenas empresas ao financiamento", refere.
Como exemplos destaca o investimento "na The Navigator Company para melhorar a produção na fábrica de pasta de papel localizada na Figueira da Foz", diz que "ajudou a transformar Lisboa numa cidade mais atrativa para famílias e empresas" e que até apoiou "uma fabricante de brinquedos, a Science4You, a expandir-se na Europa e no resto do mundo".