
O nível de bem-estar dos portugueses - um novo indicador elaborado pelo Banco de Portugal (BdP) que usa o valor do consumo por pessoa (per capita), a esperança média de vida à nascença (em anos), o tempo de lazer per capita e a desigualdade do consumo - tem vindo a recuperar lentamente face à média europeia ao longo dos últimos 27 anos (entre 1995 e 2022), mas continua significativamente abaixo dos padrões europeus.
Em 2022, no grupo dos 27 países da União Europeia (UE), Portugal registou o 12.º nível de bem-estar mais baixo, sendo ultrapassado por países como Espanha, Chipre ou Eslovénia.
De acordo com o BdP, em Portugal, em 2022, o nível de bem-estar por habitante equivalia a 87% do valor de referência da União Europeia, mas é de assinalar, por exemplo, que, apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) per capita português ser inferior (menos rico, segundo esta métrica mais clássica) ao de vários países da Europa, sobretudo do Leste, Portugal consegue suplantar vários, se tivermos em conta esta medida mais abrangente do bem-estar e não nos cingirmos unicamente à dimensão PIB.
Por exemplo, está-se melhor (bem-estar superior) em Portugal do que na Polónia, Estónia, Lituânia ou República Checa, por exemplo, países com PIB per capita superior ao nacional, supostamente mais ricos, mostra a nova pesquisa com a chancela do BdP.
Ou seja, inversamente, Portugal pode ser mais pobre (em termos de PIB per capita) quando se compara com estes quatro países, mas o nível de vida dos portugueses medido pelo índice de bem-estar é claramente superior ao dos polacos, estónios, lituanos e checos.
Assim, "a avaliação do nível de vida em Portugal com base no índice de bem-estar é mais favorável que a resultante do PIB per capita. Portugal passa da 20.ª posição do ranking com base no PIB per capita para 16.ª usando a medida de bem-estar (situando-se 8 pontos percentuais mais próximo da média da UE).
No caso português, em 2022, o aumento do bem-estar "reflete o maior peso do consumo no PIB e a maior esperança de vida em Portugal, que mais do que compensam a maior desigualdade e o menor tempo de lazer". Em contrapartida, o estudo deteta um "resultado oposto que surge na maioria dos países do centro/leste da Europa, refletindo menor esperança de vida e tempo de lazer".
O estudo indica que a esperança média de vida (que é maior em Portugal face à média da Europa) é o fator que mais contribui para elevar o nível de bem estar nacional.
O Banco de Portugal avisa ainda que "o aprofundamento do processo de convergência exige que a melhoria relativa nas dimensões analisadas se mantenha", enfatizando que "o aumento da esperança de vida e do tempo de lazer, assim como a redução da desigualdade devem continuar a fazer parte do processo de decisão da política económica".
A lenta melhoria ou convergência
Entre 1995 e 2022, "o bem-estar dos portugueses aproximou-se do da média da UE nos últimos 27 anos, refletindo a melhoria relativa em todas as componentes, com destaque para o aumento da esperança média de vida e para a redução da desigualdade", explica o trabalho.
Mas este fenómeno não é um exclusivo de Portugal. Segundo o BdP, o bem-estar também "aumentou em todos os países da UE, refletindo o aumento do consumo e da esperança de vida". E "o diferencial de crescimento face ao PIB per capita foi positivo em todos os países, com exceção de Malta, Bulgária e Irlanda".
Ou seja, em todos os países menos nestes três, o nível de vida é melhor do que sugere a simples medição clássica do PIB per capita.
"O bem estar de Portugal aproximou se do nível da UE nas últimas três décadas", sendo que, em 2022, esse bem-estar "correspondia a 87% da média da UE, o que sugere um nível de vida superior ao medido pelo PIB per capita", afirma o Banco.
O ranking do bem-estar europeu é liderado pelo Luxemburgo e pela Bélgica, onde este indicador é 171% e 139% da média europeia, respetivamente. A Bulgária ocupa o último lugar, com um bem-estar per capita de apenas 40% do nível da UE.
Este novo estudo em pré-publicação, esta quarta-feira, mas que irá integrar o boletim económico de março, a ser divulgado na íntegra na semana que vem (sexta-feira, 22), baseia-se no trabalho original do índice de bem-estar proposto pelos economistas Charles Jones e Peter Klenow, em 2016, "utilizando dados de consumo, tempo de lazer, esperança média de vida à nascença e desigualdade do consumo em cada país".
"O bem-estar será tanto maior quanto maior for o consumo, o tempo de lazer e a esperança média de vida e quanto menos desigual for o país", notam os autores do BdP.
O PIB per capita, indicador tipicamente utilizado nas análises sobre quão bem se está num país, numa economia, na verdade "não contabiliza dimensões relevantes do bem estar, como a saúde, a educação, o lazer ou a qualidade do meio ambiente", diz o BdP. Assim, "a inclusão destas dimensões na análise permite evitar um foco excessivo das políticas públicas no aumento do PIB e favorecer medidas que influenciem outros aspetos da qualidade de vida dos cidadãos", acrescenta.
Como referido, "o índice de bem-estar em Portugal situava-se em 87% em 2022, o que significa que o consumo na UE teria de se reduzir 13% para que fosse indiferente a um cidadão viver em Portugal ou numa economia com as características da média da UE", diz o estudo do banco central governado por Mário Centeno.
Comparando com a média da UE, daquelas quatro dimensões que servem de base para calcular o bem-estar, "todos os fatores, com exceção da esperança média de vida - mais elevada em Portugal -, contribuem para o menor nível de vida face à UE", diz o BdP.
"A diferença no consumo per capita explica a maior proporção do diferencial negativo." Ou seja, é na dimensão mais puramente económica que os portugueses são mais prejudicados no bem-estar. Isso foi particularmente visível nalguns anos do programa de ajustamento (de 2011 a 2012) e em 2022, com o início da crise inflacionista e o ciclo de forte aperto nas taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE).