Comecemos pelos números: entre 2008 e 2010, nos festivais de música em Portugal, produziram-se 276 toneladas de lixo, 80% das quais a partir de copos, de acordo com a Fundação Ponto Verde. Ana Sofia Malta e Hugo Moreira sabem este número de cor mas também memorizaram o dia em que, em 2012, decidiram que queriam ter impacto nessa realidade. Conversaram pela primeira vez sobre a Bio Poli- quando ainda era só uma ideia - no dia em que viajaram para Lisboa para assistirem a um festival de verão. "Depois dos concertos notámos que o chão ficou cheio de copos descartáveis, uma grande lixeira", recorda Ana Sofia, designer.
Do choque a uma ideia para mudar o mundo - pelo menos esse mundo - passaram menos de dois anos. "Começámos a investigar, a tentar perceber a gravidade de ter tantos copos no chão, e concluímos que um copo, depois de ser utilizado e deitado fora, vai para aterros onde pode demorar até 400 anos a degradar-se." Demasiado tempo, pensaram. "É pura matemática: cada pessoa usa três copos, em média, num dia de festival. Em 2004, houve 1,1 milhões de pessoas nos festivais de verão. Basta fazer as contas. E só falamos do nicho dos festivais", esclarece Hugo.
Em menos de dois anos, investigaram e escolheram materiais para pôr em prática o desenho do primeiro protótipo da Bio Poli: criaram um sistema de copos reutilizáveis, feitos a partir de plástico de origem vegetal - uma matéria-prima mais ecológica que pode vir do milho (que cria um copo biodegradável) ou da cana do açúcar (que cria um copo reciclável) -, que podem ser personalizados com as identidades visuais das empresas para as quais são produzidos. Ao longo deste último ano foram trabalhando no desenvolvimento do produto no Living Lab Cova da Beira onde, em dezembro, criaram a Poli Design Studio, a empresa-mãe da Bio Poli e onde recentemente receberam a notícia da Menção Honrosa nos Green Project Awards, pelodesenvolvimento do copo amigo do ambiente.
"Quisemos aliar a sustentabilidade ao design. (...) A nossa ideia é que os consumidores usem os copos durante eventos e que, depois, continuem a utilizá-los em casa, no trabalho. Em termos de custo, quando comparado com um descartável, fica mais dispendioso. Mas depois, se virmos outras vantagens, os recintos ficam menos sujos e existem menos custos com a limpeza, por exemplo", detalha Ana. A partir de maio, a dupla conta ter na rua os primeiros copos para dar seguimento aos contactos com clientes. E Ana e Hugo não descartam outros voos: fraldas para bebés e cotonetes podem ser as novas "cobaias" reutilizadas - e repensadas - pela empresa.