A ação promocional Black Friday, realizada anualmente nos EUA após o dia de Ação de Graças, foi sendo exportada nos últimos anos um pouco por todo o mundo, tornando-se hoje um fenómeno global de vendas. Em Portugal, não só este dia de Black Friday, mas o consumo em geral continua a bater recordes como indicam os recentes dados do Instituto Nacional de Estatística..No terceiro trimestre deste ano, as despesas de consumo final das famílias residentes no país ultrapassaram, pela primeira vez, a fasquia dos 32 mil milhões de euros sendo um novo máximo histórico da série do INE, que começou em 1995 e tem estado a bater recordes sucessivos desde o segundo trimestre de 2018. A aceleração do consumo privado foi mesmo uma das notas marcantes da evolução da economia portuguesa no terceiro trimestre do ano, tendo crescido 2,3% em termos homólogos. Foi graças a este dinamismo do consumo das famílias portuguesas que o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB se manteve inalterado face ao segundo trimestre, situando-se em 3,2 pontos percentuais, constituindo um fator decisivo para sustentar o crescimento da economia portuguesa..Mas, no que respeita particularmente ao Black Friday que razões explicam este sucesso não só em Portugal mas em toda a Europa? Sem dúvida os seguintes: a notoriedade desta moda americana, os preços baixos praticados, realizar-se muito perto do Natal e acontecer no mês em que as famílias já receberam o subsídio de Natal..Contudo, à medida que o fenómeno se foi expandindo e consolidando, também a resistência a esta ação tem vindo a crescer. Uma das vozes que se levantou publicamente contra o Black Friday foi a do ministro do Ambiente, Matos Fernandes, para quem este dia de desconto nas lojas é um “contrassenso” e o “expoente máximo e negativo de uma sociedade capitalista”..Em França, foi recentemente apresentada por Delphine Batho, ex-ministra da Ecologia, do Desenvolvimento Sustentável e da Energia, uma proposta de lei para proibir o Black Friday, com o argumento de que este dia de descontos gera um “desperdício de recursos” e um “consumo excessivo”. Também no Reino Unido, em Espanha e noutros países, o Black Friday deste ano foi marcada por ações de protesto e bloqueio. Em Maastricht, na Holanda, estudantes planearam um cordão humano contra o consumo excessivo relacionado com os descontos praticados neste dia e, na área metropolitana de Tóquio, centenas de pessoas manifestaram-se no bairro comercial de Shinjuku contra a falta de interesse dos japoneses relativamente às alterações climáticas e a sua entrega cega às promoções..Também nesta questão, como em tudo na vida, as posições extremas são inimigas da clarividência e prejudicam sempre a análise racional e equilibrada dos factos. O Black Friday é apenas mais uma das muitas ações promocionais que as empresas comerciais realizam ao longo de um ano para ativar e dinamizar as suas vendas e assim deverão ser interpretadas pelos consumidores. As “loucuras”, a que por vezes se assiste nas lojas neste dia, são tão criticáveis quanto as ações de contestação atrás referidas e em nada contribuem de positivo para o consumo consciente que todos defendemos e queremos praticar..A pessimista contestação distópica é geralmente tão fantasiosa e irrealista quanto a aceitação otimista, acrítica e utópica, pois ambas têm o mesmo desprezo pela realidade. E, a realidade é que o Consumo nas suas diversas vertentes foi, é e continuará a ser sempre, o maior fenómeno económico da humanidade e a grande alavanca da evolução e do bem-estar social em que todos hoje vivemos e pretendemos continuar a viver.