Como está a educação no Brasil sob Bolsonaro? Eis um resumo em forma de Tweet: o ministro da Educação do Brasil anunciou em entrevista há três semanas que quer "universidade para poucos" e que crianças com deficiência devem ser excluídas "por atrapalharem a sala de aula".
Como está a saúde no Brasil sob Bolsonaro? Breve síntese: depois de atrasar por penosos meses a aquisição de vacinas dos mais prestigiados laboratórios do mundo, desdenhando da sua eficácia, o ministério da Saúde, encurralado pelo factos, decidiu finalmente comprar imunizantes no início do ano - mas a intermediários de vão de escada que não só não as tinham para vender como ainda negociavam umas comissõezinhas para o pessoal da firma e do ministério ganharem uns milhões por fora com a desgraça alheia.
Como está a cultura no Brasil? Rapidamente: sob a tutela do ministro do Turismo, um vocalista da banda de forró Brucelose, a secretaria de Estado é liderada por um ex-ator da novela juvenil Malhação que foi a Itália participar numa exposição de uma artista ítalo-brasileira que ele, já em Veneza, admitiu não conhecer. O diretor da Fundação Palmares, organismo que defende a cultura negra no país, quer extinguir o Movimento Negro e lista vantagens da escravatura no Brasil. Na Funarte, de apoio às artes, o presidente diz que o rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa o aborto que ativa o satanismo.
Como está a economia no Brasil? Cá vai: o ministro Paulo Guedes, outrora conhecido como "tubarão do mercado" e hoje chamado de "Faria Loser", numa alusão à Avenida Faria Lima, a Wall Street brasileira, lidou em julho com a maior inflação para aquele mês desde 2002; o feijão e o arroz, bases da alimentação dos brasileiros, subiram 42% e 39% num ano; a gasolina subiu a sete reais (no tempo da inábil Dilma Rousseff estava a dois e havia manifestações nas ruas a pedir a sua cabeça), enquanto o gás de botija sofreu aumento de 29% e a luz de incríveis 58%. "Qual é o problema de a energia ficar um pouco mais cara?", perguntou o "Faria Loser". Também relativizou o preço do dólar - a 5,19 reais - porque, no tempo do Lula e da Dilma, "com o dólar baixo, até empregada doméstica já andava viajando para a Disneyworld..."
E os aeroportos, assim como as universidades, já se sabe, devem ser "para poucos" - para os de sempre.
O desempenho do governo Bolsonaro não surpreende ninguém que, como o autor destas linhas, desde 2017 alertava que o deputado representava a doentia intersecção da incompetência com a perversidade. Mas mesmo o autor destas linhas tem de admitir que esse desempenho é pior do que o imaginado - não na Educação, na Saúde, na Cultura ou na Economia mas na Segurança Pública, afinal a única área onde o presidente supostamente era expert.
No entanto, na segunda-feira mais uma cidade brasileira foi alvo do chamado "Novo Cangaço" - dezenas de criminosos armados até aos dentes (porque as armas circulam hoje como nunca) assaltam bancos e fazem dos transeuntes reféns. Desta vez foi Araçatuba, como antes havia sido Criciúma, Cametá, Botucatu, Araraquara, Ourinhos...
"Não espanta", disse ao colunista o professor Rafael Alcadipani, da Fundação Getúlio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. "Porque não tem como dar certo aquilo que tem tudo para dar errado: a articulação no Brasil entre os estados e entre as polícias é uma bagunça completa".
"Nos Estados Unidos, que têm tamanho comparável ao Brasil, há base de DNA e de digitais, aqui, um polícia do Rio Grande do Sul não tem meios para saber se um bilhete de identidade de um cidadão registado em São Paulo é verdadeiro ou falso, as quadrilhas são muito mais organizadas do que o estado brasileiro".
"E o governo fala demais e faz de menos, deixando inclusivamente de lado o plano estrutural de organização que começou a ser feito, este tipo de tragédias, que podem piorar e até alastrar-se, são anunciadas", conclui.
Nem a jogar em casa, a Segurança Pública, Bolsonaro emite um sinalzinho de capacidade. E ainda falta um ano para as próximas eleições.