Bom senso?

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Um destes dias, no jornal da manhã da SIC Notícias, aconteceu um daqueles momentos que são a razão de ser da comunicação social. Entretido com o pequeno-almoço e a leitura do JN, ouvia a TV em surdina. E, de repente, emergiu um discurso simples, afirmativo, sentido. Na altura não abrangi quem era o entrevistado. Com o pivô (Cláudio Bento França) a dar-lhe espaço, ali estava alguém que falava sobre alterações climáticas, agricultura, incêndios e florestas de uma forma acessível, sem chavões, pragmática, com exemplos, sem a prioris ideológicos. Soube, depois, que se tratava de Luís Damas, engenheiro florestal, presidente da Associação dos Produtores Florestais. Juntava ao saber o de experiência feito.

E que disse? Sublinhou, uma e outra vez, a necessidade da diferenciação de políticas, de não tratar tudo por igual: no tempo, nos agentes, na lógica. Há o que não pode esperar (por exemplo, na agricultura, na apicultura e no pastoreio) e, por isso, deve ser descentralizado (os municípios conhecem as prioridades e as pessoas, podem desburocratizar para evitar que o pequeno agricultor desista) e (re)valorizado (antes as aldeias não ardiam porque quem lá vivia, por necessidade - não havia eletricidade nem gás -, limpava a floresta; esses tempos, felizmente, já não voltam, mas é preciso compensar a agricultura, silvicultura e pastoreio pelas externalidades que geram, tornando-as atividades atrativas). Num país em que quase toda a floresta e agricultura é privada, esta falha de mercado é dramática. Ninguém lhes dá esse mérito. "Só se lembram de nós para criticar" e para alijar responsabilidades que são da Proteção Civil.

E há o que deve ser pensado, com o tempo necessário para, de uma vez por todas, desenhar políticas que atendam às diferenças e não mudem ao sabor de maiorias e modas conjunturais, tanto mais perniciosas quanto se trata de atividades com prazos de recuperação de investimento muito longos (quando se vê a floresta arder, em ciclos de 10 anos, quem investe em espécies que só são rentáveis a 30 anos?).

Parece simples bom senso!

Economista e professor universitário

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