Ao contrário do que reza o adágio popular, de Espanha podem vir bons ventos e bons casamentos. Isto mesmo foi reiterado no Fórum Empresarial Luso-Espanhol 2024, que reuniu, na quarta-feira, líderes de empresas de referência dos vizinhos ibéricos..Organizado pela CIP em parceria com a sua congénere espanhola e com o apoio de entidades públicas de ambos os lados, nomeadamente a AICEP, o encontro mostrou que o tecido empresarial ibérico está consciente dos benefícios de um alinhamento estratégico para melhorar a competitividade dos dois países e da própria Europa..Promovido no âmbito da XXXV Cimeira Luso-Espanhola, o Fórum serviu, desde logo, para fortalecer a ideia de que há efetivas vantagens numa cooperação reforçada a nível empresarial. Interessa às empresas dos dois países criarem parcerias virtuosas nos seus setores de atividade, de molde a superar os desafios do mundo e a aproveitar as oportunidades da economia global..Espanha é hoje vista como uma janela de oportunidade pelos empresários portugueses, e não como o mítico “eterno inimigo” que vampiriza as empresas nacionais e controla os nossos setores estratégicos. Sem temores ou complexos, o mercado espanhol está a ser entendido pelos nossos empresários como uma extensão natural do mercado português, potenciando-se assim a contiguidade geográfica, cultural e linguística entre territórios..Torna-se por isso imperioso o aprofundamento da cooperação estratégica entre Portugal e Espanha. Para tanto, é importante que o vizinho ibérico seja de facto considerado como uma prioridade da política externa e da diplomacia económica portuguesa. Ora, o sucesso da Cimeira Luso-Espanhola faz-nos acreditar que as relações transfronteiriças merecem a melhor atenção do nosso Governo. A agenda de trabalhos do Fórum Empresarial era ambiciosa. Em cima da mesa estiveram temas de grande importância estratégica, como a cooperação tecnológico-industrial entre os dois países, o mercado único de energia e a segurança energética, a competitividade global da UE, as relações comerciais com África e América Latina, o posicionamento ibérico num contexto de incerteza geopolítica, a reindustrialização e a indústria de defesa..A cooperação entre Portugal e Espanha é fundamental em todos estes temas, dada a interdependência entre os dois países e a necessidade de ambos ganharem escala, massa crítica e competitividade no plano europeu e global. Hoje mais do que ontem, importa gizar políticas de âmbito ibérico que, por um lado, capacitem os dois países para os grandes desafios contemporâneos (transformação digital, alterações climáticas, transição energética, envelhecimento populacional, pressão migratória, protecionismo e desglobalização....) e, por outro, concorram para o reforço da competitividade global da Europa. Acresce que, numa Europa onde o eixo franco-alemão está em crise e novas forças regionais emergem, como os blocos nórdico e do Leste, o reforço de sinergias entre os países ibéricos é indispensável ao justo equilíbrio geoestratégico na UE. Portugal e Espanha devem constituir uma aliança sólida e reforçarem assim o seu peso político, de modo a influenciar as agendas europeias de acordo com as necessidades, expectativas e aspirações da Península Ibérica. Sobretudo numa altura de grandes batalhas políticas, como a aprovação do orçamento europeu pós-2027 e a inevitável redefinição das políticas de coesão. Não faltam, pois, boas razões para Portugal e Espanha esconjurarem a rivalidade histórica e abraçarem um destino comum..Presidente da CIP