Brainr Software industrial que nasceu na Lusiaves e ambiciona saltar fronteiras

Empresa desenvolveu solução que permite digitalizar as operações dos matadores e processadores de carne, algo que não existia no mercado. Depois de apostar no mercado nacional a startup portuguesa prepara-se para “atacar” Espanha e o centro da Europa.
Brainr surgiu da transformação digital da Lusiaves, empresa do setor avícola. Foto: D.R.
Brainr surgiu da transformação digital da Lusiaves, empresa do setor avícola. Foto: D.R.
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Empresa desenvolveu solução que permite digitalizar as operações dos matadores e processadores de carne, algo que não existia no mercado. Depois de apostar no mercado nacional, a startup portuguesa prepara-se para “atacar” Espanha e o centro da Europa.

A história da Brainr começa nos finais de 2018, início de 2019, quando Paulo Gaspar, na altura chief information officer da Lusiaves teve como tarefa o digitalizar o grupo. Um trabalho hercúleo dado o grupo ser constituído por cerca de 40 empresa e dispor de mais de 250 softwares distintos. Com a agravante de não comunicarem uns com os outros. No caso dos processos corporativos era “fácil” ir ao mercado e comprar a melhor solução, permitindo uma uniformização dos processos. Mas verificou-se um problema. Ao fazer a mesma pesquisa para as operações verificou-se que os softwares existentes ou eram muito antigos ou não cumpriam todos os requisitos que necessitavam ou, ainda, não eram user friendly.

Principalmente no que concerne aos matadouros ou operações de processamento de carne, onde “o chão de fábrica é muito complicado”, explicou ao Dinheiro Vivo Ricardo Roque, head of product marketing da Brainr, referenciado a existência de produtos perecíveis e matérias-primas com prazos de validade muito reduzidos, entre outros fatores que aumentam a complexidade da operação.

Tendo este cenário por base, a decisão de Paulo Gaspar foi a de desenvolver uma solução de raiz. E foi assim que, em 2019, foi criado o projeto que tinha como objetivo digitalizar a empresa, desde a receção de mercadorias à produção e expedição.

Com o tempo, foram adicionadas funcionalidades, aumentando o grau de complexidade. Pelo meio foram cometidos erros, e houve recomeços. “Coisas que se experimentaram e foi necessário reverter”, aponta Ricardo Roque, dando como exemplo as aplicações móveis que de início eram muito lentas. Mas, ultrapassados os contratempos e quando, passados dois anos, se fez uma avaliação às duas implementações, verificou-se que as duas fábricas, “sem ninguém saber, estavam, efetivamente, a desperdiçar muito menos, a ter menos incidentes de qualidade, a produzir de forma mais eficiente e a ter os novos funcionários a produzir mais rapidamente”.

As evidências levaram a que Paulo Amaral decidisse dar um passo em frente. Porque se no grupo Lusiaves era possível ter esses resultados seria possível replicar no mercado. Foi assim que, em 2021, nasceu a Brainr que, no início se chamava “um software espetacular”. Mas só em novembro de 2023, na Web Summit, é que se mostrou a empresa ao mundo. 
Em termos de equipa a empresa começou com quatro pessoas e termina 2024 com cerca de 21, sendo que “a perspetiva para o ano é duplicar” esse número.

Isto, porque a Brainr equaciona, em 2025, iniciar uma nova ronda de investimento de entre cinco a dez milhões de euros - até agora, e segundo Ricardo Roque, o investimento feito ronda um a dois milhões de euros - para “atacar” outros mercados, nomeadamente, e em primeiro lugar, a Espanha, seguindo-se o centro da Europa - Alemanha, Holanda e Escandinávia. Para já a empresa já conseguiu contratualizar dois negócios em África e na Europa do Norte.

Para já, a empresa conta fechar o ano com mais de 730 milhões de euros de produção alimentar a “passarem” pela solução da Brainr, fruto da apresentação da solução em feiras, como a Expoalimenta, no Porto e outras com caráter mais comercial. Por exemplo, no início de 2025 a empresa vai estar presente na Lisbon Food Affair, mas, também, na Fruit Attraction, em Madrid, entre outras. A par disso, este ano arrecadou, em Bilbau, na Food 4 Future, o prémio de melhor solução para digitalização de fábrica e ainda foram selecionados para a Europa top 100 startups. Uma lista para a qual, segundo a organização, as startups foram selecionadas com base na qualidade da sua ideia, na capacidade de execução da sua equipa, no seu mercado-alvo e no seu potencial para gerar receitas e ganhar escala. Na prática, uma lista das “startups europeias mais promissoras”. 

Esta é uma solução de nicho. Uma especificidade que leva a que, refere Ricardo Roque, investidores internacionais estejam a bater à porta da Brainr. O executivo aponta que é uma área tão específica, tão blindada que a venture capital não consegue entrar em investimentos de chão de fábrica. Razão pela qual a Brainr é “tão apetecível”. Já no que concerne aos potenciais clientes quando a Brainr apresenta a sua solução há três tipos de reação: as empresas que já têm alguma coisa e, por isso, acham que já têm a digitalização feita (por isso não querem fazer, para já, novos investimentos): depois há as empresas que estão proactivamente à procura de alguma coisa, mas não conseguem encontrar a solução – segundo Ricardo Roque é aqui que a Brainr pode “atacar” porque tem uma solução que é escalável e pode gerir várias fábricas. A terceira reação é a mais interessante: a das empresas que detetam que é isso que precisam e pedem mais informações e reuniões. Recentemente, aquando de uma apresentação houve uma empresa que questionou se a solução da Brainr poderia gerir 160 fábricas. A resposta teve de ser “não”. Ainda não. Mas é para esse caminho que a Brainr pretende seguir.

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