“Todas as indústrias têm o potencial de beneficiar de um mundo hiperconectado”

“Todas as indústrias têm o potencial de beneficiar de um mundo hiperconectado”

Quais são as características fundamentais do mundo hiperconectado?
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Vivemos num mundo altamente conectado, se não já hiperconectado. Penso que as características fundamentais são o acesso ubíquo a canais de dados, através dos quais se pode aceder a uma vasta gama de diferentes serviços de uma forma muito diferente de como costumávamos aceder há apenas cinco ou dez anos. 

Isso tem sido possível por novas tecnologias e uma das principais é este acesso ubíquo a um canal de dados. Isto permitiu que muitas empresas transformassem a forma como fazem comércio e negócios, mas mais importante ainda como trazem produtos e serviços para o mercado, como escalam de forma global e constroem um ecossistema conectado muito mais sustentável. 

A grande característica do mundo hiperconectado, para mim, é o facto de que não nos damos conta que estamos a usá-lo. Essa é a parte chave. 

Vim para o escritório de comboio, tirei o smartphone do bolso e reservei um bilhete. Se olhar para o que acontece nos bastidores, contacto o operador ferroviário, eles mostram os bilhetes disponíveis e reservo um. Isso conecta-me à rede financeira onde posso pagar por cartão de crédito, e a seguir posso conectar-me com a rede ferroviária e perceber quando é que o comboio vai chegar. 

Através do mundo hiperconectado, tenho acesso a uma variedade de serviços num único sítio. Penso que é esta consolidação que marca o mundo hiperconectado. 

Quais as tecnologias que tornaram este mundo possível? 

A tecnologia celular é claramente aquela em que toda a gente pensa, mas não devemos esquecer outros serviços oferecidos por empresas como a Vodafone, tais como cabos submarinos, cabos de linha fixa e até Wi-Fi, porque estes criam a espinha dorsal da infraestrutura hiperconectada. 

Além disso, a acessibilidade da computação e serviços em nuvem possibilitou este crescimento. Penso que esse é o segundo elemento. E depois o terceiro é a disponibilidade de dispositivos altamente funcionais mas de baixo custo, sejam eles tablets, telemóveis ou dispositivos IoT [Internet das Coisas]. 

O último ponto é que não se trata apenas da tecnologia. Não devemos esquecer-nos de que a padronização tem sido um fator fantástico para o mundo hiperconectado, assim como a regulamentação, a segurança dos dados e a privacidade. 

Tudo isto está ligado à tecnologia que tornou o mundo hiperconectado uma realidade. 

Passam agora cinco anos desde o início da implementação do 5G. Como é que isto modificou a Internet das Coisas e contribuiu para a hiperconectividade?

O 5G fez duas coisas pela IoT. Uma, permitiu-nos aumentar a densidade dos dispositivos dentro da rede, por isso podemos agora ter mais coisas a operar no mesmo espaço. Mas, mais importante que isso, tornou a rede muito mais determinística. 

O que é que quero dizer com isso? Que o 5G traz mais largura de banda e também menor latência. Essas duas coisas juntas permitem-nos fazer coisas numa rede que nunca pudemos fazer antes, em termos de controlo. 

Com 5G, estamos a ver condução autónoma, o advento de máquinas autónomas em diferentes sítios. Muitas redes móveis privadas são 5G e são chave para automatizar coisas como fábricas, centrais petroquímicas, portos, docas e por aí em diante. 

O 5G representa um verdadeiro avanço na integração do IoT no domínio do controlo. A próxima iteração, 5G ‘standalone’, vai impulsionar isto ainda mais, porque permitirá a execução de diferentes fatias de rede com diferentes níveis de qualidade na mesma rede. Esse será o próximo passo para o futuro da IoT. 

É sobre isto que pretende falar na keynote? Vai dar exemplos concretos? 

Será um misto disso. Não vou falar muito sobre a tecnologia, vou falar de como o mundo hiperconectado funciona para os clientes, de como lhes permite fazer as coisas de forma muito mais eficiente e diferente do que antes. Vou dar exemplos de quem usa e para quê. 

O segmento automóvel é claramente um dos que mais está a usar a conectividade, e isso começou por causa de mudanças na regulação, que permitiu que todos os carros tivessem um botão de chamada de emergência. Quando se pressiona esse botão, vai automaticamente ligar aos serviços de emergência em caso de colisão com ativação dos ‘airbags’. O carro torna-se um mecanismo de transporte de ‘media’. Temos internet no carro, o que permite transmitir vídeo para o veículo, temos atualizações de mapas. O próprio carro tornou-se um ambiente hiperconectado num mundo hiperconectado. 

O mesmo é verdade para coisas como dispositivos médicos; conectamos milhões em todo o mundo, para condições que incluem apneia do sono, doenças cardíacas diversas, diabetes e outras. Penso que todas as indústrias têm o potencial de beneficiar de um mundo hiperconectado. 

Muitos dos ‘early adopters’ estão nos sectores automóvel, saúde e até energia, onde estamos a ver redes inteligentes. São mercados habituados à conectividade, mas também vemos a adoção em organizações mais pequenas, porque lhes dá a capacidade de desenvolver produtos rapidamente e de os vender globalmente. 

Quais são os benefícios para as pequenas empresas? 

O mais interessante é que isto tem potencialmente mais valor para uma pequena empresa que para uma grande. Porque as grandes empresas querem atingir uma escala global, operar em mais países que quaisquer outras. Se é uma empresa local, isto traz algo completamente diferente; permite desenvolver e implementar produtos a um custo mais baixo que nunca. 

Penso que há duas formas de olhar para como isto funciona, e claramente não é só para multinacionais. Alguns dos nossos clientes mais interessantes são PME, e posso falar de uma empresa muito pequena, Leaksafe, que vende um mecanismo conectado para prevenir inundações em casa. Vai detetar se houver uma rutura num cano, desligar remotamente o fornecimento de água e avisá-lo sobre o problema pelo telefone. Ora, esta é uma pequena empresa familiar que se tornou parte do mundo hiperconectado e diferencia os seus produtos por estarem conectados.

Qual é o maior desafio que as empresas enfrentam quando querem  usar estas tecnologias para transformar as suas operações?

A digitalização é uma dessas palavras que são frequentemente utilizadas mas raramente compreendidas. Uma das coisas importantes é perceber o que significa para si, porque é um processo bastante complexo. É necessário ter a certeza de que está a digitalizar ou a mudar a forma como faz negócios pelos motivos certos.

Isso varia de empresa para empresa. Algumas podem querer fazê-lo para entrar em novos mercados, outras podem querer reduzir os custos de infraestrutura, migrando os recursos locais para a nuvem. Outras podem fazê-lo porque desejam automatizar as suas operações. Outros ainda podem fazê-lo porque querem ter acesso a diferentes formas de pagamento em diferentes locais.

Portanto, o primeiro desafio é saber o que está a tentar alcançar através da transformação. O segundo é ter margem de manobra para fazer a mudança;  as empresas não têm capacidade parada à espera de se transformar, por isso tem de criar margem adequada. Caso contrário, estes projetos terão sempre recursos insuficientes e, na melhor das hipóteses, levarão mais tempo e custarão mais dinheiro. Na pior das hipóteses, não terão sucesso.

Então, o que tem de fazer é criar essa margem de manobra. E é aqui que entra a Vodafone. Podemos ajudá-lo a criar essa margem para que se possa concentrar no que faz melhor, em vez do que nós fazemos melhor, que é criar essa infraestrutura hiperconectada.

O último ponto é ser prático. Há muita conversa sobre digitalização, mas o que tem de fazer é ter clareza sobre o que quer realmente alcançar e os passos que quer dar para chegar lá. Em muitos casos, a digitalização é um plano grandioso difícil de cumprir. Tem de ser partido em blocos pequenos que são possíveis de fazer, mostrar progresso, mostrar valor e avançar. 

O que diz a quem acha que a hiperconectividade é um jogo para as grandes empresas?

Deem um passo atrás e olhem para como operam. Até uma florista tem uma presença na web. Já lá estão, se calhar aceitam pagamentos móveis. Um construtor pode ser pago ao fim do dia em vez de ter de enviar fatura. 

Sem que saibam, as pessoas já fazem parte do ambiente hiperconectado. O que precisam de fazer é perguntar: o que mais posso fazer com ele? Essa é a questão central a responder, e a melhor maneira é falar com pessoas que fazem disso o seu dia a dia. 

Se olhar para o nosso portfólio de cliente, a vasta maioria são pequenas e média empresas. Já não é um jogo só para as grandes. Agora é acessível a toda a gente.

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