Nos últimos anos falou-se muito dos chamados BRIC. Com esta sigla, juntamos Brasil, Rússia, Índia e China numa só palavra que tem sido sinónimo de histórias de crescimento mundial. Mas se o denominador comum destes quatro países têm sido as altas taxas de crescimento do seu PIB, há muitas diferenças entre cada um deles. Nesta crónica, proponho uma comparação sintética com o caso da América Latina. . Comecemos pela medida mais "justa" de riqueza ou bem estar, que é o PIB per capita. Que não é mais do que o Produto Interno Bruto do país, dividido pelo número de habitantes. A limitação óbvia deste indicador é que não tem em conta como está distribuída essa riqueza (ver gráfico aqui). . A primeira coisa a destacar é que a curva de crescimento do Brasil é idêntica à que teve a América Latina nos últimos 30 anos. Um segundo comentário é que a China tinha um PIB per capita inferior ao da Índia em 1980. Porém, o seu crescimento monumental fez com que hoje tenha um PIB per capita que é praticamente o dobro do da Índia. . Note-se ainda que a aceleração do crescimento na Rússia depois do desmembramento da URSS em 1991 indica que, depois de um período de profunda recessão, desde o ano 2000 começou um ciclo de crescimento fantástico, responsável pelo facto de o PIB per capita russo hoje ser o dobro do da América Latina e do Brasil. . [Nota técnica: Paridade de Poder de Compra é o cálculo que se faz para se perceber que um dólar na Índia vale mais (compra mais coisas) do que nos Estados Unidos.] . Também surpreendentes são os números da despesa pública (em percentagem do PIB) (gráfico aqui) e das exportações (gráfico aqui) destes países. Quanto gasta cada um destes Estados? E qual é a média na América Latina? . Observando os números da despesa, vemos que a intervenção do Estado na economia duplicou no Brasil, desde 1985, e que o mesmo acontece na China desde meados dos anos 70: a despesa do Estado duplicou. Na Índia, o nível tem sido irregular, nos últimos 50 anos. . Uma derradeira questão: quão dependentes são estas economias do chamado sector externo? Ou seja, em que medida dependem estes países das suas exportações? Analisemos agora as exportações. . Aparentemente, cerca de 30% do PIB chinês depende hoje das suas vendas ao exterior. Ainda que isto não deva surpreender ninguém, dá-nos uma ideia de quão sensível é a China a problemas internacionais e do seu interesse em contribuir para qualquer plano de estabilização (recorde-se que Pequim se ofereceu para financiar um programa multimilionário de ajuda à Europa). . Note-se ainda como acelerou a dependência da Índia e da América Latina em relação ao exterior. . Por último, não é estranho que o Brasil seja tão pouco dependente das exportações? O país é um mercado de 190 milhões de habitantes e o seu nível médio de rendimentos permite-lhe manter um mercado interno pujante, que consome cada vez mais. Esta é a maior diferença relativamente às restantes histórias de crescimento: as exportações do Brasil não chegam a representar 15% do seu PIB. . Gestor de ativos . Escreve à segunda-feira . http://www.cartafinanciera.com/