O suposto envolvimento num escândalo de jogo ilegal de Gusttavo Lima, um cantor brega de enorme sucesso no Brasil, e Deolane Bezerra, uma subcelebridade e influencer, trouxe ao noticiário o vício descontrolado em apostas dos brasileiros, incluindo os de menores rendimentos. E, portanto, a sua regulamentação.
Funcionários do ministério das Finanças responsáveis pelo tema já se reuniram 251 vezes com casas de apostas ou associações que as representam para elaboração das regras para o mercado.
Mas, como de acordo com pesquisadores que estudam o vício no jogo, citados pelo jornal Folha de S. Paulo, o cenário atual no país é de “epidemia” de dependência de apostas e os brasileiros que a elas recorrem sofrem de uma “patologia” como outra qualquer, profissionais da área da saúde queixam-se de só terem sido ouvidos em cinco ocasiões de entre essas 251.
Vamos aos números da patologia e da epidemia. Segundo os dados mais recentes, o volume bruto de recursos destinados pela população às empresas do mercado de apostas em 2024 chega, pelo menos, a 249 mil milhões de reais, isto é, 41 mil milhões de euros, de acordo com uma estimativa do Banco Central. O valor supera em 44% as previsões do ministério das Finanças.
Mas o número mais preocupante para o governo é outro: entre os beneficiários do Bolsa Família, programa de auxílio às populações mais carentes, o valor bruto destinado a apostas em agosto foi de três mil milhões de reais [cerca de 500 milhões de euros], isto é, 20% do total pago pelo governo aos inscritos, ou seja, 136 reais dos 684 recebidos por agregado (22 euros dos 114 recebidos).
“O Bolsa Família transfere um dinheiro livre para a família e tem por objetivo combater a fome e atender as necessidades básicas de pessoas em situação de insegurança alimentar e outras vulnerabilidades. Tudo faremos para manter estes objetivos”, disse, em nota, Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Social.
Fernando Haddad, titular das Finanças, admitiu que “os jogos viraram um problema social grave” e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, afirmou que houve “uma piora na inadimplência que poderia ser explicada pela popularidade das bets”.
Para Lula da Silva, tendo em conta o endividamento dos mais pobres com apostas, já não há dúvida de que o setor deve ser regulado. “Estamos percebendo no Brasil o endividamento das pessoas mais pobres tentando ganhar dinheiro, fazendo apostas. É um problema que vamos ter que regular...” E rematou: “senão daqui a pouco vamos ter casinos funcionando dentro das cozinhas de cada casa”.