Brave Generation. Academia de Tim Vieira abre 37 escolas em sete países até final do ano

Projeto de ensino alternativo do "tubarão" da África do Sul já conta com 53 hubs mundiais, onde estudam quase mil alunos e trabalham 143 pessoas. Após quatro milhões de euros investidos, a rede vai crescer. Nos Estados Unidos a meta é abrir 124 espaços até 2024.
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À semelhança de outros grandes negócios, como a Google ou a Disney, também este começou numa garagem: a Tim"s Garage. Em 2019, convicto de que o tempo de construir um novo sistema de ensino tinha chegado, Tim Vieira fundou a Brave Generation Academy (BGA), uma escola onde todos os jovens são bem-vindos - os que "pensam fora da caixa e os que não a têm", inclusive - e a aprendizagem acontece de uma forma "muito mais feliz". O sonho de uma educação sui generis começou a ganhar asas e foi para o Guincho, em Cascais, que voou. "Lá, começámos a fazer pequenas coisas diferentes, mas que produziram um grande impacto na vida dos nossos alunos", começa por contar o tubarão nascido em Joanesburgo, em conversa com o Dinheiro Vivo.

Certificada pela Cambridge School, a BGA destina-se a crianças entre os 12 e os 18 anos, oferecendo um percurso académico de três níveis de ensino, previstos no currículo britânico: Lower Secondary, IGCSE e A-Levels. Nesta escola, o método de ensino desafia tudo o que é tradicional: não há horários fixos, aulas todos os dias ou até mesmo professores na sala. A aprendizagem dá-se através de uma plataforma digital, permanentemente acessível, que permite a cada um dos estudantes adquirir competências e conhecimento ao seu ritmo. Por detrás dela estão os course managers - o equivalente a um professor - que têm à sua responsabilidade definir o conteúdo ensinado em cada uma das cadeiras e elaborar os exames. Do outro lado, e já com uma presença física em campo, apresentam-se os learning coaches (dois por cada 30 crianças), uma espécie de orientadores focados em criar relações com os alunos e acompanhá-los na sua jornada.

Além das cadeiras transversais a qualquer escola, na Brave Generation Academy os alunos começam desde cedo a trabalhar também as digital skills, a fim de estarem mais bem preparados para as exigências de um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico, e a experimentar novas atividades, para descobrirem a sua verdadeira vocação. "Trazemos pessoas de fora para virem ensinar. Convidamos empreendedores, artistas e médicos para as crianças perceberem o que são aquelas profissões e onde está a sua paixão", explica o empresário. Sem qualquer segmentação dentro do hub, todos os estudantes estão "no mesmo barco, não a competir, mas a cooperar".

E porque "todas as coisas boas que acontecem é porque são necessárias", acredita Tim Vieira, muitos são os pais que almejam um trajeto alternativo para os seus filhos, confiando que um futuro melhor os aguarda. O crescimento deste projeto comprova-o: a BGA já tem 53 hubs espalhados pelo mundo, que acolhem quase mil alunos e empregam 142 pessoas. Portugal, a terra onde a ideia rapidamente se tornou num empreendimento visível aos olhos de todos, assume uma quota-parte de 40 escolas, 700 estudantes e 120 colaboradores. Com um mínimo estabelecido de oito alunos para abrir um hub, a Brave Generation Academy "existe onde há crianças que precisam dela", garante Tim Vieira - o interior do país é um exemplo, seguindo-se logo atrás geografias como Namíbia, Moçambique e África do Sul.

"Não sabemos quem poderá vir a ser o próximo Einstein ou Elon Musk, por isso, é nossa responsabilidade nunca dizer não a uma criança", destaca o empreendedor. Assim, e ainda que a mensalidade desta escola aponte para os 485 euros em território nacional, "o preço nunca será um impedimento", porque cerca de 30% das vagas dos hubs, cuja capacidade máxima é de 30 estudantes (logo, nove lugares), podem ser atribuídas por meio de bolsas, financiadas pela própria BGA ou pelos recentes parceiros Sonae e Fundação José Neves. "O estudante escreve-nos uma carta, que vem ter às minhas mãos, e em 48 horas a bolsa é atribuída. Se isso é bom para nós enquanto empresa? Não, estamos a perder. Mas estamos a ganhar muito em impacto", confessa o fundador, para quem "o brilho nos olhos dos pais e das crianças" tudo muda.

A ambição é fazer mais. Segundo o investidor, esta pode ser uma resposta para vários problemas em Portugal, incluindo a falta de professores. Em Inglaterra, por exemplo, a BGA está a ser integrada no sistema educativo. Aqui, o ponto de situação poderia ser o mesmo, não estivessem as conversações com o governo em vias de atraso, face à relevância de um projeto como este - mas "há ainda uma luz ao fundo do túnel" e a expectativa de que avanços possam ser sentidos antes de setembro deste ano.

Para Tim Vieira, o país precisa de acordar e entender que a solução para crescer não está em mais taxas ou bazucas, mas sim em ter as pessoas certas para os trabalhos do futuro: "Se fôssemos mais ágeis e tivéssemos menos burocracia, ganharíamos muito mais." Embora um percurso alternativo na escola do empreendedor ainda não permita o acesso às universidades portuguesas, as portas lá fora estão abertas, não havendo qualquer tipo de entrave ao prosseguimento dos estudos para o ensino superior.

Na mesma medida em que o dinheiro não constitui uma barreira para os jovens que querem frequentar a Brave Generation Academy, os obstáculos que o seu criador tem encontrado parecem não demovê-lo do seu propósito de fazer do mundo um sítio melhor - e cada vez mais são aqueles que se juntam a esta marcha (Escola 42 e Microsoft são exemplos).

Após quatro milhões de euros investidos, o projeto do tubarão da África do Sul vai crescer até ao final do ano, com a abertura de 37 hubs escolares, divididos entre a Índia, Espanha, Maurícias, Tailândia, Portugal, Nova Zelândia e Estados Unidos. Na última localização, as metas anteveem números expressivos, com a inauguração de 124 escolas até 2024. Em Portugal, arranca em breve a BGA Adults School, para promover, em regime pós-laboral, o upskilling de pessoas com mais de 18 anos, com 20 vagas para cada um dos hubs.

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