O crescimento da economia portuguesa em 2022 deve ser superior ao previsto em fevereiro e até mais forte do que diz o cenário macroeconómico do Orçamento do Estado para este ano (OE2022), de acordo com as novas projeções da Comissão Europeia (CE), registando, assim, a retoma mais elevada de toda a União Europeia (UE): cerca de 5,8% em 2022.
A CE acrescenta que a carga da dívida pública também deve ser mais baixa (119,9%) do que diz o governo e confirma o valor do défice inscrito no OE2022 (1,9% no final deste ano).
É mais elevada, mas ainda assim, a inflação portuguesa será a mais leve da Europa, cerca de 4,4%, indica a CE. Ainda assim, bem acima da anterior previsão (de fevereiro) que apontava para uma subida de preços de apenas 2,3%.
Na zona euro, os preços devem aumentar, em média, 6,1%, uma marca que está três vezes acima da meta desejada pelo Banco Central Europeu (2%). Significa, pois, que a pressão para subir taxas de juro é grande e cada vez maior.
Relativamente a Portugal, a CE reafirma que a inflação alta deve ser temporária, "devendo atingir um pico no segundo trimestre deste ano e depois tornar-se gradualmente mais moderada a partir daí [de junho]". Em 2023, a inflação prevista ronda os 1,9%.
Segundo informou esta segunda-feira a CE, nas novas previsões da primavera, Portugal deve crescer 5,8% este ano (mais do que os 5,5% previstos por Bruxelas há três meses ou os 5,3% do outono e do que os 4,9% do cenário do ministro Fernando Medina, no OE2022). Será o país com a retoma mais forte da União. A zona euro e a UE devem recuperar ambas apenas 2,7% em termos reais.
A Comissão também certifica que o défice pode cair para 1,9% do produto interno bruto (PIB) este ano, igual à meta do governo PS e das Finanças na proposta de OE que ainda vai ser votada no Parlamento.
Segundo a CE, o rácio da dívida pública deve descer mais do que diz o governo, podendo baixar até 119,9% do PIB, mais leve portanto do que os 120,7% projetados pelo Ministério das Finanças.
A CE diz ainda que o desemprego pode sair mais favorável do que prevê o governo. Bruxelas aponta para uma taxa de desemprego equivalente a 5,7% da população ativa, abaixo dos 6% do cenário das Finanças para 2022.
Só a criação de emprego é que pode ser mais branda, diz a CE. A previsão para este ano é que o emprego nacional avance 1%. As contas do Terreiro do Paço dizem 1,3%.
Uma das explicações avançadas por Bruxelas é que, por exemplo, "a retoma do turismo estrangeiro deve gerar mais horas de trabalho do que novos empregos".
Portugal é dos menos diretamente afetados pela guerra
O fluxo grande de fundos europeus previsto pare este e os próximos anos e o facto de o País ser dos menos diretamente expostos aos efeitos da guerra da Rússia contra a Ucrânia ajudam a explicar parte deste cenário mais favorável desenhado para Portugal.
Segundo a CE, é verdade que o panorama geral é hoje mais negativo e perigoso por causa do conflito, mas outras coisas parecem compensar.
Na parte do estudo que visa Portugal a Comissão refere que "os riscos para as perspetivas de crescimento passaram para a ser negativos devido à guerra da Rússia contra a Ucrânia".
Mas, "tendo em conta a exposição direta reduzida de Portugal à região afetada, estes riscos são na sua maioria indiretos, resultantes dos preços das matérias primas, da segurança do seu fornecimento e da incerteza na procura global".
O efeito PRR
Os economistas da Comissão observam que "o défice deverá diminuir para 1,9% do PIB em 2022 e para 1% em 2023".
Referem que "por um lado, espera-se que a redução gradual das medidas temporárias tomadas em resposta à pandemia contribua para reduzir o défice, apesar dos possíveis efeitos duradouros no consumo intermédio relacionados com o serviço de saúde e na massa salarial pública".
Para além disso, "Portugal está também a implementar medidas adicionais para mitigar o impacto dos preços elevados da energia em 2022, que incluem uma combinação de alívios fiscais e novos subsídios a empresas e famílias".
No entanto, esta nova previsão "incorpora despesas financiadas por subvenções do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que deverão aumentar gradualmente para 1,3% do PIB em 2022 e 1,6% em 2023".
"Impulsionado pelo PRR, prevê-se que o investimento público acelere para mais de 3% do PIB em 2022, e que se mantenha num nível de nível historicamente elevado em 2023", acredita a CE.
(atualizado 11h10)