
A indústria portuguesa está de volta à Micam, em Milão, naquela que ainda é a feira de referência do calçado em todo o mundo, apesar de estar a perder visitantes e expositores, ao longo dos últimos anos. São 40 as marcas empresas representadas, entre calçado e artigos de pele, mesmo assim mais sete do que na edição de fevereiro. O ambiente recessivo não ajuda a grandes investimentos, sobretudo atendendo a que os apoios à internacionalização continuam atrasados.
O secretário de Estado da Economia visita hoje a delegação portuguesa, no arranque da feira, “para dar um claro sinal de apoio ao setor, à indústria transformadora e à exportação”. João Rui Ferreira diz que “esta é uma indústria relevante para a economia portuguesa, que exporta, que inova, e que tem como objetivo o valor acrescentado dos seus produtos”.
Sobre a conjuntura atual, o governante reconhece que o momento é “desafiante”, mas destaca a “atitude de proatividade, dinamismo e foco nos mercados internacionais” das empresas do setor, o que “dá uma perspetiva de confiança para o futuro”.
Sobre os apoios, nada foi avançado pelo Ministério da Economia, mas o DN/Dinheiro Vivo sabe que a questão será colocada ao secretário de Estado por vários empresários, preocupados com os atrasos e, sobretudo, com a inexistência de uma perspetiva de pagamento. A presença numa feira custa “dezenas de milhares de euros”, o que é “um esforço brutal” para pequenas empresas, sobretudo na atual conjuntura em que “todos os tostões contam”, dizem os empresários.
Exportações em queda
A falta de previsibilidade é o que mais incomoda, atendendo a que todas as despesas têm de ser pagas à cabeça, mas os subsídios não têm data para ser pagos. “Se soubéssemos que nos pagariam seis meses depois, ainda nos podíamos organizar para isso, mas ninguém sabe nunca dizer quando se recebem os apoios”, referem.
Do lado da APICCAPS, foi já submetida a candidatura para o plano de promoção de 2025, que contempla investimentos de dez milhões de euros, envolvendo 100 empresas e 45 ações em 14 mercados distintos. Enquanto aguarda a aprovação deste projeto, vai executando o de 2024, de sete milhões de euros. “Os pagamentos ainda estão um bocadinho atrasados. A nossa expectativa, quando falamos em fevereiro [na anterior edição da feira], era que isso já estaria recuperado, mas ainda não. Mas saiu há dias o novo formulário de reembolsos, e agora está do nosso lado apresentar as despesas e pôr as coisas a funcionar”, diz o diretor-geral da APICCAPS, a associação do calçado. João Maia reconhece que em falta estão todos os pagamentos de 2024, que estima qualquer coisa na ordem dos três milhões de euros.
Apesar da conjuntura negativa, com as exportações a caírem 1,6% em quantidade e 13,77% em valor, num total de 41,5 milhões de pares no valor de 1013 milhões de euros, o setor acredita que há “sinais de retoma” ao nível da confiança dos consumidores, por via do controlo da inflação e da diminuição das taxas de juro, quer permitem antecipar melhores dias. “Achamos que o segundo semestre do ano vai ser já de alguma recuperação, mas 2024 será, seguramente, tal como 2023, um ano difícil para a indústria. Mas temos todas as expectativas que 2025 seja já de crescimento”, afiança, por seu turno, o porta-voz da APPICAPS, Paulo Gonçalves.
Ano de regressos
Apesar das dificuldades, há novas marcas a apostar na feira, como a recém criada a.li.ás que, a reboque do regresso da Saydo, vai apresentar a sua coleção em Milão, pela primeira vez. “Estamos a relançar a Saydo e queremos dar-lhe uma distribuição o mais global possível. As feiras ainda são um veículo com a sua importância e a Micam, apesar de tudo, ainda é a mais importante e recebe gente de todas as latitudes, da Ásia ao Médio Oriente, às Américas. É importante marcar presença”, diz Amílcar Monteiro, responsável do projeto de calçado de senhora do segmento conforto.
Também a Beppi faz o seu regresso, depois de vários anos de ausência. “Começamos a sentir mudanças na Europa e viramo-nos para a América Latina, onde fizemos investimentos fortes, designadamente no México, com grande sucesso. Entretanto, no final de junho recebemos uma proposta da Micam para voltarmos, com um espaço pequeno, mas com uma excelente localização, e decidimos aproveitar a oportunidade”, diz Nuno Maia, ”diretor-geral da Planitoi, que detém a marca Beppi.
Mas também há ausências de peso, como a Centenário, presença habitual em Milão e que este ano decidiu não ir devido ao “decréscimo acentuado, de ano para ano, de visitantes e potenciais compradores” na Micam. A empresa de Cucujães está a direcionar os investimentos para novos mercados, com uma aposta forte no mercado sul-coreano, onde esteve recentemente numa iniciativa da APICCAPS e do qual regressou com boas perspetivas de negócio. Tem já previsto voltar a expor em Seul no início de 2025.