Os dados do 1.º trimestre de 2025 prenunciam uma desaceleração da economia portuguesa. Segundo o INE, o PIB português em cadeia – ou seja, face ao 4.º trimestre de 2024 – retraiu 0,5% em volume, após um crescimento de 1,4% no trimestre anterior. Já a variação homóloga foi de 1,6%, depois de um crescimento de 2,8% no trimestre precedente.Não se pode dizer que estes dados sejam surpreendentes. Antes de mais, porque no último trimestre de 2024 foram tomadas medidas expansionistas excecionais, como o suplemento de pensões e as novas tabelas de retenção na fonte sobre IRS, que aumentaram o rendimento disponível e impulsionaram a procura interna. Como seria de esperar, o consumo caiu significativamente no 1.º trimestre deste ano face ao anterior, sendo certo que este é já, por norma, um período de “aperto do cinto” após as compras de Natal.Depois, e mais determinante, o clima económico que se vive no mundo está a minar a confiança de consumidores e empresas. Já a prever o agudizar da guerra comercial promovida pelos EUA, os agentes económicos reduziram os consumos internos, congelaram os investimentos e aceleram as importações. E se a tensão geopolítica não desanuviar e Trump, passados os 90 dias de tréguas à Europa, avançar com novo aumento das taxas aduaneiras sobre produtos europeus, podemos viver um cenário semelhante no 2.º trimestre, exceto no que respeita às importações.Esta evolução da economia portuguesa era, como disse, expectável e só o ardor eleitoral explica a reação ciclotímica: a oposição tende a dramatizar os dados do INE, enquanto o Governo cessante desvaloriza os números e reitera a previsão de crescimento de 2,4% do PIB para este ano. Creio que nenhuma das partes tem razão. Apenas por esta causa não haverá motivo para alarme em relação à saúde da nossa economia, que continuará a crescer, nem é crível uma expansão tão robusta do PIB como a sugerida por alguns.No meio estará a virtude. Importa desdramatizar os dados do INE, sem iludir as tremendas dificuldades que as economias portuguesa e europeia vão ter de enfrentar em 2025. Com mais ou menos taxas aduaneiras, o ambiente geopolítico e geoeconómico manter-se-á incerto, volátil, complexo. Vamos ter de aprender a conviver com o protecionismo e a instabilidade da economia global e aceitar que as novas regras do jogo exigem do país esforços redobrados, inteligência estratégica e muito sangue-frio.Portugal tem de puxar pelas suas vantagens competitivas. Desde logo, a capacidade de atração de investimento direto estrangeiro, a competente promoção de investimento nacional público e privado, e a correta execução dos investimentos dos fundos europeus(PRR e QCA). Depois, a robustez do nosso mercado de trabalho e as possibilidades de aumento da produtividade, designadamente com mais incorporação de tecnologia e uma melhor integração da força laboral imigrante. Por fim, o potencial tecnocientífico que pode ser mais bem aplicado em empresas, produtos e serviços inovadores, como demonstram os nossos já sete “unicórnios” – o último dos quais, a Tekever, a operar num setor de grande potencial: a indústria de defesa europeia.É desejável que a resposta portuguesa à volatilidade internacional tenha correspondência na Europa, da qual se espera maior coesão interna, um mercado único reforçado e parcerias comerciais com novos países, blocos e mercados. Se a economia nacional beneficiar de um correto enquadramento europeu e de estabilidade governativa no país, é possível ultrapassar incólume o “cabo das tormentas” que se perfila no horizonte de 2025.*Armindo Monteiro é Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal