Apesar da destruição de atividade trazida pela pandemia, os indicadores de saúde financeira das empresas portuguesas terão melhorado no início deste ano, com os capitais próprios dos negócios nacionais ao melhor nível em mais de uma década, representando agora mais de 40% dos ativos empresariais.
O rácio que mede a independência financeira e solvabilidade das empresas terá voltado a melhorar e passado aos 40,1% no primeiro trimestre, de acordo com dados do inquérito trimestral às empresas não financeiras publicados na central de balanços do Banco de Portugal (BdP).
Face a um ano antes, é uma melhoria de nove décimas, observada transversalmente nos setores avaliados, com duas exceções: o setor de transportes e armazenagens, que preserva a mesma baixa autonomia financeira de um ano antes (nos 22,8%), e as holdings de grupos empresariais - sedes sociais - cujo nível de capitais próprios é hoje mais baixo do que no período da chegada da pandemia a Portugal, estando nos 60,4%.
A melhoria no rácio de capitais próprios ocorre a par de uma pequena recuperação na rendibilidade das empresas, após uma queda a pique desde o final de 2019. Os resultados antes de impostos, juros e amortizações sobre o total de ativos em balanço atingiam no primeiro trimestre 6,2%, uma décima mais que no trimestre imediatamente anterior.
Mas, enquanto setores como as indústrias, eletricidade e comércio melhoraram resultados, transportes e serviços - que incorporam as atividades ligadas ao turismo - voltaram a ver cair o indicador significativamente. No setor dos transportes, o rácio de rendibilidade está ao nível mais baixo de toda a série do BdP, nos 6,8%, afundando sete décimas no primeiro trimestre. Já nos serviços, onde entram atividades de alojamento e restauração, o indicador havia melhorado ligeiramente no fim do ano passado, mas voltou a tombar no arranque de 2021, estando no segundo ponto mais baixo de sempre, nos 5,5%.
Os dados não permitem ver com detalhe a evolução naquelas que são as atividades com pior impacto da pandemia, já que os serviços incluem um grande número de atividades, algumas das quais têm crescido com a pandemia.
Mas, outras publicações do BdP permitem ver para lá do retrato global. Nomeadamente, dando conta do aumento da percentagem de empresas com capitais próprios negativos em resultado da atual crise sanitária e económica.
No Boletim Económico de maio, a instituição deu a conhecer um agravamento no quadro de falências técnicas, dando conta de que em 2020 a percentagem de empresas com capitais próprios negativos subiu aos 5% (4% um ano antes). A proporção deverá entretanto subir aos 6% no corrente ano, segunda as simulações avançadas.
O pior embate em termos de liquidez foi, sem surpresa, vivido nas atividades de alojamento e restauração, onde a percentagem de empresas com capitais próprios negativos subiu dos 4% aos 16% no ano passado. Este ano, segundo as simulações do Banco de Portugal, estarão nesta situação mais de um quarto das empresas do setor (26%).
O segundo maior agravamento ocorre nos transportes, com a passagem à situação de falência técnica de mais 2% das empresas do setor, para 7% em 2020. Já neste ano, deverão ser 12%.
O terceiro setor mais penalizado é o das atividades administrativas, de consultoria e serviços de apoio, onde o universo de empresas no vermelho no setor passou dos 4% aos 6%, e deverá atingir 8% este ano.
No comércio, na indústria e noutros serviços também se verifica um quadro ligeiramente agravado, com a percentagem de empresas com capitais próprios negativos a poder chegar aos 5%, 3% e 7%, respetivamente. Já na construção, o peso das falências previstas apresenta-se elevado, nos 8%, mas não mais do que o era antes da chegada da pandemia.
A recuperação da saúde financeira destes setores vai depender da retoma da atividade económica, ameaçada pela quarta vaga da pandemia, e dos apoios pós-moratórias. Passarão, num primeiro momento, pela renegociação de créditos em moratória com suporte de garantias públicas, anunciou o governo nesta semana. E, depois, por medidas de capitalização. Nos setores mais afetados, o Estado compromete-se a acompanhar cada euro colocado pelos empresários nas empresas através de um mecanismo de subvenções.