"O humor é subjetivo", diz o Batman depois de estragar a piada ao Joker no episódio "Uma noite produtiva" da nova série Batwheels. O herói animado, que fala com a voz grave e o tom comicamente sério que lhe é conhecido na versão portuguesa, salva Gotham todos os dias com a ajuda de carros falantes. Há cores vibrantes e ação, mas todos se metem em aventuras que são apropriadas para o consumo de crianças pequenas.
"Batwheels" é a grande aposta do novo canal Cartoonito, que veio substituir o Boomerang na televisão portuguesa. Tem como foco a faixa etária do pré-escolar, dos 2/3 aos 6 anos, e baseia-se na adaptação de muitas personagens clássicas no catálogo da Warner Bros. Discovery, onde se incluem os heróis DC Comics como o Batman.
"A marca já existia em Portugal, como um bloco de programação dentro do canal Boomerang", explica ao Dinheiro Vivo Ana Gonzalez, diretora de Kids da Ibéria, Itália e França.
"A aposta da Warner Bros. Discovery na criação de conteúdos de entretenimento pré-escolar levou à decisão de lançar a marca a nível EMEA [Europa, Oriente Médio e África], nos territórios onde ainda não estava presente, para se tornar no canal de referência para as crianças dos 3 aos 6 anos e as suas famílias."
Ana Gonzalez referiu que este lançamento já estava a ser planeado antes da fusão entre a Warner Bros. e a Discovery, que foi finalizada há um ano. Mas a verdade é que se integra numa reestruturação monumental da empresa e da sua oferta, que não foi isenta de solavancos no primeiro ano. Houve despedimentos, cancelamento de produções e chegou a correr o rumor de que o icónico Cartoon Network ia desaparecer, depois da consolidação do seu departamento de animação com a Warner Bros. Animation.
O rumo da empresa parece agora mais certeiro, depois de uma apresentação de resultados trimestrais em linha com as expectativas dos analistas (receitas de 10,7 mil milhões de dólares, cerca de 9,8 mil milhões de euros) e a passagem do negócio do streaming dos prejuízos aos lucros (50 milhões). Com um catálogo que alberga conteúdos inestimáveis, desde o Bugs Bunny ao Tom & Jerry, Batman e Lego, a intenção é capitalizar nele de forma transversal à audiência.
"Enquanto empresa de entretenimento, é essencial que a WBD ofereça às crianças mais pequenas a mesma proposta de qualidade que oferece ao resto das faixas etárias", refere Ana Gonzalez. "Agora dentro de um contexto da nova empresa, onde oferecemos conteúdos mais diversificados do que nunca, o reforço da oferta infantil nas diferentes faixas etárias encaixa realmente na perfeição."
Esta aposta é interessante porque as crianças pequenas absorvem os conteúdos de forma diferente e também os consomem de forma distinta. Numa altura em que o streaming está a transformar a televisão - e é até um dos motivos pelos quais os argumentistas de Hollywood estão em greve neste momento - as crianças pequenas gostam de tudo, mas são mais passíveis de fazer o tradicional zapping.
"O streaming está a tornar-se cada vez mais relevante, mas a televisão linear continua a ser a referência para as crianças, proporcionando-lhes um tipo de experiência diferente", indica a responsável da Warner Bros. Discovery. Embora ressalvando que as crianças "estão muito presentes em ambos tipos de consumo", Gonzalez destaca características do mercado português que contribuem para a popularidade da televisão tradicional.
"Os dados de consumo linear de canais infantis em Portugal, graças à elevada penetração da televisão por subscrição, continuam a ser excelentes, pelo que estamos muito satisfeitos por reforçar a nossa oferta infantil", resumiu a responsável.
Por outro lado, investir na faixa pré-escolar permite expor as crianças a conteúdos que poderão continuar a consumir à medida que crescem. Quando já não quiserem ver "Batwheels" terão mais desenhos animados sobre as aventuras em Gotham. Quando já não quiserem ver desenhos animados, têm uma coleção de 16 filmes do Batman para se entreterem.
"A empresa sempre se dedicou às crianças, entre outras linhas de negócio, e o que estamos a fazer agora é reforçar a nossa oferta para a faixa etária mais jovem e para as suas famílias", afirmou Ana Gonzalez. "Este é um público muito relevante dentro do consumo infantil, e queremos acompanhá-lo desde o momento em que começa a ter os primeiros contactos com os conteúdos audiovisuais."
O Cartoonito vem complementar o Cartoon Network, a marca da empresa para o público infantojuvenil que é, segundo a diretora, "o canal infantil líder em Portugal no segmento das crianças dos 4 aos 14 anos."
E qual é o racional de negócio deste lançamento? Disponível como canal de TV por subscrição com as operadoras MEO, Vodafone e Nowo, a intenção é estar presente em todas muito em breve. O canal é comercializado pelo departamento de vendas, que oferece tanto campanhas publicitárias convencionais como ações especiais.
Em termos de merchandising, a empresa não tem, pelo menos por enquanto, uma linha específica de produtos derivados do Cartoonito; no entanto, oferece produtos derivados de franchises que fazem parte da marca, como "Tom & Jerry" ou "Looney Tunes".
"Sabemos que o público do Cartoonito é particularmente atrativo para o mercado e estamos a ter uma aceitação muito positiva", frisou Ana Gonzalez.
Além de "Batwheels", que introduz o universo DC às crianças e está a ter "um desempenho muito bom em toda a Europa", o Cartoonito tem outros pilares do catálogo em foco. Gonzalez destaca os já referidos "Tom & Jerry", que caracteriza como "os grandes favoritos das crianças e famílias de todo o mundo", "Mr. Bean", "Grizzy e os Lemingues" e "Lucas, a Aranha."
"O universo Looney Tunes é também fundamental para o Cartoonito, por isso, acreditamos que a estreia da sua mais recente série, "Bugs Bunny: Mãos à Obra!" será uma das estrelas do canal."
A Warner Bros. Discovery está, inclusivamente, aberta à produção de conteúdos desenvolvidos a nível local, desde que se enquadrem dentro das suas prioridades de linha editorial.
Parte dela parece ser a oferta de conteúdos que ilustram a diversidade. O "Batwheels", por exemplo, tem um Robin que não é caucasiano. E há outros aspetos inclusivos nos conteúdos para crianças.
"Sem qualquer dúvida, a WBD está empenhada na diversidade e na inclusão", disse Ana Gonzalez quando questionada sobre o tema. "O Cartoonito é uma marca que tem no seu ADN valores fundamentais como encorajar a criatividade, a curiosidade, a abertura de espírito e a diversidade", continuou. "Queremos inspirar as crianças a compreender as suas emoções e as dos outros, a aceitar e celebrar as diferenças, a tratar os outros com empatia e respeito."