Casa inteligente, smartphone 5G e tudo sem fios. A tecnologia adapta-se à nova era

As tendências tecnológicas para 2021 estão ainda muito ligadas à situação extraordinária provocada pela pandemia de covid.
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A alvorada de um novo ano traz sempre o primeiro e maior evento mundial de eletrónica de consumo, o CES em Las Vegas, e 2021 não foi diferente. Desta vez, no entanto, não houve milhares de pessoas a descerem sobre a capital mundial do entretenimento. A feira foi 100% virtual, mas nem por isso deixou de haver o mesmo fator "uau" que startups e gigantes estabelecidas conquistam com demonstrações ao vivo.

O CES Las Vegas é importante, porque estabelece - ou confirma - as tendências de tecnologia que poderemos esperar para o ano. Nesta edição, assistimos a um grande foco nos dispositivos para tornar a casa inteligente, wearables, televisores de luxo, computadores e seus acessórios. Nenhuma destas categorias é novidade na feira, que sempre foi um palco preferencial para apresentar os últimos gritos em televisores ultra-premium, por exemplo, mas há um foco especial nelas devido ao momento que vivemos.

"Antecipamos que na primeira metade de 2021 não vamos ver uma situação muito diferente da que vemos neste momento. Vai haver um grande receio por parte das pessoas em regressarem aos escritórios", disse ao Dinheiro Vivo o vice-presidente associado da divisão de dispositivos na IDC EMEA, Francisco Jerónimo. Isso significa que continuarão a passar muito tempo em casa e em trabalho remoto, o que influencia o tipo de tecnologias procuradas e aquilo em que as empresas estão a apostar.

"A casa inteligente já entrou na ideia da maior parte das pessoas", diz o especialista, referindo o aumento do interesse por dispositivos como aspiradores robóticos, lâmpadas, tomadas inteligentes e outros aparelhos de controlo da casa que podem ser comandados por voz ou via apps móveis. "As pessoas passaram muito tempo em casa durante este período e fartaram-se de fazer muitas coisas repetidamente todos os dias", explicou. "As máquinas de café, as chaleiras, os micro-ondas inteligentes e outros vão tornar-se mais comuns", acredita, frisando que haverá um maior reconhecimento da sua utilidade e os preços serão razoáveis: "O que as pessoas vão comprar é conveniência."

No CES 2021, foram lançadas várias inovações na área da saúde para usar em casa, como o HealthyU, um pequeno gadget sem fios que faz eletrocardiogramas, muitos televisores ultrafinos, computadores premium, um tablet e um smartphone que enrolam e até o Vertile, um Cadillac voador.

No entanto, o grande foco esteve nas tecnologias para melhorar a vida em casa. Um dos produtos apresentados para isso foi a torneira inteligente U by Moen, que permite dispensar quantidades precisas de água à temperatura exata que for pedida. Outro foi a fechadura BenjiLock By Hampton, que permite trancar e destrancar a porta de casa com impressão digital, sem necessidade de wifi e sem precisar de chave (apesar de permitir o seu uso). Houve ainda vários robôs, como o Bot Handy da Samsung, novos frigoríficos inteligentes LG InstaView Door-in-Door, o primeiro lavatório com inteligência artificial, Handsteco, e a cadeira de massagem Elizabeth Medical, concebida para diminuir o stress e a pressão arterial causados pela pandemia.

"Muitos destes produtos vão ser oferecidos com subscrições, algo que leve ao consumo, como as máquinas de café", indicou Francisco Jerónimo. Por outro lado, categorias que estavam em franca expansão anteriormente, como as câmaras inteligentes, sofreram um revés. "As pessoas estão em casa e não precisam de ir ver online como ela está."

Mais smartphones e escritórios domésticos
Tendo sido 2020 um ano mau para as vendas de smartphones, com quedas que em alguns trimestres chegaram aos dois dígitos, 2021 será o ano da recuperação. A líder mundial Samsung apresentou os seus novos topos de gama Galaxy S21 no último dia de CES, sendo esperada também a entrada de novas marcas chinesas na Europa.

"Vamos assistir a um crescimento das vendas de smartphones, até porque está a haver uma forte aposta e pressão na venda de telefones 5G", diz Francisco Jerónimo. "Vamos assistir a inúmeros lançamentos e fabricantes a lançarem exclusivamente telefones 5G e na média baixa gama", acrescenta, referindo mesmo que haverá modelos a partir de 200 euros.

Nos segmentos premium, é esperada a aceleração da inovação nos telefones desdobráveis. "A tecnologia não está totalmente madura, mas já começa a estar o suficiente para aparecerem mais telefones e a um preço mais interessante", considera. "As pessoas quando começam a usar é que percebem o benefício de ter um aparelho que se dobra e tem um ecrã maior."

Em termos de smartphones, a expectativa é de que as marcas se foquem na melhoria das câmaras frontais, e as características dos novos Galaxy confirmam isso.

"Temos muitos terminais com várias câmaras na parte de trás do telefone, mas vamos assistir a desenvolvimentos fortes nas câmaras duais frontais", antecipa o analista. "Nesta pandemia houve um crescimento substancial dos conteúdos vídeo e vamos passar a ver mais que uma câmara e mais que um sensor na parte da frente, nomeadamente sensores de profundidade." Estes sensores, explica, não servirão só para fotografias e vídeos, mas também para uma série de ações de interação com o telefone.

Outra tendência esperada é a transição para dispositivos sem cabos, que já estão em grande crescimento. "Vamos ver uma forte adoção de carregamento da bateria sem fios, de auscultadores sem fios como os AirPods", explica o responsável da IDC. Os consumidores confinados em casa e inundados de reuniões virtuais estão a aperceber-se das vantagens de ter auscultadores sem fios, que não precisam de se ligar fisicamente ao telemóvel ou ao computador.

A questão da bateria é semelhante, não apenas pela questão dos cabos, mas também pela velocidade. "As baterias não duram mais que um dia e o segredo não está em ter baterias que durem mais tempo, mas em carregá-las de forma mais rápida", explica Jerónimo.

Em termos de computadores, a explosão de vendas em 2020 foi tão intensa que a IDC projeta um abrandamento em 2021, embora continuem a ser tendência. "Quem defendia que os PC estavam mortos e que se estava a assistir a uma mudança para dispositivos mais móveis viu agora que os portáteis continuam a ser um forte dispositivo para a criação de conteúdo."

Trabalho remoto e educação são os grandes impulsionadores do segmento, em que as vendas se concentram na alta gama e elevada capacidade. "Passámos de uma média de 1 a 1,5 computador por família para um por pessoa na família."

Também se antecipam mudanças ao nível do trabalho e, como tal, das tecnologias que as empresas dão aos funcionários remotos e da infraestrutura necessária.

"Em países como Portugal e Espanha, onde havia mais resistência das empresas em deixar que as pessoas trabalhassem a partir de casa, isso vai mudar claramente", diz Francisco Jerónimo. "Toda a infraestrutura que é criada terá de ser repensada."

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