O caso Caixa Geral de Depósitos, que está a ser investigado desde 2016 mas só se tornou conhecido três anos mais tarde, conta com 11 arguidos (sendo cinco pessoas individuais e seis pessoas coletivas), foi tornado público no ano passado, na sequência de uma operação policial em que foram feitas cerca de meia centena de buscas, três das quais a estabelecimentos bancários..Segundo o Ministério Público, o caso sob investigação envolve um grupo "que, entre 2006 e 2009, contratou quatro operações de financiamentos com a CGD, no valor de cerca de 439 milhões de euros", e que terá causado "um prejuízo de quase mil milhões de euros" à Caixa, ao Novo Banco e ao BCP..Joe Berardo foi detido a 29 de junho de 2021, tendo ficado indiciado de oito crimes de burla qualificada, branqueamento de capitais, fraude fiscal qualificada, dois de abuso de confiança qualificada e um de descaminho, pagando uma caução de cinco milhões de euros para sair em liberdade, mas ficando proibido de sair do país sem autorização do tribunal. A par do comendador, também o seu advogado, André Luiz Gomes, foi detido na mesma altura e indiciado pelos mesmos crimes, mais quatro de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais, falsificação de documento e falsidade informática..Em julho de 2019, o tribunal decretou o arresto de dois apartamentos em Lisboa e do Monte Palace, no Funchal (avaliado em 40 milhões), além de 2200 obras de arte do empresário e colecionador, incluindo as 862 expostas no Centro Cultural de Belém e as do jardim Bacalhoa Buddha Eden e Aliança Underground Museum, na sequência de um processo interposto em tribunal pelo Novo Banco, pela Caixa Geral de Depósitos e pelo BCP para recuperarem uma dívida próxima de mil milhões de euros..A decisão de avançar para os tribunais surgiu na sequência de um aumento de capital da Associação Coleção Berardo (ACB), dona das obras, feito à revelia dos bancos, que tinham os títulos desta entidade por garantia - e que diluiu a participação das instituições financeiras na associação, conforme relatou o comendador no Parlamento em maio de 2019..Já neste ano, na sequência de uma auditoria da Inspeção-Geral de Finanças, concluída em 2019, o governo pôs em marcha um processo com vista à extinção da Fundação José Berardo. De acordo com o relatório, citado pela TSF, a Fundação, criada para apoiar os desfavorecidos da Madeira, teria servido "para operações financeiras com risco de mercado elevado" - referência à compra de ações e participações de capital e a empréstimos contraídos. Em 2017, a FJB tinha "980 milhões em dívida, o que agravou o rácio de endividamento para 207%", referia o documento, especificando que, apesar disso, no final desse ano a Fundação tinha 481,8 milhões de ativos líquidos..Nas conclusões da auditoria propunha-se ao governo a retirada do estatuto de utilidade pública, por ser uma IPSS - o que as autoridades madeirenses fizeram -, recomendando-se igualmente a nulidade do acordo mediante o qual Berardo entregou o Monte Palace, no Funchal, para pagamento de uma alegada dívida à Associação de Coleções, também na esfera Berardo..BCP, NB e Caixa são os autores da principal ação, a correr no tribunal de Lisboa, mas há outros processos que opõem instituições financeiras a empresas do universo Berardo. Em abril do ano passado, o Novo Banco avançara já com um processo de execução avaliado em 3,5 milhões de euros contra a Metalgest e a Fundação; meses depois seria o Millennium a interpor nova ação no tribunal do Funchal, também contra a Metalgest, agora no valor de 2,2 milhões de euros..Já em fevereiro deste ano o BCP tornou a avançar em tribunal, na comarca do Funchal, agora interpondo uma ação no valor de 8,2 milhões contra a Associação de Coleções, a Bacalhoa e a Statuschange (para onde teriam sido transferidas várias marcas ligadas ao empresário em 2020).