As mais recentes previsões para o crescimento da economia portuguesa em 2020 são "pouco prováveis" de virem a materializar-se, diz o núcleo de estudos económicos da Universidade Católica de Lisboa (NECEP).
Na sua folha de conjuntura relativa ao terceiro trimestre, os peritos da Católica dizem que "é pouco provável uma queda do produto interno bruto (PIB) limitada aos 6,9% inscritos pelo Governo no Orçamento Suplementar 2020, ou a 8,1% como avançou recentemente [esta terça-feira] o Banco de Portugal, o que parece difícil de conciliar com os dados desde meados de setembro que sugerem a degradação da conjuntura nacional e europeia".
O cenário macroeconómico do OE suplementar foi feito em junho pelo Ministério das Finanças, já sob a tutela de João Leão. O cenário do banco central foi apresentado esta semana pelo novo governador, Mário Centeno.
Contudo, o NECEP está bastante pessimista sobretudo depois de analisar os dados já disponíveis relativos ao terceiro trimestre deste ano, que coincide com o período de maior abertura da economia e de desconfinamento (julho a setembro). "A variação homóloga [do PIB] poderá ter sido de -12,5% no 3º trimestre".
Assim, o núcleo de pesquisas da UCP mantém "o cenário central de contração de 10% do PIB no conjunto do ano de 2020".
Pior: "não é de colocar de parte um cenário de contração próxima dos 12%, em linha com o esperado para Espanha". E também "não é de descartar uma queda de 9% num cenário otimista", que ainda assim, é "mais severo face às expetativas do Governo e do Banco de Portugal", alerta o NECEP.
O núcleo explica porquê. "As perspetivas de recuperação parcial decorrem dos indicadores muito preocupantes relacionados com as exportações".
"Em particular, a atividade do turismo parece estar a menos de metade do que é normal para esta época do ano, quer em número de dormidas, quer na receita gerada na forma de exportações. As fortes restrições impostas às deslocações de pessoas, nomeadamente de importantes mercadores emissores como é o caso do britânico, sustentam a possibilidade de as exportações voltarem a cair mais de 30% em termos homólogos no 3º trimestre."
Além disso, diz novo estudo, "os dados mais recentes de encomendas do exterior de bens produzidos em Portugal são também pouco entusiasmantes".
Há, no entanto, um ponto mais positivo, a indústria, mas que parece não conseguir compensar o descalabro no resto da economia. A produção industrial conheceu "uma saudável recuperação em julho e agosto, aparentemente motivada pelo mercado interno".
"Relativamente a 2021, o NECEP aponta para que a economia portuguesa permaneça cerca de 8% abaixo do nível de 2019, o último ano "normal" antes do confinamento. A confirmar-se uma queda de 10% em 2020, tal corresponderia a um crescimento entre 2,5% e 3% no próximo ano face a 2020, também um pouco aquém do esperado pelas entidades oficiais".
Segundo o NECEP, esta retoma fraca "explica-se pela profundidade da crise instalada e pela elevada incerteza em torno da evolução da pandemia, da economia europeia e da própria natureza da política orçamental no próximo ano, aspetos que poderão ser clarificados nas próximas semanas".
"A celeridade na aplicação dos novos fundos europeus é outra incógnita que poderá protelar para 2022 uma recuperação mais robusta do investimento e do PIB".
À luz de tudo isto, os economistas da Católica avisam que os próximos tempos possam ser complicados, fazendo aumentar o espetro do desemprego, por exemplo.
"A economia portuguesa poderá terminar o último trimestre do ano com uma quebra superior a 5% face ao nível do trimestre homólogo. Tal é consistente com um cenário assente num período de recuperação cíclica relativamente longo que criará dificuldades significativas e prolongadas em termos de desemprego, financiamento e sobrevivência de empresas e instituições."