A economia portuguesa deverá ter registado uma quebra de 0,8% no segundo trimestre face aos primeiros três meses do ano, período marcado por um "crescimento anormalmente elevado de 2,6%", refere o Núcleo de Estudos de Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica Portuguesa, numa nota enviada aos jornais, esta quarta-feira.
Para o ano como um todo, o grupo de economistas prevê um leque de cenários rodeado de incerteza. Num cenário otimista, a economia portuguesa pode crescer 6,4% em termos reais em 2022. Num cenário central, avança 5,2%. Mas num quadro "pessimista", o produto interno bruto (PIB) pode avançar apenas 4%, diz o NECEP.
Na inflação é o inverso, embora o aumento previsto dos preços seja muito elevado e sempre de 7% ou mais.
Num cenário otimista, a inflação portuguesa chega a uma média de 7% este ano. No cenário central, rondará os 7,5%. Num cenário pessimista, pode bater nos 8% este ano.
O governo baseou o Orçamento do Estado para este ano numa previsão de crescimento económico da ordem dos 4,9% e numa inflação de apenas 3,7%.
Ou seja, a projeção da Católica já aponta para uma subida geral dos preços em 2022 que é quase o dobro da assumida por Fernando Medina, o ministro das Finanças, em abril.
Oscilações significativas nos próximos meses
O NECEP observa que "no segundo trimestre do ano, a economia portuguesa poderá ter operado a 100,3% do nível pré pandemia, ou seja, um pouco acima do quarto trimestre de 2019".
"Essa sincronização, em nível, poderá ser semelhante à da generalidade dos países da zona euro, onde a economia poderá ter contraído cerca de 0,5% em cadeia no segundo trimestre", mas "os efeitos combinados da guerra da Ucrânia e da rápida mudança na política monetária, resultante dos riscos de inflação, criaram perspetivas adversas para a generalidade das economias desenvolvidas", diz o gabinete de estudos.
Assim, "a recuperação dos níveis de atividade pré pandémicos é comum nesse âmbito, mas o crescimento económico a partir desse nível afigura-se, agora, bastante difícil e exigente a curto e médio prazo".
O núcleo coordenado pelo professor João Borges de Assunção observa ainda que "a economia portuguesa deverá registar oscilações significativas nos próximos meses, que não deverão ser interpretadas como contrações ou acelerações do crescimento, mas antes como movimentos de ajustamento próprios desta fase pós-pandémica".
"De igual modo, a ocorrência de um episódio de crescimento muito elevado num determinado ano, como previsivelmente ocorrerá este ano, deverá seguir-se uma compensação, pelo menos parcial, na forma de crescimento mais fraco". Daí a estimativa de contração em cadeia no segundo trimestre, por exemplo.
Guerra ainda se nota pouco, turismo em alta
O gabinete de estudos avisa também que "os custos humanos e económicos da guerra da Ucrânia são muito elevados, mas não se notam ainda, de forma inequívoca, nos dados da atividade económica em Portugal".
Por enquanto, "os indicadores de alta frequência sugerem uma rápida melhoria do turismo que poderá alcançar, ou mesmo superar, os níveis pré pandemia durante o verão".
No domínio das contas públicas, o NECEP refere que "o Orçamento do Estado para 2023 é de elaboração bastante complexa, já que poderá coexistir com um cenário macroeconómico de crescimento muito modesto, eventualmente interpretado como um cenário de estagnação combinada com inflação elevada".
Acresce também "o risco de aumento severo do custo do serviço da dívida pública, decorrente da subida, não apenas das taxas de juro diretoras do BCE, mas também dos spreads face à Alemanha".