Católica. País a meio caminho de nova recessão, "ambiente é favorável a novo confinamento severo"

Depois de ter crescido 0,2% em cadeia na reta final de 2020, economia portuguesa deverá ter quebrado 5% neste primeiro trimestre, diz a Católica. Em 2021, deve avançar apenas 1%.
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A economia portuguesa deverá ter registado uma contração significativa de 5% em cadeia (entre o quarto trimestre de 2020 e o primeiro deste ano), o que significa que o País poderá estará a meio caminho de uma nova recessão se a economia sofrer algum novo percalço entre abril e junho, sinaliza o núcleo de estudos económicos (NECEP) da Universidade Católica Portuguesa.

No conjunto do ano 2021, a economia deverá crescer apenas 1%, diz o cenário central destas novas previsões. Uma recessão técnica é definida como dois trimestres seguidos de recuo no produto (PIB).

De acordo com uma nova nota de conjuntura, o NECEP observa que "no 1º trimestre de 2021, a economia portuguesa deverá ter contraído 5% em cadeia ou cerca de 7% na variação homóloga". O primeiro trimestre foi marcado, desde janeiro, pelo segundo grande confinamento de resposta à pandemia covid-19, que só recentemente começou a ser aliviado.

Ainda assim, a Católica diz que o futuro não augura nada de muito bom para a economia. "Na perspetiva do NECEP, o ambiente político, mediático e social é favorável a confinamentos severos caso se vislumbre uma deterioração significativa nos indicadores sanitários diários da pandemia, com o cenário central de crescimento fraco do PIB em 2021 a refletir o valor esperado desse efeito".

O cenário central é o tal crescimento de apenas 1% este ano, mas se houver mais confinamentos duros até final de 2021, a economia pode muito bem cair 2%, calcula o NECEP. O governo, em outubro, previa 5,4%. Mais recentemente, Banco de Portugal (março) e FMI (abril) projetaram 3,9%.

Relativamente a este arranque de ano, o núcleo de economistas reconhece que "existe bastante incerteza neste cálculo dado que alguns indicadores, como a produção industrial ou as vendas de cimento, sugerem quebras relativamente pequenas, enquanto outros, como as operações na rede Multibanco, as vendas de combustíveis ou o volume de negócios nos serviços, apontam para quebras substantivas".

Segundo a nova análise, a forte quebra em cadeia do PIB prevista para este primeiro trimestre (a quebra de 5%) será "a maior de sempre desde que há dados trimestrais e com a exceção do segundo trimestre do ano passado". Será o reflexo "do estado de emergência e do confinamento severo que impediu o regular funcionamento da sociedade".

O NECEP justifica este resultado porque "a economia portuguesa deve ter operado a cerca de 90% do nível do quarto trimestre de 2019, o último período normal antes da pandemia".

"A taxa de desemprego deverá ter subido para 7,3% no 1º trimestre, um aumento relativamente contido, em parte devido à velocidade com que o Governo aplicou medidas de apoio à manutenção do emprego a partir de novembro de 2020 e de forma mais intensa desde janeiro do corrente ano".

O que falta de 2021 ensombrado por fim das moratórias e novos confinamentos

A equipa da Católica refere que "a hipótese de crescimento mais forte não pode ser excluída à partida, dado que o terceiro trimestre do ano passado ilustra bem a possibilidade de uma recuperação rápida quando se aliviam as medidas de confinamento", mas insiste na tecla: "a incerteza das previsões é muito elevada".

Mesmo com a retoma do turismo, há vários alçapões na economia portuguesa que podem engolir o crescimento que venha a existir. O colapso financeiro de famílias e empresas, depois de acabarem as moratórias, a subida do crédito malparado, os despedimentos coletivos que estarão a ser preparados.

"Há ainda um risco de forte deterioração das contas públicas e a necessidade de um orçamento retificativo para 2021. As moratórias públicas e privadas são um risco acrescido significativo sobre a economia portuguesa e o sistema financeiro, notando que correspondem a quase 25% do PIB de 2019", diz o NECEP.

"No curto prazo, as moratórias têm ajudado a mitigar o choque do confinamento ao reduzir as necessidades de tesouraria das empresas, permitindo também aliviar os orçamentos de muitas famílias. Mas a médio prazo podem tornar-se num risco de crédito que pesará no balanço das instituições financeiras e também na despesa pública por via das garantias assumidas pelo Estado."

Assim, "a economia portuguesa permanece num ambiente de elevada incerteza associada à evolução da pandemia, da administração de vacinas e das medidas de confinamento" e as previsões para este ano "dependem, acima de tudo, da severidade das medidas de confinamento adotadas ou ainda a adotar em 2021".

O núcleo recorda ainda que a "disparidade de previsões das diferentes entidades que acompanham a economia portuguesa reflete, também, as diferentes probabilidades associadas à possibilidade de confinamentos severos nos próximos meses".

Na opinião do NECEP, "o ambiente político, mediático e social é favorável a confinamentos severos caso se vislumbre uma deterioração significativa nos indicadores sanitários diários da pandemia, com o cenário central de crescimento fraco do PIB em 2021 a refletir o valor esperado desse efeito".

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